dezembro 31, 2010

Presidenciais - rescaldo dos debates

Antes dos debates poucos conheciam candidatos como Francisco Lopes, Defensor Moura ou Fernando Nobre. Se Alegre e Cavaco eram os mais conhecidos, os outros tiveram nestes debates uma boa oportunidade para se mostrarem ao eleitorado. E se os combates contra Cavaco foram os que geraram mais interesse - porque o actual presidente é, de facto, o grande adversário de todos eles e o super favorito à vitória - os encontros entre os menos conhecidos foram bastante monótonos mas reveladores das características de cada um.
Fernando Nobre apareceu como um homem anti-sistema, que aponta apenas defeitos a tudo o que mexe e para quem a classe política é composta por gente incompetente. Foi este o seu discurso, pelo meio ainda apontou o seu percurso de vida como fascinante e preponderante para o cargo de presidente. Porém, o que revelou foi uma total falta de preparação para liderar um país - não domina muitos temas e não tem, de todo, o dom da palavra. Apesar de ter tido um bom desempenho contra Alegre - sempre apoiado no discurso anti-sistema - Nobre não trouxe, ainda, nada de novo à luta política.
Francisco Lopes está a fazer uma boa campanha. Sólido, domina os temas essenciais e, embora muito preso à doutrina comunista do seu partido, tem conseguido expor com clareza as suas ideias. É o candidato da praxe do PCP, tudo o que diz é conhecido mas não fez figuras tristes nos debates como muitos vaticinaram.
Defensor Moura, o menos conhecido de todos, teve o seu momento com Cavaco e agarrou-o. Enquanto nos outros debates esteve frouxo e não soube dar dinâmica à sua campanha, com o actual presidente Defensor não teve medo de colocar as questões incómodas e de deixar Cavaco furibundo e nervoso. Não servirá de muito para a candidatura de Defensor Moura mas deu um contributo importante para o resto da campanha.
Manuel Alegre teve uma postura surpreendente em todos os debates. O homem da luta e da palavra esteve muito calmo, sereno, revelando uma quase postura de Estado que não é habitual nele. Foi uma estratégia e, no debate com Cavaco - o seu grande adversário - quase não o atacou. No dia 23 de Janeiro veremos se Alegre não vai lamentar esta opção de quase não agressão política.
Cavaco Silva teve um comportamento muito semelhante em todos os debates. Constantemente atacado, relembrou-nos a sua forma de estar na política. Um político que acha que está sempre certo porque se considera um técnico super competente e isento, que não faz nada errado e que quando é confrontado com alguma coisa remete o adversário para o Tribunal Constitucional ou para outro sítio qualquer, dizendo que é tudo insultos ou calúnias. Embaraçado várias vezes, contra Alegre soube ficar por cima no que toca ao Estado Social através do seu esquema de lançar umas bocas para o ar. Serviu porque Alegre não estava virado para o confronto político. E servirá porque, tal como ele pediu aos portugueses, estes não gostam de mudanças e "este não é um tempo para aventuras". Um candidato que considera que estaríamos muito pior se ele não tivesse intervido - como, quando e porquê é algo que nunca saberemos.

dezembro 30, 2010

Debates Presidenciais 2011 - Alegre vs Cavaco


O debate mais esperado foi ganho por Cavaco de forma simples e clara. Contra Alegre, o adversário que mais pugna pelo Estado Social, o actual presidente tentou mostrar por diversas vezes que ele próprio é a favor do Estado Social e que tem feito muito pela manutenção do mesmo - puxou temas como a saúde e a educação. Alegre esteve contido, não soube levar até ao fim alguns temas - como o caso das escutas - e foi vago em muitas respostas sobre questões políticas, não conseguindo contrariar as também vagas e demagógicas declarações de Cavaco. O problema é que vindo da boca de Cavaco é tido como certo. Quem tinha a ideia de Alegre como um homem que pouco fez nos últimos anos e que não vê nele um homem de acção, não foi através do debate que mudou de opinião. Alegre deveria ter sido mais contundente quer no ataque ao adversário, quer na valorização das suas virtudes enquanto presidente. Não o fez e agora precisa de um milagre para ter a hipótese de ir a uma segunda volta. A estratégia de campanha de Alegre não está, nitidamente a funcionar.

Afastar fantasmas


Tenho muitas dúvidas sobre a capacidade de Leonardo vingar como treinador do Inter. Porém, o que ele disse hoje na conferência de imprensa serve para demonstrar que o brasileiro fez, no mínimo, o trabalho de casa. Ou seja, percebeu que era fundamental afastar por completo o fantasma de Mourinho. Elogiando-o com elegância. Bravo, Leo.

dezembro 29, 2010

Debates Presidenciais 2011 - F.Lopes vs Defensor Moura

Outro enorme bocejo. Ambos repetiram o que já disseram noutros debates: Defensor Moura apostou no tema regionalização - sem garra, sem grandes argumentos - mas embrulhou-se em muitas contradições no seu discurso a propósito do Orçamento de 2011; já Francisco Lopes revelou, mais uma vez, que tem o discurso preparado e que é um razoável candidato do PCP para segurar o seu eleitorado. Nada mais a acrescentar.

Debates Presidenciais 2011 - Defensor Moura vs F.Nobre

Um longo bocejo. Pobre, repetitivo, sem grande coisa a acrescentar à campanha a não ser a proposta de Nobre em "abrir o Palácio de Belém aos portugueses um dia todos os meses". Chega para, sequer, chegar aos 10% de votos? Duvido. Nobre falou do passado e da sua postura anti-tudo. Defensor Moura provou que apenas quis entrar na campanha para dizer umas verdades a Cavaco. Fê-lo bem mas agora pode ir descansar.

dezembro 25, 2010

Debates Presidenciais 2011 - Cavaco vs Defensor Moura


Frente-a-frente estiveram o candidato super favorito à vitória nas presidenciais contra um quase desconhecido nacional que se candidatou para, segundo ele, captar alguns votos que os socialistas não querem dar a Alegre, tentando com isso evitar a vitória à primeira volta de Cavaco Silva. Foi, por isso, um debate em que o Defensor de Moura não tinha nada a perder. E a sua estratégia foi bem clara: atacar o máximo possível Cavaco Silva politicamente, tocando em assuntos mais delicados que outros candidatos não terão oportunidade para fazer porque têm mais a perder do que o ex-autarca de Viana do Castelo.
Defensor de Moura invocou o caso BPN, o caso Lusoponte, um alegado desfavorecimento à Câmara de Viana do Castelo. Tudo isto provocou a ira de Cavaco que chegou mesmo a dizer que não respeitava o adversário - "Delors, um socialista respeitado ao contrário de outros", apontando com a mão para Defensor de Moura. Não respondeu às acusações - no caso BPN falou de forma comovente das contas familiares - apenas garantiu que era mentira e chegou a apelidar as palavras do adversário de "larachas e tretas". A frase do debate é aquela em que Cavaco, um homem com um ego enorme e convencido que faz tudo correctamente, diz que "para serem mais honestos do que eu têm que nascer duas vezes".
A forma como Cavaco entende os poderes e a função de um presidente foi bem clara no debate de hoje quando Defensor Moura introduziu a questão da regionalização. O actual presidente confessou que, enquanto chefe de estado, não pode ter uma opinião sobre o assunto porque iria entrar no debate político. Esquece-se é que quando aponta desígnios nacionais uns atrás dos outros está apenas a contribuir para o debate nacional. Então por que é que a regionalização é tabu?
Cavaco terminou evidenciando a sua mente conservadora e pequenina: primeiro dizendo que sempre foi um "presidente acima dos portugueses" (uma espécie de deus da política nacional - e depois dirigiu-se às mulheres que "fazem milagres nas lides da casa". Exemplar.

dezembro 23, 2010

Debates Presidenciais 2011 - Alegre vs F.Nobre

Esperava-se um debate acesso e assim o foi. Nobre encostou Manuel Alegre às cordas e teve o seu melhor desempenho nos debates. Ajudado pelos temas que iam sendo introduzidos pela moderadora, Nobre conseguiu evidenciar bem as contradições no discurso de Alegre, a responsabilidade política que o candidato apoiado pelo PS e BE tem na situação actual do país e, obviamente, passou a imagem de um homem fora do sistema. Parecia Manuel Alegre em 2006. Chegou mesmo a citar poetas, a provocar Alegre com afirmações sobre Sócrates e Louçã e mandar a farpa da noite: eu sou apenas dono do meu voto e não de dez mil, cem mil ou um milhão de votos".
Manuel Alegre optou por não atacar Nobre, numa postura pouco habitual nele, evidenciando algum nervosismo. Ele sabia que este era o debate em que ia ter mais dificuldade em responder à altura dos ataques do adversário porque, de certa forma, não tinha como o fazer. Foi minimizando danos com algumas boas intervenções - orgulho no seu passado, na importância de unir dois partidos que são inconciliáveis, na defesa do Sistema Nacional de Saúde. Mesmo assim, pouco perante Fernando Nobre que fez um debate muito bom.

Inside Job


Obrigatório ir ver.

dezembro 22, 2010

Debates Presidenciais 2011 - F.Lopes vs Cavaco Silva


Francisco Lopes entrou a matar ao mencionar a ligação de Cavaco ao BPN. A partir daí, pensando o presidente que iria ter um debate tranquilo, foi só desespero por parte do candidato da direita. Seria difícil imaginar antes de iniciar o debate que Cavaco teria que recorrer a medidas suas tomadas enquanto primeiro-ministro na década de 80, teria que atacar o adversário afirmando que os portugueses não precisam de extremismos nem de pessoas que repetem sempre as mesmas palavras. Foi assim o debate.
Francisco Lopes insistiu até à exaustão - e bem - nas responsabilidades de Cavaco no Orçamento de Estado de 2011 e sublinhou várias vezes que o actual presidente sucumbiu, juntamente com o Governo, aos mercados e aos especuladores financeiros. Cavaco foi debitando banalidades, assumindo-se como uma pessoa responsável e conhecedora da realidade portuguesa, nunca respondendo concretamente às intervenções do adversário. Nervoso, por vezes até insultuoso ao afirmar que há políticos que falam muito dos mercados mas que não percebem nada do assunto, Cavaco chegou mesmo a dizer que o país não é independente, mas sim interdependente. E é a criatura presidente da República.
Nota final para a jornalista: Cavaco sabe muito o que diz quando se referiu à imprensa suave portuguesa. Nunca respondeu à questão do BPN porque a entrevistadora assim não o quis.

dezembro 21, 2010

Cavaco e PIDE

Nas últimas semanas surgiram notícias e documentos que provam uma ligação de Cavaco à PIDE e ao regime do Estado Novo. Não vamos ser ingénuos: até concedo que Cavaco poderia não gostar em absoluto do regime salazarista mas que Cavaco pouco fez para alterar a situação na altura, disso ninguém pode ter dúvidas. E não vem mal ao mundo uma pessoa não ter lutado como muitos contra o Estado Novo e a sua ditadura. O problema é que o documento revelado mostra-nos mais do que uma simples resignação. Mostra-nos um bufo, uma pessoa execrável. O documento em causa, um formulário pessoal personalizado, pode ser visto aqui.
E para piorar, Cavaco disse não se recordar de ter preenchido ficha na PIDE. Das duas, uma: ou está a mentir ou então está senil. Como diz Joana Lopes, ninguém se esquece de uma coisa destas, e documenta com o seu caso pessoal que a possível desculpa de Cavaco para ter preenchido aquela ficha é falsa: o presidente afirmou que provavelmente teria sido por culpa de ser assistente universitário.
O Cavaco bufo e nojento pode ser lido na última parte do documento, nas "observações", declarando que o sogro vivia um segundo casamento com uma senhora, fornecendo o seu nome completo. O que queria Cavaco com aquilo?
Sobre o tema, ler também textos de Miguel Cardina e Óscar Mascarenhas.

dezembro 19, 2010

Debates Presidenciais 2011 - F.Lopes vs M.Alegre


O debate entre os candidatos apoiados pelos três partidos mais à esquerda do parlamento foi muito desinteressante enquanto debate porque o adversário mais atacado foi...Cavaco Silva, que não estava presente. Apesar do início algo conflituoso nas questões europeias - onde Lopes divagou muito - Lopes e Alegre tiveram um bom aquecimento para os seus debates contra o presidente onde terão que atacar ao máximo se querem ganhar alguns votos dos indecisos.
A nível individual, Lopes teve ontem mais dificuldades em lidar com um adversário político forte já que contra Nobre soube encostá-lo às cordas. Com Alegre foi mais difícil porque o candidato apoiado por PS e BE foi hábil na sua defesa e soube contra-atacar muito bem - "eu escrevi o preâmbulo da Constituição" disse em resposta às constantes declarações de Lopes em defesa dos valores de Abril. Alegre conseguiu livrar-se bem da colagem ao PS e ao Governo e, num debate à esquerda, pode ter ganho algum eleitorado do PCP - que elogiou de forma muito calorosa. Vitória fácil de Alegre mas sem brilho. O que não era necessário.

Debates Presidenciais 2011 - Cavaco vs F.Nobre


O primeiro debate em que Cavaco participou foi altamente favorável à estratégia do actual presidente. Praticamente só se falou de economia e, à defesa, Cavaco foi debitando as banalidades que já nos habituou. Que estaríamos muito pior caso ele não tivesse intervido - nunca disse como -, que acredita em Portugal e nos portugueses. Fernando Nobre, num debate muito importante para si, esteve muito melhor do que na sua estreia televisiva frente a Francisco Lopes mas não foi suficientemente contundente no ataque a Cavaco. Deveria ter encostado à parede o presidente até à exaustão porque é o único candidato que não tem qualquer responsabilidade política nos últimos anos e, se quer ganhar votos no eleitorado de direita, poderia ter ido mais além nas críticas a Cavaco. Mesmo assim, Nobre mostrou-se seguro, teve boas metáforas, como a do médico que não cura o doente e a frase "não se vai para presidente para se ser um vaso de flores", e saiu, a meu ver, vitorioso do debate. Não foi uma goleada mas apenas uma vitória clara contra um adversário que só soube defender e que parecia mais o candidato governamental.

dezembro 17, 2010

Debates Presidenciais 2011 - Alegre vs Defensor Moura

Ao contrário do primeiro debate entre Lopes e Nobre, os dois candidatos oriundos do Partido Socialista protagonizaram um debate morno, quase soporífero. Tudo por culpa de Defensor Moura. O candidato independente tinha aqui uma bela oportunidade para estabelecer diferenças entre os dois mas desperdiçou muito tempo a falar da função de presidente. Poderia e deveria ter atacado muito mais Manuel Alegre, até porque no início do debate declarou, e bem, que se candidata porque considera haver uma parte do eleitorado do PS que não se revê em Alegre porque tem o apoio do Bloco de Esquerda. Ficar durante todo o debate fechado em si mesmo não ajudou, apenas dizendo que o que o separa de Alegre é a vida pessoal de cada um. Já Manuel Alegre não precisou de suar muito, esteve seguro nas suas respostas a Judite de Sousa - raras foram as vezes em que houve confronto entre candidatos - e foi o claro vencedor da noite porque praticamente não teve adversário.

dezembro 15, 2010

Debates Presidenciais 2011 - F.Lopes vs F.Nobre


Ontem realizou-se o primeiro debate. Quem estava à espera de um debate morno enganou-se. Foram 3o minutos intensos, de debate puro, um excelente início desta série de debates entre candidatos. Vamos, então, à análise do debate.
Francisco Lopes, na minha opinião, ganhou o debate. Por duas razões. Em primeiro lugar porque conseguiu pôr Nobre contra as cordas na questão do Orçamento e na ligação às anteriores campanhas políticas, contrariando o discurso demasiado anti-política e anti-sistema de Nobre. A segunda razão prende-se com a arrogância de Nobre. É justo que ele tenha que mencionar o seu passado enquanto presidente da AMI e todo o seu trabalho a esse nível. Mas insistir nisso foi um erro, não conseguindo justificar as suas declarações contraditórias ao longo da pré-campanha, chegando a desvalorizar por completo o trabalho dos partidos políticos. O discurso de Nobre tem dois eixos. O primeiro é a sua experiência de campo em cenários difíceis. O segundo, o discurso anti-sistema e a sua posição supostamente isenta perante o cenário político. Pouco mais tem a oferecer. Pelo meio lançou uma ou outra ideia demagógica - reduzir o número de deputados, apresentando casos à toa não sabendo que em matéria de proporcionalidade entre cidadãos e deputados Portugal apresenta um nível bastante razoável, havendo imensos países com mais deputados por cidadão. Nobre teria muito a ganhar com estes debates. A superioridade que evidencia perante os outros poderá sair-lhe muito cara.
Já Francisco Lopes é um candidato bastante frágil mas é um político. E ontem soube atacar o seu adversário nos pontos fracos daquele, sem nunca atacar pessoalmente, ao contrário de Nobre. Sem grande profundidade, o seu discurso para os trabalhadores era o esperado. Falta saber se perante outros adversários mais habituados a estes debates, Lopes conseguirá impor a sua mensagem. A forma como terminou o debate exigindo o seu minuto foi bem reveladora da sua força de vontade e não teve resposta de Nobre quando perguntou a este se era de esquerda ou direita.

dezembro 14, 2010

Política italiana - um breve resumo dos últimos acontecimentos


Hoje foi mais um dia agitado em Itália. Votou-se uma moção de confiança ao governo no Senado e uma de censura ao executivo de Berlusconi no Parlamento. Se na primeira o voto favorável a Il Cavaliere estava assegurado, durante a última semana houve grande incerteza sobre o resultado da moção de censura. No fim das contas, Berlusconi ganhou por três votos, 314 contra 311. Passou assim um teste difícil. Mas é preciso recuar no tempo e explicar o porquê de tanta confusão.
Berlusconi e o seu partido - Popolo della Libertà (PdL) - ganharam as últimas legislativas em 2008. Para formar governo aliaram-se a Umberto Bossi, líder de um dos partidos mais à direita da Europa, a Lega Nord. Um partido xenófobo e federalista, praticamente com implementação a Norte de Itália -a região mais desenvolvida económica e industrialmente - onde nas últimas eleições regionais em Março deste ano conseguiu eleger dois presidentes de duas regiões, Veneto e Piemonte (em coligação com o PdL). A aliança com a Lega permitiu a Berlusconi ter uma grande maioria quer no Parlamento - 344 deputados em 630, a maior de sempre - quer no Senado (174 em 315). Com a esquerda a sofrer as consequências de um governo de coligação entre 2006 e 2008 que foi um desastre completo, pois continha demasiadas ideologias distintas, Berlusconi adivinhava, assim, um mandato tranquilo e à sua medida. Até que surgiram alguns escândalos.
O alegado envolvimento do chefe do governo em orgias sexuais, em encontros com raparigas menores, o convite a várias mulheres, todas elas sem currículo político mas conhecidas pelos seus atributos físicos, para as listas do PdL para as europeias de 2009, tudo isto foi a gota de água para o seu companheiro de sempre, Gianfranco Fini, presidente do Parlamento e conhecido por reconhecer no fascismo de Mussolini muitas virtudes. Fini, cansado dos escândalos à volta de Berlusconi, não só os sexuais mas as constantes acusações de corrupção que todos os meses enchem as capas dos jornais italianos, Fini, dizia, resolveu romper. E com ele levou vários apoiantes, entre os quais muitos deputados da coligação que sustenta o governo de Berlusconi. Estava, assim, criada a confusão.
No início, Fini e os seus apoiantes resolveram abster-se, permitindo assim ao governo continuar com uma sólida maioria. Mas o confronto entre os dois subiu de tom e Fini foi expulso do PdL. Passado poucas semanas fundou um novo partido, o Futuro e Libertà (FLI) e pediu a demissão de Berlusconi. Os deputados que agora pertenciam ao FLI deixariam de votar de acordo com o Governo e a maioria parlamentar estava em risco. No meio desta confusão toda, os ataques pessoais de parte a parte foram constantes. O presidente Napolitano, um pouco à toa, foi-se mantendo de fora. A esquerda, muito frágil quer no Parlamento quer na sondagens e com um mau resultado nas regionais de Março, resolveu apresentar uma moção de censura - em Itália, ao contrário de Espanha, não existe moção de censura construtiva.
Tudo apontava para a queda do governo na moção votada hoje. Os ataques a Berlusconi surgiam de todo o lado, e a grande acusação é a de que o presidente do conselho italiano governa para si próprio, pensando em escapar aos processos judiciais. Mas nos últimos dias fomos sabendo que Berlusconi e os seus apoiantes fizeram uma operação fortíssima no sentido de convencer alguns deputados a votar contra a moção. Primeiro viraram-se para a Unione di Centro, que conta com 36 deputados, sem sucesso. Tiveram, então, que tentar angariar votos deputado a deputado. E estas manobras resultaram num triste espectáculo hoje no Parlamento. Berlusconi chegou mesmo a abandonar a sala quando discursava Di Pietro, ex-procurador do processo Mãos Limpas, que agora é o líder do partido de esquerda Italia dei Valori. Muitos assobios, muitas injúrias - houve até gestos com o dedo do meio entre deputados - no final Berlusconi "safou-se" por três votos. Dois deles oriundos de duas deputadas que estavam com Fini mas que anunciaram hoje que tinha voltado ao PdL - alguns apoiantes de Fini já vieram dizer que uma delas foi ameaçada com o encerramento de empresas suas. O outro voto foi de um deputado do Partido Democrata, centro-esquerda, que se juntou ao Governo. E houve ainda deputados que pertencem ao partido de Di Pietro - um dos mais ferozes adversários de Berlusconi - que votaram ao lado do governo.
E agora, o que espera Berlusconi? Fini já disse que isto é uma vitória numérica e não política. Bossi, aliado de Berlusconi, não está contente com a situação e, perante as sondagens que lhe são favoráveis, advertiu o governo de que ou arranja uma maioria estável ou então as eleições são o caminho desejado pela Lega. Berlusconi pode, assim, continuar a governar. Por quanto tempo, não se sabe. Mas ninguém duvida de uma coisa: Berlusconi já não tem espaço de manobra para muito e terá que ser rápido na busca de uma solução. Falta saber se perante uma eventual queda do governo o que fará Napolitano, o presidente. Este foi um dos grandes debates ao longo dos últimos meses. Convoca eleições? E se Berlusconi ganha de novo? Convida outro dirigente a chefiar o governo? Mas com que maioria? Um grande dilema político que terá desenvolvimentos nos próximos meses e com grande contestação na rua, principalmente junto dos estudantes.

dezembro 10, 2010

O Americano



"O Americano" serve para confirmar que George Clooney não é apenas o homem jeitoso da Nespresso nem um qualquer playboy de Hollywood. Clooney é, sem sombra de dúvida, uma grande actor. O seu papel no filme majestosamente realizado por Antoin Corbijn revela-nos um actor que consegue compreender na totalidade uma personagem complicada como é Jack, um assassino que quer deixar o seu "trabalho" mas que tem de cumprir uma última missão enquanto é perseguido por outros assassinos devido a um trabalho mal feito anteriormente. Poucos diálogos, paisagens de Abruzzo lindíssimas e uma excelente filmagem do sofrimento e angústia de Jack, com planos fantásticos - as cenas em que prepara meticulosamente as armas são belíssimas.
E depois há Violante Placido, a actriz que dá vida a Clara, uma prostituta italiana por quem Jack se apaixona. Dizer que é soberba é pouco. É muito mais do que isso. Todo o protagonismo se centra nela quando projectada na câmara de Corbijn que escolheu com grande precisão todos os actores para este filme.


Educação - os resultados do PISA


Esta semana soube-se através do relatório do PISA que os alunos portugueses com 15 anos estão melhores do que há cinco anos atrás, que houve um forte evolução na matemática, nas ciências e na literatura, estando os resultados dos alunos portugueses muito próximos da média da OCDE. Aliás, foram os que mais progrediram.

Sócrates, confrontado com óptimas notícias, veio a público manifestar o óbvio contentamento e recolher os merecidos louros. A reforma educativa iniciada em 2005, por muitos defeitos que tenha, teve consequências: o sistema de ensino sofreu sérias mudanças. Agora, chegam os resultados. E são muito bons.

É, portanto, altura de salientar o trabalho da anterior ministra. Maria de Lurdes Rodrigues, uma das ministras mais contestadas desde o 25 de Abril - principalmente e quase em exclusividade pela classe educativa -, tem agora o reconhecimento merecido. Se a reforma do ensino ainda não está completa e tem, na minha opinião, muitas lacunas - a nível de carga horária, as Novas Oportunidades são um erro, entre outras - há que reconhecer que diversas medidas tiverem efeito, como o Plano de Acção para a Matemática, o Plano Nacional de Leitura, a modernização do parque escolar ou a entrega de computadores aos alunos.

Durante os anos do consulado de Lurdes Rodrigues várias foram as vozes que ouvimos contra as suas políticas e reformas. Paulo Guinote, professor que se notabilizou com a luta contra a reforma da carreira docente, comenta desta forma imbecil os resultados do PISA. Ele sabe que o exemplo que deu é falacioso mas, à falta de argumentos para justificar os bons resultados, não teve outra maneira que recorrer à rasteira argumentativa.

Outro grande activista contra Lurdes Rodrigues é Nuno Crato. Mário Crespo, sempre à procura da crítica fácil, escolheu o professor de matemática para entrevistar no dia em que se conheceram os números do PISA. Estava Crespo à espera que Crato o ajudasse na desconstrução dos números de forma a que não estivéssemos perante bons resultados na educação, quando o professor teve que, embora muito contrariado, dizer o óbvio: isto são bons resultados. Evidente que acrescentou que não sabia ainda interpretar muito bem os números mas que em geral são bons resultados. Crespo ficou completamente à nora, via-se que não tinha a entrevista preparada, a não ser numa ridícula chamada de atenção para os números da Áustria, dos quais pediu uma interpretação a Crato. Este, com muita sinceridade, adimitiu que não conhecia a realidade daquele país e que, portanto, não podia explicar ao curioso Crespo quais as razões para os alunos austríacos apresentarem melhores resultados a matemática do que a literatura. À falta de pontos negativos para apontar aos resultados portugueses, o entertainer da SIC e o professor Crato não puderam deixar de salientar o que os números revelaram: Portugal progrediu. A entrevista, como sempre medíocre, pode ser vista aqui.

dezembro 09, 2010

Debates

Começam já para a semana os debates presidenciais. Numa actual pré-campanha muito morna, com pouco destaque nos media, aqueles podem ser a alavanca necessária para uma maior discussão em torno das presidenciais. Para os adversários de Cavaco é uma oportunidade única de mostrarem que não estão nesta campanha a cumprir calendário. Já o actual presidente terá que jogar muito à defesa pois tem muito a perder. Raramente confrontado com contraditório ao longo dos últimos 5 anos, Cavaco terá que se preparar muito bem. Os debates serão decisivos para perceber se haverá algum interesse em acompanhar a campanha ou se serão apenas duas semanas de comícios e de discursos para português ver e ouvir sem grande interesse.
Uma nota final: à semelhança das legislativas, os debates ocorrem fora do período de campanha, alguns a mais de um mês da própria eleição. Um ciclo de debates em plena campanha seria mais favorável aos candidatos da esquerda do que a Cavaco. Quanto ao formato, é o possível e é preferível do que ter os cinco ao mesmo tempo numa mesa. Porém, teremos que aturar alguns debates desinteressantes como o de Francisco Lopes com Defensor Moura.

MEP e MMS


A pouco mais de um mês para as eleições presidenciais, vale a pena perguntar onde andam o MEP e o MMS.
Estes dois partidos, que surgiram praticamente em simultâneo, apostaram muita coisa no ciclo eleitoral de 2009 - europeias, legislativas, autárquicas. Embora distintos, ambos utilizaram fortemente o discurso anti-sistema, convencidos que havia muita gente que andava descontente com os principais partidos e que teriam sérias hipóteses de ter bons resultados eleitorais. Enquanto o MEP teve uma mensagem mais humanista, o MMS apresentou-se ao eleitorado como grande defensor do mérito e da sociedade civil. Com algumas propostas arrojadas e diferentes do habitual, propuseram-se ir à luta, convictos que era o momento certo. O presidente do MEP, que teve uma votação nas europeias razoável, estabeleceu a meta de entrar na Assembleia da República para ganhar notoriedade e, daí a dez anos, estar como o Bloco de Esquerda. Resultados nas legislativas: 25475 votos para o MEP; 16616 para o MMS. Um grande e rotundo fracasso para estes dois novos projectos que, assim, morreram quase à nascença. O PCTP-MRPP teve mais votos que os dois partidos juntos, já para não falar nos votos em branco e nulos, que juntos somaram mais de 177 mil votos.
Em vésperas de mais um acto eleitoral, fui pesquisar quais as actividades destes dois partidos. Do MMS nada se sabe pois o site está "em construção". No site do MEP, que conta com alguma actividade, referência para um seminário que será dado no Porto pelo presidente do partido com a finalidade de abater o défice financeiro do partido. E sobre presidenciais, nada, nicles, zero.
Uma triste história destes dois partidos que investiram muito mas sempre mal.

dezembro 04, 2010

Sá Carneiro

Nasci já Sá Carneiro tinha morrido em Camarate há oito anos atrás. A minha geração, bem como os que nasceram a partir de 1974, não sabem quem foi este herói nacional promovido pela direita na comunicação social. Todos os anos, por esta altura, aparecem sempre as mesmas figuras a palrar o mesmo discurso sobre o ex-primeiro-ministro. Seja na missa, nalguma sessão solene ou no lançamento de um dos vários livros que todos os anos se lançam sobre a criatura, somos obrigados a escutar os elogios a Sá Carneiro, garantindo-nos que, com ele, tudo teria sido diferente. Já chega. Estou farto. Já basta o nome do aeroporto do Porto. Chega para memória colectiva de um político que não fez assim tanto pela democracia portuguesa como anualmente os media e a direita querem fazer pensar.

dezembro 03, 2010

Quem paga a crise

O discurso do "quem paga a crise são os mesmos de sempre" ganhou estes dias mais força. Perante uma proposta do PCP de tentar evitar que as empresas fujam aos impostos no pagamento dos dividendos deste ano, o PS votou contra, com Francisco Assis a mando de Sócrates a exigir aos deputados o voto contra, ameaçando demitir-se. Já a posição do PSD não estranha, votando também contra, provando que há muito mais para além do seu discurso. Mal cheguem ao governo, vai ser cortar a torto e a direito.
E hoje, a questão do salário mínimo. O governo parece que não vai avançar, tal como acordado, com o aumento para 500€ obedecendo aos desígnios empresariais. O PSD deve estar de acordo, os empresários esfregam as mãos e quase 2 milhões de pobres em Portugal continuam a ver os mais ricos a passarem ao lado da crise.
Começa a ser demasiada insensibilidade social por parte dos dois maiores partidos.

dezembro 02, 2010

Mundial 2018


Portugal sabe hoje se vai organizar juntamente com Espanha. As vozes demagógicas que se têm ouvido por aí contra a organização ou não percebem nada de futebol e de Campeonatos do Mundo - e têm memória curta porque este ano houve um na África do Sul - ou então gostam apenas de dizer que não a tudo, ou mesmo são uns nacionalistas da treta, que só por Espanha ter mais estádios do que nós é uma afronta ao nosso país.
Portugal cometeu um erro estratégico ao decidir-se pela organização do Europeu 2004. Quer a nível económico, quer a nível desportivo. Económico porque Portugal é um país pequeno e não tinha infra-estruturas para organizar um evento como aquele - ter que construir 10 estádios foi uma decisão megalómana. A nível desportivo, porque o défice português nesta área não eram estádios enormes e modernos, até porque o futebol é das modalidades mais desenvolvidas no nosso país. Falta tanta coisa noutras modalidades que o investimento no Euro 2004 foi um erro trágico. O mal está feito
Contudo, a co-organização do Mundial 2018 é uma oportunidade única para potenciar o desenvolvimento feito para o 2004, garantindo que o nosso país será o centro das atenções globais durante um mês. Um Mundial o segundo maior evento desportivo do mundo e um país como o nosso só tem uma possibilidade de o organizar: juntamente com Espanha. Os Jogos Olímpicos, o maior evento, é uma utopia para Portugal, nunca poderemos organizar tal evento. Mas esta co-organização é uma decisão política, económica e desportiva acertada. Esperemos que em 2018 possamos ter o Mundial na Península Ibérica.

novembro 30, 2010

Passos ao colo


Desde a eleição de Passos Coelho que os media portugueses vão preparando a coroação do líder do PSD como 1ºministro. Seja a nível de opinion makers - quase todos muito favoráveis à cartilha de Passos - seja no tratamento informativo das notícias que envolvem o PSD e a actividade partidária do seu líder. É normal que assim seja. Nas férias, tivemos aquela famosa capa do Expresso em que Passos preparava o seu discurso no Pontal, já vimos o líder do PSD num "evento" em que consistia na adopção de cães abandonados e agora, na proximidade do Natal, nada como uma boa história comovente de Passos e sua família para que caiam - ambos - no goto do povo português. A fonte da imagem acima é o Diário de Notícias, o jornal que durante os primeiros anos de socratismo foi acusado, e com alguma razão, de ser muito próximo do governo. Agora parece que, para além de se ter convertido ao passismo, converteu-se em Correio da Manhã. A tentativa de colagem de Passos a Cavaco é propositada e surge perto da expectável vitória presidencial esmagadora de Cavaco. Passos tem tudo para ser 1ºministro. Basta não se meter em revisões constitucionais. O apoio mediático populista - à boa maneira cavaquista - já está mais que assegurado.

novembro 29, 2010

Sérgio Godinho


Sérgio Godinho (SG) figura nos meus músicos preferidos, está no top-3 pessoal. Foi dele o meu primeiro disco - "Noites Passadas" - e também um dos meus primeiros concertos a sério - "Godinho no Mundo", no Rivoli. Ontem fui ver "Final de rascunho", um concerto na Culturgest que serviu para apresentar algumas músicas novas que farão parte de um novo álbum. A crónica do concerto está aqui, pelo Nuno Pacheco no Público, como sempre muito boa e fiel ao que se passou em palco.
Não me interessa falar agora mais do concerto em si mas sim da capacidade de SG continuar com o mesmo brilhantismo de sempre. Por que razão SG é um dos poucos músicos da sua geração - quer em idade quer em estilo musical - que continua actual e capaz de ser ouvido pelos mais novos? Para mim, é muito simples: desde o álbum Lupa, SG rodeou-se dos melhores músicos, normalmente jovens, para tornar a sua música mais "fresca". Se a genialidade das letras é a impressão digital de SG e isso nunca se apagará, a roupagem que foi dando às músicas, mesmo às mais antigas, fez com que a sua música não ficasse presa aos sons do último quarto do século XX. Para além disso, SG colaborou muito com novas bandas, como os Clã, o que também o fez perceber em que caminho deveria seguir. No meu entender, escolheu o correcto: todas as músicas continuam a ter a marca SG, é quase único o que ele faz com as palavras, e a música que as acompanha tem uma sonoridade mais actual, não está presa aos habituais instrumentos.
O álbum "Lupa" marca, no meu entender, a viragem no rumo da música de Godinho. "Ligação directa", o último de originais, é o disco da maturidade musical de SG na relação com a nova geração de músicos que o rodeia - os "Assessores" são a banda que acompanha SG desde há uns anos para cá. Entre estes dois álbuns, surgiu o grande "Irmão do meio", em que as músicas bem antigas de SG ganharam nova vida com a presença de convidados de luxo - o disco é tudo duetos - e já com arranjos de, por exemplo, Hélder Gonçalves (Clã) ou Nuno Rafael - sempre incrível nos arranjos, mais uma vez provou-o no concerto de ontem - que foram os produtores do "Lupa".
SG foi suficientemente inteligente para continuar a singrar no panorama musical português. E com frequência. O que é muito difícil.


novembro 25, 2010

Alguém entende Júdice?


Parece que José Miguel Júdice, que passou de apoiante efusivo de Sócrates para detractor do governo PS num abrir e fechar de olhos nos últimos 2 anos, escreveu um livro sobre Sá Carneiro, o D.Sebastião do PSD. Nele, Júdice salienta que Cavaco "destruiu o pensamento estratégico" implantado no partido desde Carneiro. Mas há melhor: " [Cavaco] teve poder e dinheiro a rodos. Se o Estado tivesse emagrecido, se ele tivesse alterado a lei laboral e libertasse a sociedade civil, hoje estaríamos melhor".



Mas esperem lá: não está Júdice na Comissão de Honra da candidatura de Cavaco a Belém?!


novembro 20, 2010

NATO


Mais uma vez, Portugal como mestre de cerimónias safa-se às mil maravilhas. E Sócrates, sabendo o que a casa gasta, faz tudo para ganhar capital político. A presidência da UE portuguesa foi um festival de cimeiras - Brasil, Euro-África e do tratado de Lisboa - e agora isto. As televisões portuguesas festejam porque assim podem preencher os seus noticiários de 1h30m com notícias sobre a NATO, está tudo ali no Parque das Nações e na 2ªcircular, não é preciso andar a percorrer muitos sítios à procura de notícias, como acontece diariamente. Sócrates aparece importante ao lado das maiores figuras políticas do mundo ocidental. Sobre a NATO, pouco se sabe. O que interessa é o carro do Obama, o avião do Obama, a ementa do Obama, e por aí fora. Sobre a cimeira, quase nada. Apenas nalguns jornais - mas quem os lê? - e alguns comentadores falaram sobre o que interessa. O resto, como de costume, foi um festival de coisas inúteis. Sócrates agradece. E rejuvenesce politicamente, mais uma vez.

Filosofia

Uma boa notícia. Mesmo que nós saibamos como são os actuais exames no secundário de todas as disciplinas, não deixa de ser interessante que o ministério volte a olhar para a Filosofia com outros olhos. Num momento em que a escola deixou de ser um espaço para pensar mas sim apenas "para passar por lá" visando o valor estatístico, pode ser que a Filosofia dê um contributo para inverter a situação.

novembro 13, 2010

F1 - antevisão do último GP


O campeonato de 2010 de Fórmula1 que termina amanhã foi um dos mais emocionantes dos últimos anos. O facto de quatro pilotos terem possibilidade amanhã de se sagrarem campeões do mundo é revelador do entusiamante campeonato, motivado em parte pelas mudanças introduzidas na pontuação e nas regras de corrida, principalmente a de impossibilidade de abastecimento durante a corrida.

Alonso, Webber, Vettel e Hamilton são os protagonistas da corrida de amanhã. O primeiro é favorito e vai à frente. Fez uma época regular, à sua imagem: um piloto excepcional, que consegue dar aos seus carros algo que eles não têm - veja-se o caso do colega Massa, um dos maiores fiascos dos últimos anos da F1, que fez um péssima época. Alonso foi conseguindo vários pódios e aproveitando deslizes dos adversários. É com mérito, mas também com polémica a fazer lembrar Barrichelo e Schumacher, que está na pole position para ganhar o seu terceiro título.

Atrás dele, os dois Red Bull. O melhor carro da temporada teve alguns azares, na sua maioria acidentes "estranhos", o que faz com que nenhum dos seus pilotos seja campeão de caras. O título de construtores prova que têm o melhor carro e, este título, é o maior da história desportiva da Red Bull, empresa que nos últimos anos "invadiu" o desporto mundial. Quanto aos pilotos, Vettel fez dez pole positions ao longo da época e mesmo assim não é favorito para o título. Já Webber, que aos 34 anos teve a época da sua vida, mostrou todas as suas qualidades ofensivas na pista e, na minha opinião, o melhor piloto do ano. Por fim, Hamilton. Qualidade não lhe falta. O carro pode não ter ajudado mas chegou a meio do campeonato e claudicou. Uma mão cheia de erros não permitiram ao inglês estar mais perto da luta pelo título, que é uma miragem para ele amanhã em Abu Dhabi.

Assim, amanhã teremos uma corrida emocionante. Pessoalmente, gostava de ver Webber campeão. Mas como teve uma má qualificação - 5ºlugar - a missão é quase impossível. A não ser que o motor de Alonso, o último da época e já usado, ceda e obrigue o espanhol a abandonar.

novembro 08, 2010

Lembra-me um sonho lindo.

Sonhei com isto durante muito tempo.

novembro 02, 2010

O populismo cavaquista


Depois de meses e meses em campanha eleitoral pelo país fora, Cavaco anunciou a sua recandidatura presidencial "depois de muita reflexão". Num discurso auto-elogioso em que tentou mostrar que tem sido um óptimo presidente e que se não fosse ele estaríamos bem pior - gargalhada geral - lançou o sound bite necessário para as reportagens na comunicação social: o presidente, muito preocupado com as finanças do país, não vai ter outdoors e vai gastar apenas metade do que a lei permite. Depressa se multiplicaram as notícias evidenciando o "poupado e rigoroso" candidato, sem realçar que outros já tinham tido idênticas posturas, seja em relação aos cartazes, seja em termos de dinheiro gasto na campanha. Enfim, cada um engole o que quer.

Cavaco, ao optar por este discurso, não engana ninguém: não tem nada a apresentar de novo ao país - basta ouvir os seus apoiantes, que apenas dizem que é um garante de estabilidade - e, por isso, confortavelmente instalado em Belém e com todas as regalias que isso traz, vai mostrando o papel de conscencioso com a situação financeira. Há cinco anos apareceu na campanha como um garante contra a crise económica. Nada de novo portanto.

Ontem, o primeiro episódio da pré-campanha oficial cavaquista. Convocou os jornalistas para a sede de campanha para depois não dar uma única palavra àqueles. Querem melhor prova da esperteza saloia que vinga nas hostes de Cavaco?

novembro 01, 2010

Cinema italiano


"Mine Vaganti" - "Uma família moderna" em português - é um comédia italiana com excelentes pormenores cinematográficos. Não é uma obra de arte mas são duas horas muito bem passadas, com a cidade de Lecce em pano de fundo.

outubro 31, 2010

Novas formas de participação eleitoral - o poder das sondagens

Nos manuais de Ciência Política é usual termos um capítulo dedicado às "novas formas de participação política", referindo-se a boicotes, petições e à utilização da internet, entre outras coisas. No entanto, há que não esquecer a mais poderosa forma de participação política nos dias de hoje, a seguir ao voto: as sondagens. Querem condicionar um governo? Digam o sentido de voto que mais convém ao cenário político desejado.
Esta semana foi perfeitamente evidente o peso das sondagens na actuação do governo. Depois de várias semanas ao ataque, embalados pela confusão no PSD e por sondagens simpáticas, o PS e o governo viram os seus níveis de popularidade baixarem para valores demasiado baixos nos inquéritos à população e os socialistas tiveram que mudar de estratégia: um dia depois de terem rompido as negociações do Orçamento, pensando entalar quer Passos Coelho quer Cavaco, eis que duas sondagens obrigaram Sócrates, Silva Pereira e companhia a declarar que o Governo continuava bastante empenhado nas negociações, com um ar mais calmo e preocupado do que o habitual. Ver um primeiro-ministro ponderado, a anunciar que "se os portugueses querem um acordo, o governo tem a obrigação de lutar por ele" (citação livre), foi comovente. Que as sondagens são poderosas, não é novidade. Exemplos destes, com tão forte dimensão, é que não há todos os dias. Greve geral? Participar numa sondagem e dizerem-se eleitores do PSD - mesmo que votando Bloco ou CDS - é capaz de ter mais efeito neste governo.

outubro 23, 2010

Representação parlamentar

Um dos discursos mais repetidos pelos cidadãos nos fóruns ou mesmo nos barómetros de opinião é a insatisfação dos eleitores com os deputados, fazendo uma péssima avaliação do Parlamento. Se por um lado esta crítica é injusta porque o cidadão comum não sabe e não conhece o verdadeiro trabalho de um deputado - cada vez mais se tem feito um esforço para conhecer o verdadeiro trabalho do deputado, por parte da imprensa -, por outro lado surgem casos, cada vez menos pontuais, que nos levam a um dos problemas da democracia portuguesa: a representação parlamentar.
O facto de não podermos escolher os nossos deputados directamente faz com que os próprios se sintam "propriedade" do partido e não do eleitor. Nas últimas semanas vimos o caso de Fernando Rosas e de Agostinho Branquinho, eleitos há um ano para o Parlamento, que decidiram suspender o mandato por razões diversas. O caso mais gritante foi ainda o de Deus Pinheiro que nunca se chegou a sentar na Assembleia - já para nem mencionar o de Alberto João Jardim. Isto só para falar de abandonos. Outros casos remetem-me para declarações absurdas como a de um deputado do PS queixando-se que, com os cortes salariais, não iria ter dinheiro ao fim do mês, nem para comer. Ou o caso da deputado comunista Luísa Mesquita que foi obrigada a abandonar o cargo pelo partido. Isto só para citar alguns casos mediáticos - outros semelhantes existem.
Então o que fazer para responsabilizar mais o deputado que é eleito para a Assembleia? Desde logo mexer na lei eleitoral. Ao se ler estas linhas pensa-se em círculos uninominais. Na minha opinião, não são nem fundamentais nem desejáveis para alterar o actual sistema. Criaria uma sub-representação dos pequenos partidos, dando demasiado poder aos dois maiores. Solução? O voto preferencial é uma delas. Há estudos para o caso português mas, como sabemos, os grandes partidos e também os outros, não querem alterar o status quo porque os beneficia a todos de várias formas. Os grandes porque continuam a poder mandar nos seus homens como querem. Os pequenos porque o método de Hondt praticado em Portugal é benéfico para a sua representação parlamentar num número considerável.
Esta é uma das questões que eu gostaria de ver ser debatida na campanha eleitoral presidencial.

outubro 22, 2010

Vítor Baía


As declarações polémicas de Baía a uns miúdos de uma escola qualquer no Porto mostram bem que o antigo guarda-redes nunca poderá ser um bom presidente do FCPorto. Nem está realmente em causa o que ele disse - também está mas já lá vou. A forma descontraída com que tem tecido considerações sobre o clube e o futebol português, o conteúdo vazio e meramente opinativo do seu discurso mostram um homem sem carácter forte para alguma vez liderar um projecto como aqueles a que se "propõe". Uma escolinha de jogadores ou as actividades da sua fundação são já um trabalho muito exigente para Baía. Presidir a um clube - que não é só futebol -, uma tarefa hercúlea.

Vamos então às declarações. Que os profissionais do FCPorto que têm grande sucesso não são reconhecidos da mesma forma que os dos outros clubes, é uma verdade. Porém, Baía não disse só isso. Disse que o clube era muito fechado e que perdeu uma grande oportunidade para se abrir ao mundo depois das conquistas europeias de 2003 e 2004. A crítica até pode ser legítima mas eu pergunto: que trabalho se reconhece a Vítor Baía como director das relações externas do clube? Por que é que nunca explicou a sua saída do cargo? Poderá o ex-guarda-redes confirmar que se tratou de uma simples birra por não ter tido um cargo mais importante na estrutura do clube? E questiono ainda: o FCPorto de 1989, dois anos depois de ter sido pela primeira vez campeão europeu e quando Baía começou a jogar pelo clube, é igual ao FCPorto de 2007, quando Baía o abandonou como jogador? Não me parece.

Vítor Baía deve TUDO ao clube. Por isso, e apesar de não estar invalidado de fazer qualquer crítica, tem que reconhecer que, por um lado, se tivesse sido jogador do Benfica ou do Sporting, nunca teria tido o mesmo sucesso; por outro, já teve responsabilidades no clube. Muitos poderão dizer que o cargo de Baía era folclórico - então porque é que o aceitou?

Antes de terminar, duas notas. Em primeiro lugar, dizer que o FCPorto tem ainda muitos defeitos. Que não serão, com certeza, a falta de abertura ao mundo ou mesmo a integração no clube das antigas glórias, outra das críticas de Baía. Baste ver as equipas técnicas dos diversos plantéis das camadas jovens nos últimos 15 anos para se encontrarem nelas muitos antigos jogadores, ao lado de profissionais competentes vindos do exterior. Um dos defeitos do clube será, porventura, a política de contratação de jogadores e todo o esquema à volta disso. Mas com isto Baía está plenamente de acordo.

Segundo, Baía é um dos melhores jogadores de sempre do clube, o melhor guarda-redes português de sempre e, por isso, um ídolo para mim. Mas dentro dos relvados. Fora deles, um desastre.

RTP memória

Porque o maradona é um grade sacana e apaga todos os seus textos, é melhor reproduzir este todo aqui mesmo. É sobre a RTP Memória e é de leitura obrigatória. Voilá:
"A RTP Memória poderia ser o melhor canal de televisão de Portugal do mundo de sempre. Todavia contudo ao invés e por enquanto, é o pior, de longe. Hoje, dia 21 de Outubro, as espinais medulas que comandam o fluxo ondulatório que de lá emana oferece-nos séries históricas que só nos arquivos da RTP se encontram vestigios, como o Poirot, os Soldados da Fortuna, o virgem MacGyver ou os Jogos sem Fronteiras de 1990; e quando o problema não é as lembranças não serem particulares à RTP Memória, o simples racionamento do gosto pelos vários escalões culturais desaconselharia que, num mesmo dia, optassem pelo Nico d'Obra, Na Paz dos Anjos (uma novela do Nicolau Breyner), o Sétimo Direito (sitcom do Henrique Santana), Grande Aposta (outra novela de outro ser humano) e uma programa de invariadades musicais chamado Musica não sei quê com o Marco Paulo. Acresce a isto que a produção própria do canal dá tempo de antena ao Eládio Clímaco, à Helena Ramos ou à Isabel Angelino, desbravando assim terreno no campo da ironia dos despedimentos colectivos, muito embora revele criatividade ao nivel das chefias no sentido de arranjar novas estratégias para informar determinados funcionários de que estão ali contra a vontade das cúpulas; e só se subtrai a esta hecatombe homérica o fatídico Horizontes da Memória e uma coisa chamada "Retrospectivas". Repare-se, todavia contudo ao invés, na descrição deste "Retrospectivas":

Espaço de memórias sobre o País e o Mundo numa retrospectiva de cinco décadas. Cada programa relembra acontecimentos ocorridos no mês em questão, nos anos de 1960, 1970, 1980, 1990, e 2000. Pretende-se reviver acontecimentos que foram notícia, a nível nacional e internacional, com as imagens que fazem parte do património da Rádio e Televisão de Portugal.

Mas não estamos num canal de, e passo a citar, "memória"? Então, e num canal que visa explorar a memória colectiva portuguesa, vamos criar um espaço exclusivamente dedicado a recuperar os acontecimentos de há décadas e décadas atrás, que partilhem apenas o facto de terem ficado registados nas bobines da RTP? Não estarão a esticar um bocadinho demais um conceito? Qualquer dia descaractrizam por completo a ideia que presidiu à criação da RTP Memória. É como se, de hoje para amanhã, o Canal Benfica criasse um espaço na sua programação exclusivamente dedicado a falar de assuntos relativos ao Benfica.

A dinâmica da RTP Memória ultrapassa-me. Por um lado, dão-se ao trabalho de editar milhares de horas de telejornais separados por décadas para os reunir em pequenas secções de 10 minutos, conseguindo assim, e recorrendo apenas a um conceito, empregar muitas pessoas durante muito tempo e extrair qualquer particula de interesse de conjunto (falo do famoso contexto) ao propósito de exibir noticiários antigos. Por outro, evitam cuidadosamente tudo o que é verdadeiramente história colectiva (onde estão as reposições dos grandes debates políticos nacionais?, e as grandes entrevistas a figuras públicas? e as grandes reportagens que, de vez em quando, se faziam?, e as outras merdas também grandes? e as coisas mais pequeninas, como os documentários do Brandão Lucas para o Totobola? e o gajo que ensinava química?), e centram-se em reptições naseabundas de series de ficção nacionais grotescas, ou estrangeiras, que não sendo todas elas grotescas, ou passam todos os dias nos canais cabo estrangeiros, ou estão à venda em DVD pela semiótica quantia de 1 euro cada centena de episódios.

Era tão fácil ser muito melhor que isto. E uma boa oportunidade de escapar à acusação de elitismo: eu sou a única pessoa sem um mestrado ou doutoramento que se interesa pelo que a RTP Memória poderia ser e não é; se a re-elitizassem ao ponto de o eduardo prado coelho ressuscitar para assitir à programação, a minha boca não se abriria a não ser para despejar mais uma colher de gelado de baunilha do pingo Doce pela goela abaixo."

outubro 21, 2010

Anedota


Reparem. Um deputado do PSD, que diz estar a mando da direcção do seu partido, vem pedir que Pedro Silva Pereira se cale, acusando-o de ser um "megafone do PS". O deputado, que nem merece ser nomeado aqui, justifica-se dizendo que o "ruído é mau conselheiro". Ou seja, convoca uma conferência de imprensa, a mando do partido, criando apenas ruido, para acusar o adversário de fazer aquilo que o próprio partido também faz. Uma anedota.

outubro 20, 2010

SCUT's (2)

Dois casos que mostram bem porque é que a introdução de portagens nas SCUT's é dos processos mais idiotas dos últimos anos.
1- Uma reportagem da RTP na zona de Gaia. Conheço bem já que vivo ali mesmo e o caso apresentado é verdadeiro. Um sistema ridículo que cria situações destas mostra bem a falta de jeito deste governo e do Estado e também o descaramento com que se criam estes modelos apenas para saciar a boca gulosa do Estado em tempo de crise, sem pensar primeiro nas pessoas.
2- As SCUT's vistas de Espanha. Palavras para quê?

O Mar em Casablanca


Jaime Ramos é um dos meus personagens preferidos. Apesar de não ser, no meu entender, o melhor romance de Francisco José Viegas - de quem eu gosto muito, principalmente como escritor e portista - O Mar em Casablanca é um bom livro, com personagens intrigantes e, como sempre, um belo cenário de fundo a acompanhar a história. E depois há Jaime Ramos.

Passos errados


Os tempos de crise não são apenas negativos para o governo. A oposição - principalmente aquela que tem que parecer mais responsável perante os eleitores - vive dias de angústia, sem saber o que fazer, não sabendo como actuar de forma a não perder terreno eleitoral. Passos Coelho, que só não será primeiro-ministro se não quiser, comete erro atrás de erro, quando há seis meses tudo parecia encaminhado para o PSD chegar ao poder depois de umas calmas e irrelevantes presidenciais. Rodeado de pessoas fraquíssimas, a exaltação do "passismo" na festa do Pontal serviu para alertar alguns portugueses do que aí virá.

Isso e mais a história da revisão constitucional afundaram as expectativas de maioria absoluta, ou mesmo de uma simples maioria laranja. E se as coisas já estavam más, pior ficaram quando o PSD, perante um governo frágil e a tomar medidas impopulares - apesar da concordância laranja na forma - decide continuar a errar. O tabu do Orçamento é de tal forma bizarro que Passos Coelho terá que escolher não o que convém mais ao PSD mas sim o que convém menos mal. Se ajuda a aprovar, volta a estar ligado à política do governo e ao seu prevísivel falhanço. Se não aprova, contrariando os seus gurus na Europa já que a Comissão e a Alemanha são dois exemplos muito queridos ao PSD e que exigem a aprovação do Orçamento, senão aprovar, dizia, fica ligado a uma das mais graves crises políticas nacionais por causa de uma birra incompreensível aos olhos do seu eleitorado natural. Sim, porque este PSD desde que se lançou na batalha constitucional parece não perceber que precisa imenso do seu eleitorado base que está a léguas à esquerda dos actuais donos da São Caetano. Pensar que em Portugal há um eleitorado liberal, ou perto disso, é não conhecer o país.

E, no meio disto tudo, há as presidenciais. Ou Cavaco tem a certeza da aprovação do Orçamento para começar a sua campanha oficial - a oficiosa está em marcha desde Maio - ou então deve estar farto do líder laranja. Passos Coelho não parece importado, o que não é condenável, visto que o actual presidente tem a sua quota parte de responsabilidade na crise que se vive.

Parece que, depois de reunido, o PSD vai propor algumas condições, depois de semanas em que andou apenas a berrar para a comunicação social. A flexibilidade do governo em negociar parece pouca mas é um sinal que pode haver abstenção do PSD.

O actual governo tem governado mal. Mas este PSD não está preparado para ser poder.

outubro 17, 2010

A crise e as manifestações

A crise acentua-se, já se conhece o Orçamento e a sua cruzada contra os que menos têm, a greve geral já está marcada - muito longe no tempo, mesmo assim. Que podem os portugueses fazer, aqueles que não se deixam contaminar pelo discurso dominante nos mass media de que tudo isto é inevitável e que tem que se apertar o cinto e que uma greve geral é uma ideia que vai prejudicar o país, que fazer, dizia, perante tudo isto?
Em primeiro lugar, aprender com França. O que se está a passar no hexágono deve ser exemplo para os nossos líder sindicais. A propósito disto, ler os excelentes textos de Miguel Serras Pereira e de Joana Lopes. Em segundo lugar, lembrar que já foi possível vergar este governo. Seja no caso das maternidades, seja quando houve o bloqueio dos camionistas. As pessoas não podem nem devem olhar para a greve geral como uma formalidade dos sindicatos, apesar de todos os seus defeitos. A greve geral é a melhor e mais forte oportunidade de fazer perceber ao governo que está no caminho errado.

outubro 14, 2010

Entrevista na Judite

O país atravessa uma grave crise económica, social, financeira, política e por aí adiante. E quem é que Judite de Sousa entrevista no seu programa semanal? Paulo Bento, está claro. E a semana passada foi o grande Bettencourt. É por estas e por outras - a má condução de entrevistas - que eu não ligo nenhuma às conversas na Judite.

outubro 13, 2010

PCP e a China


A posição que o PCP tomou em relação ao prémio Nobel da Paz atribuído a um activista chinês não escandaliza ninguém. Só pessoas alheadas da realidade poderiam supor que o PCP viesse sair em defesa de Liu Xiaobo. Porém, a permanência das afinidades políticas entre o partido português e o regime chinês são, a meu ver, completamente aberrantes. Desde logo porque no regime totalitário chinês vigoram inúmeras coisas contra as quais o PCP luta, dizem eles, todos os dias em Portugal. Da liberdade de expressão ao capitalismo, passando pela opressão sobre os trabalhadores e pela ausência de eleições livres e pluripartidárias, a República Popular da China, para além de ter pouca coisa de comunista, caminha a passos largos para ser a próxima potência económica, política e militar do mundo - superando o inimigo do PCP, Estados Unidos. Basta perceber a sua importância no Conselho de Segurança na ONU ou a sua influência em vários países, principalmente africanos, para vermos neste país um inimigo da doutrina do PCP. Mas isto, juntamente com a outra afinidade asiática - Coreia do Norte - serve para ficarmos muito bem elucidados sobre o que aquelas criaturas pensam e desejam.

outubro 12, 2010

Moto GP


As inovações tecnológicas e regulamentares que a meio da última década atingiram o campeonato do mundo de motociclismo retiram às corridas mais de metade do espectáculo. Apenas as vibrantes corridas de 125cc continuam a valer a pena, apesar da natural inexperiência dos pilotos. Valentino Rossi, o homem que mais ganhou nos último tempos, não tem culpa das mudanças: continuou a ganhar porque é o melhor, de longe, mesmo passando para uma fraquíssima Yamaha, agora uma potência devido ao italiano.

Esta época o campeão chama-se Lorenzo, um convencido espanhol que tem a mania que é cool e que consegue ser tão ou mais espectacular que Rossi. Não o é, toda a gente o sabe, até o próprio. Este ano teve toda a fortuna do seu lado e, aproveitando lesões de Rossi e Pedrosa e a péssima prestação da Ducati de Stoner, foi um fácil campeão. Tal como Crivillé, o outro espanhol campeão do mundo, que apenas conseguiu ser campeão quando Doohan caiu no início da época e partiu uma perna. Depois de muitas tentativas, Crivillé ganhou o título à frente do estreante na categora rainha...Valentino Rossi. Para o ano, o italiano correrá com uma Ducati. A tarefa não será fácil. E Lorenzo, goste-se ou não, tem uma mota a um nível elevado. E ainda há Pedrosa que, finalmente, fez uma boa segunda metade do campeonato.

outubro 07, 2010

Vargas Llosa


Só li este dele e é um dos meus preferidos, um extraordinário retrato da cruel ditadura de Trujillo na República Dominicana. Segue-se "A tia Júlia e o escrevedor" que já estava na cabeceira, à espera no meio de mais dois ou três livros. Vai passá-los à frente, obviamente.

outubro 06, 2010

Viva a República


Tenho lido, visto e ouvido muita coisa a proósito do centenário da implantação da República. Não é que o tema me desgaste - pelo contrário, sou um republicano convicto, aturar as criaturas da monarquia é que não! - porém só hoje, dia 6 de Outubro, li algo que gostei mesmo. Rui Tavares no Público, num artigo intitulado "100 anos e um dia":

"Parece que a I República cometeu o grande pecado de ser uma balbúrdia - mas por oposição a quê? Pelos vistos, deve haver quem ache que o resto do mundo era, naquele primeiro quartel do século XX, uma espécie de pacífico jardim.

(...)

...há gente que faz da leitura da I República uma única lenga-lenga sobre como os líderes políticos portugueses da época eram defeituosos. Pois eram. Sem querer ser preciosista, esse é exactamente o sentido da República: sermos governados por gente imperfeita. Precisamente porque não existe gente perfeita, nem gente que herde a predisposição para governar vitaliciamente um país, o princípio republicano é o de que nem o nascimento nem a classe social devem vedar alguém de eleger e ser temporariamente eleito.

(...)

Pelo grande gozo que é "irritar a esquerda", pratica-se o contorcionismo da mioleira. Mesmo assim, o liberalismo continua a ser melhor que o absolutismo; e a república melhor do que a monarquia; e a democracia melhor que a ditadura. Melhores porque regimes mais livres e mais iguais, mais próximos do princípio de que a sociedade se pode - e deve - auto-governar. Isto não faz destes regimes isentos de críticas; mas fá-los certamente dignos de comemoração, dignos de serem lembrados em conjunto. Mas, lá está, Pedro Passos Coelho faltou ontem ao lugar onde se proclamou a República; como a direita portuguesa em geral faz por ausentar-se do 25 de Abril. É uma atitude de ignorância voluntária que só poderia desculpar-se se ao menos fosse clara e assumida. Mas, enfim, não se pode exigir vontade a quem não a tem. A melhor comemoração da República é viver querendo governar-nos a nós mesmos. Uns dias melhor e outros pior."

Petição

Petição pelo pluralismo de opinião no debate político-económico. Ler e assinar aqui.

outubro 05, 2010

Soares e a falta de vergonha

Chega a ser execrável o comportamento de Mário Soares nas últimas semanas: os constantes elogios a Cavaco metem nojo, para quem só houve críticas e ataques durante, digamos, uma vida inteira. Depois do suicídio político em 2006, quer vingar-se de Manuel Alegre aproveitando todas as oportunidades para defender o comportamento do actual presidente. Deprimente.

Sem rumo

Que o PSD anda perdido, já deu para reparar. Mas insistir nos erros da anterior direcção é inexplicável. Depois de uma linha telefónica em plena campanha eleitoral aberta por Ferreira Leite, Passos Coelho e a sua tropa lançam uma auscultação aos cidadãos para "cortar na despesa". Parece que os conselhos dos economistas da desgraça não foram convincentes. Como diz Pedro Sales no Twitter, "o PSD optou pelo Fórum TSF depois de ter ouvido o Plano Inclinado". Querem mesmo ser poder, estes senhores do PSD?

outubro 03, 2010

Onde pára o PS? - excertos de artigo de São José Almeida

São José Almeida, jornalista do Público, escreveu ontem um muito bom artigo de opinião, intitulado "Onde pára o PS?". Dele retiro alguns excertos:
"Ainda que haja alguns agentes políticos que questionam a substância do que está a ser feito, a sua penetração na opinião pública é difícil. Convencionou-se, entre os que dominam a opinião publicada e o comentário político, que as posições da esquerda portuguesa, ou seja, do PCP, do BE e da CGTP, não são para serem tidas em conta na grelha de análise, e é hábito assente que o que a esquerda diz não é para levar a sério".
"Mas a deriva conservadora e de direita que tem assolado a Europa criou também uma situação em Portugal que transformou o PS no grande paradoxo desta situação chamada «crise»".
"(...) será que no PS ninguém está em condições de internamente defender os valores da social-democracia e a sua transformação e adaptação ao mundo de hoje, mantendo como paradigma o bem-estar de todos os cidadãos obtido através da redistribuição da riqueza?(...) Será que dentro do PS português, ao longo dos últimos seis anos, ninguém percebeu o que estava verdadeiramente em causa no seu evoluir?(...) O que resta de esquerda no PS e nos ideais dos seus dirigentes? Ou será que apenas estão colados aos lugares institucionais com o cimento do poder? É que esse, um dia, mais tarde ou mais cedo, vai acabar."

outubro 02, 2010

Austeridade


O mês de Setembro acaba com o anúncio do Governo de um plano de austeridade "a sério", citando os economistas do costume. Sócrates e o PS tiveram um mês para se prepararem para isto, com Casa Pia, caso Queiróz e revisão constitucional para entreter o povo e os media. Mas, na quarta-feira, era inevitável anunciar ao país que estamos mal e que precisamos, novamente, de apertar o cinto - o terceiro ou quarto nos últimos anos. Medidas difíceis que provocaram um "aperto no coração" do primeiro-ministro e "felicidade" em Almeida Santos por ter um Governo com coragem suficiente para as tomar. Em obedecer à opinião dominante dos media, à OCDE, à Comissão Europeia e ao PSD não vislumbro coragem mas sim falta de estratégia.

As medidas, que nos últimos meses têm sido apregoadas pelos habituais especialistas, provocaram uma curiosa reacção desses mesmos especialistas: parece que é pouco. Contaminaram a opinião pública com um discurso de contenção, que se devia cortar na despesa e mais e mais, e quando o Governo anuncia o corte na despesa parece que não é suficiente, que os dois milhões de pobres em Portugal, coitados, têm ainda demasiado dinheiro para sobreviver ao quotidiano de crise instalado no país há quase dez anos. Salgueiros, Medinas, Duques, Césares das Neves, entre outros que o PSD ouviu antes de ir à aula com o prof.Cavaco, são directamente responsáveis pelo estado em que o país se encontra economica e financeiramente. Mas não têm o pudor suficiente para não aparecer constantemente a emitir diagnósticos e soluções para o que criaram.

O PSD continua sem rumo. Meteu-se na revisão, exigiu corte na despesa e, agora que a única coisa que o distancia do orçamento é o aumento do IVA, está de mãos atadas. Miguel Macedo, líder parlamentar, bem como o líder e os conselheiros económicos, vão alertando que o Governo escondeu problemas e não agiu a tempo para os solucionar. Porém, quem andou a brincar às revisões não foi o PS nem qualquer outro partido. Tivessem investido no combate diário à política governamental e agora estariam numa posição bem mais confortável. Vão aprovar o orçamento e vão ter que esperar pelas presidenciais para redifinir estratégias. É que já não podem rezar pelo insucesso das medidas de austeridade propostas pelo Governo: estão tão ligadas a elas como Sócrates e Teixeira dos Santos.

O facto de virem aí presidenciais poderá dar algum descanso ao Governo. No entanto, estas medidas terão que se aproveitadas pelos restantes partidos de oposição. À esquerda, pede-se algo novo no combate ao governo. O povo não é parvo e estará um pouco farto desta falta de assunção de alguma responsabilidade política. Se o PCP e, principalmente, o Bloco querem ter um papel decisivo, apenas com uma mudança poderão conseguir resultados. Já o CDS estará a ponderar se aprova o Orçamento. Isso, e divertir-se com os tiros no pé do PSD.

outubro 01, 2010

Manifesto de Fachada


Fachada aparece na minha vida de forma casual. Leio na imprensa que há um tipo que se inspira em Caetano, Zappa, Variações ou Chico e a minha curiosidade aumenta para níveis máximos. Chega-me ao ouvido um disco, homónimo, coisa que não gosto, mas que abre com uma música chamada "Responso para maridos transviados". Paro, escuto e fecho os olhos. Aquilo, começado assim, só podia correr bem. E correu, lindamente.

Entre "cantigas de amigo" e "desamores", Fachada conta-nos histórias fantásticas, musicadas a um nível pouco visto por aí que prendem o ouvinte mais desatento. E, depois, há um pormenor que não pode ser esquecido: a inteligência de Fachada, as referências que nos aparecem numa simples história de amor - "Kit de prestidigitação" é talvez o mais óbvio exemplo disso, com Cesariny, Vinicius ou Zeca, numa música que me lembra sempre "Trocado em miúdos", do Chico, já que se conta em ambas a história de uma separação, mas com Fachada numa versão mais alegre do que o brasileiro.

As mulheres também estão presentes em quase todas as músicas do disco homónimo. Há uma "bela Helena" que é uma flor de massapão, uma outra mulher que anda numa "Velha Europa" deliciosa e, quase a acabar o disco, uma criatura que "só lhe falta ser mulher". No meio, Fachada não sabe se há-de "esperar ou procurar", na música mais dançável do disco - só não digo a melhor porque todas elas falam de amor de forma extraodinária, cada uma acrescentando uma coisa diferente.


Depois do homónimo, Fachada anuncia que "Há festa na moradia", um título, este sim, delicioso. Mais curto (sete músicas), "de Verão", segundo o autor. E se este é um disco estival, o anterior é claramente de inverno, daqueles para ouvir num dia frio, com mantas, compotas, mel, bolachas. Mas vamos ao novo disco: Fachada dá-nos sete músicas dançáveis, festivas, com folclore e as festas de Agosto na mente. A música com o mesmo título do disco é uma espécie de Farpa de Ortigão e Eça, mas na voz de Fachada, e a mulher deste disco é "Joana transmontana", numa história de êxodo rural. Antes de perguntar "quem quer casar com BFachada", faz uma bela homenagem aos "Discos de Sérgio Godinho", uma inflûencia clara na música de Fachada.


E é assim, estou apaixonado pelo Fachada. Por que é que digo isto hoje? Porque amanhã vou matar a paixão: vê-lo ao vivo. É o que falta. Ah, e também me falta ouvir as músicas anteriores ao disco "B Fachada". Ainda não tive coragem. Aquele é tão bom que tive o último para ouvir durante um mês e o medo de me desiludir era tão grande que nem o pus a tocar. Devagarinho, lá fui escutando, escutando, e amanhã, na Sociedade de Geografia, espero que Fachada dê o golpe final.


ps: o concerto de amanhã tem dois bónus: Lula Pena e JP Simões. A primeira, é uma delícia. O segundo, um outro amor meu - já o vi ao vivo - que fez o melhor álbum português da década: "1970".

Contador


A confirmar-se o controlo positivo de Alberto Contador, estamos perante o fim do ciclismo. O espanhol tinha dado ao ciclismo actual uma nova alma, principalmente depois dos casos de Landis, Vinoukorov, Riccò, Basso, Rasmunssen - só para mencionar os mais conhecidos. O ciclismo precisava de tudo menos disto. Espero, sinceramente, que não seja nada pois ainda tenho muito frescas as memórias de tardes espectaculares proporcionadas por Contador. Porém, é um murro no estômago. Fortíssimo.


ps: e Armstrong vai-se rindo, aposto...