dezembro 31, 2010

Presidenciais - rescaldo dos debates

Antes dos debates poucos conheciam candidatos como Francisco Lopes, Defensor Moura ou Fernando Nobre. Se Alegre e Cavaco eram os mais conhecidos, os outros tiveram nestes debates uma boa oportunidade para se mostrarem ao eleitorado. E se os combates contra Cavaco foram os que geraram mais interesse - porque o actual presidente é, de facto, o grande adversário de todos eles e o super favorito à vitória - os encontros entre os menos conhecidos foram bastante monótonos mas reveladores das características de cada um.
Fernando Nobre apareceu como um homem anti-sistema, que aponta apenas defeitos a tudo o que mexe e para quem a classe política é composta por gente incompetente. Foi este o seu discurso, pelo meio ainda apontou o seu percurso de vida como fascinante e preponderante para o cargo de presidente. Porém, o que revelou foi uma total falta de preparação para liderar um país - não domina muitos temas e não tem, de todo, o dom da palavra. Apesar de ter tido um bom desempenho contra Alegre - sempre apoiado no discurso anti-sistema - Nobre não trouxe, ainda, nada de novo à luta política.
Francisco Lopes está a fazer uma boa campanha. Sólido, domina os temas essenciais e, embora muito preso à doutrina comunista do seu partido, tem conseguido expor com clareza as suas ideias. É o candidato da praxe do PCP, tudo o que diz é conhecido mas não fez figuras tristes nos debates como muitos vaticinaram.
Defensor Moura, o menos conhecido de todos, teve o seu momento com Cavaco e agarrou-o. Enquanto nos outros debates esteve frouxo e não soube dar dinâmica à sua campanha, com o actual presidente Defensor não teve medo de colocar as questões incómodas e de deixar Cavaco furibundo e nervoso. Não servirá de muito para a candidatura de Defensor Moura mas deu um contributo importante para o resto da campanha.
Manuel Alegre teve uma postura surpreendente em todos os debates. O homem da luta e da palavra esteve muito calmo, sereno, revelando uma quase postura de Estado que não é habitual nele. Foi uma estratégia e, no debate com Cavaco - o seu grande adversário - quase não o atacou. No dia 23 de Janeiro veremos se Alegre não vai lamentar esta opção de quase não agressão política.
Cavaco Silva teve um comportamento muito semelhante em todos os debates. Constantemente atacado, relembrou-nos a sua forma de estar na política. Um político que acha que está sempre certo porque se considera um técnico super competente e isento, que não faz nada errado e que quando é confrontado com alguma coisa remete o adversário para o Tribunal Constitucional ou para outro sítio qualquer, dizendo que é tudo insultos ou calúnias. Embaraçado várias vezes, contra Alegre soube ficar por cima no que toca ao Estado Social através do seu esquema de lançar umas bocas para o ar. Serviu porque Alegre não estava virado para o confronto político. E servirá porque, tal como ele pediu aos portugueses, estes não gostam de mudanças e "este não é um tempo para aventuras". Um candidato que considera que estaríamos muito pior se ele não tivesse intervido - como, quando e porquê é algo que nunca saberemos.

dezembro 30, 2010

Debates Presidenciais 2011 - Alegre vs Cavaco


O debate mais esperado foi ganho por Cavaco de forma simples e clara. Contra Alegre, o adversário que mais pugna pelo Estado Social, o actual presidente tentou mostrar por diversas vezes que ele próprio é a favor do Estado Social e que tem feito muito pela manutenção do mesmo - puxou temas como a saúde e a educação. Alegre esteve contido, não soube levar até ao fim alguns temas - como o caso das escutas - e foi vago em muitas respostas sobre questões políticas, não conseguindo contrariar as também vagas e demagógicas declarações de Cavaco. O problema é que vindo da boca de Cavaco é tido como certo. Quem tinha a ideia de Alegre como um homem que pouco fez nos últimos anos e que não vê nele um homem de acção, não foi através do debate que mudou de opinião. Alegre deveria ter sido mais contundente quer no ataque ao adversário, quer na valorização das suas virtudes enquanto presidente. Não o fez e agora precisa de um milagre para ter a hipótese de ir a uma segunda volta. A estratégia de campanha de Alegre não está, nitidamente a funcionar.

Afastar fantasmas


Tenho muitas dúvidas sobre a capacidade de Leonardo vingar como treinador do Inter. Porém, o que ele disse hoje na conferência de imprensa serve para demonstrar que o brasileiro fez, no mínimo, o trabalho de casa. Ou seja, percebeu que era fundamental afastar por completo o fantasma de Mourinho. Elogiando-o com elegância. Bravo, Leo.

dezembro 29, 2010

Debates Presidenciais 2011 - F.Lopes vs Defensor Moura

Outro enorme bocejo. Ambos repetiram o que já disseram noutros debates: Defensor Moura apostou no tema regionalização - sem garra, sem grandes argumentos - mas embrulhou-se em muitas contradições no seu discurso a propósito do Orçamento de 2011; já Francisco Lopes revelou, mais uma vez, que tem o discurso preparado e que é um razoável candidato do PCP para segurar o seu eleitorado. Nada mais a acrescentar.

Debates Presidenciais 2011 - Defensor Moura vs F.Nobre

Um longo bocejo. Pobre, repetitivo, sem grande coisa a acrescentar à campanha a não ser a proposta de Nobre em "abrir o Palácio de Belém aos portugueses um dia todos os meses". Chega para, sequer, chegar aos 10% de votos? Duvido. Nobre falou do passado e da sua postura anti-tudo. Defensor Moura provou que apenas quis entrar na campanha para dizer umas verdades a Cavaco. Fê-lo bem mas agora pode ir descansar.

dezembro 25, 2010

Debates Presidenciais 2011 - Cavaco vs Defensor Moura


Frente-a-frente estiveram o candidato super favorito à vitória nas presidenciais contra um quase desconhecido nacional que se candidatou para, segundo ele, captar alguns votos que os socialistas não querem dar a Alegre, tentando com isso evitar a vitória à primeira volta de Cavaco Silva. Foi, por isso, um debate em que o Defensor de Moura não tinha nada a perder. E a sua estratégia foi bem clara: atacar o máximo possível Cavaco Silva politicamente, tocando em assuntos mais delicados que outros candidatos não terão oportunidade para fazer porque têm mais a perder do que o ex-autarca de Viana do Castelo.
Defensor de Moura invocou o caso BPN, o caso Lusoponte, um alegado desfavorecimento à Câmara de Viana do Castelo. Tudo isto provocou a ira de Cavaco que chegou mesmo a dizer que não respeitava o adversário - "Delors, um socialista respeitado ao contrário de outros", apontando com a mão para Defensor de Moura. Não respondeu às acusações - no caso BPN falou de forma comovente das contas familiares - apenas garantiu que era mentira e chegou a apelidar as palavras do adversário de "larachas e tretas". A frase do debate é aquela em que Cavaco, um homem com um ego enorme e convencido que faz tudo correctamente, diz que "para serem mais honestos do que eu têm que nascer duas vezes".
A forma como Cavaco entende os poderes e a função de um presidente foi bem clara no debate de hoje quando Defensor Moura introduziu a questão da regionalização. O actual presidente confessou que, enquanto chefe de estado, não pode ter uma opinião sobre o assunto porque iria entrar no debate político. Esquece-se é que quando aponta desígnios nacionais uns atrás dos outros está apenas a contribuir para o debate nacional. Então por que é que a regionalização é tabu?
Cavaco terminou evidenciando a sua mente conservadora e pequenina: primeiro dizendo que sempre foi um "presidente acima dos portugueses" (uma espécie de deus da política nacional - e depois dirigiu-se às mulheres que "fazem milagres nas lides da casa". Exemplar.

dezembro 23, 2010

Debates Presidenciais 2011 - Alegre vs F.Nobre

Esperava-se um debate acesso e assim o foi. Nobre encostou Manuel Alegre às cordas e teve o seu melhor desempenho nos debates. Ajudado pelos temas que iam sendo introduzidos pela moderadora, Nobre conseguiu evidenciar bem as contradições no discurso de Alegre, a responsabilidade política que o candidato apoiado pelo PS e BE tem na situação actual do país e, obviamente, passou a imagem de um homem fora do sistema. Parecia Manuel Alegre em 2006. Chegou mesmo a citar poetas, a provocar Alegre com afirmações sobre Sócrates e Louçã e mandar a farpa da noite: eu sou apenas dono do meu voto e não de dez mil, cem mil ou um milhão de votos".
Manuel Alegre optou por não atacar Nobre, numa postura pouco habitual nele, evidenciando algum nervosismo. Ele sabia que este era o debate em que ia ter mais dificuldade em responder à altura dos ataques do adversário porque, de certa forma, não tinha como o fazer. Foi minimizando danos com algumas boas intervenções - orgulho no seu passado, na importância de unir dois partidos que são inconciliáveis, na defesa do Sistema Nacional de Saúde. Mesmo assim, pouco perante Fernando Nobre que fez um debate muito bom.

Inside Job


Obrigatório ir ver.

dezembro 22, 2010

Debates Presidenciais 2011 - F.Lopes vs Cavaco Silva


Francisco Lopes entrou a matar ao mencionar a ligação de Cavaco ao BPN. A partir daí, pensando o presidente que iria ter um debate tranquilo, foi só desespero por parte do candidato da direita. Seria difícil imaginar antes de iniciar o debate que Cavaco teria que recorrer a medidas suas tomadas enquanto primeiro-ministro na década de 80, teria que atacar o adversário afirmando que os portugueses não precisam de extremismos nem de pessoas que repetem sempre as mesmas palavras. Foi assim o debate.
Francisco Lopes insistiu até à exaustão - e bem - nas responsabilidades de Cavaco no Orçamento de Estado de 2011 e sublinhou várias vezes que o actual presidente sucumbiu, juntamente com o Governo, aos mercados e aos especuladores financeiros. Cavaco foi debitando banalidades, assumindo-se como uma pessoa responsável e conhecedora da realidade portuguesa, nunca respondendo concretamente às intervenções do adversário. Nervoso, por vezes até insultuoso ao afirmar que há políticos que falam muito dos mercados mas que não percebem nada do assunto, Cavaco chegou mesmo a dizer que o país não é independente, mas sim interdependente. E é a criatura presidente da República.
Nota final para a jornalista: Cavaco sabe muito o que diz quando se referiu à imprensa suave portuguesa. Nunca respondeu à questão do BPN porque a entrevistadora assim não o quis.

dezembro 21, 2010

Cavaco e PIDE

Nas últimas semanas surgiram notícias e documentos que provam uma ligação de Cavaco à PIDE e ao regime do Estado Novo. Não vamos ser ingénuos: até concedo que Cavaco poderia não gostar em absoluto do regime salazarista mas que Cavaco pouco fez para alterar a situação na altura, disso ninguém pode ter dúvidas. E não vem mal ao mundo uma pessoa não ter lutado como muitos contra o Estado Novo e a sua ditadura. O problema é que o documento revelado mostra-nos mais do que uma simples resignação. Mostra-nos um bufo, uma pessoa execrável. O documento em causa, um formulário pessoal personalizado, pode ser visto aqui.
E para piorar, Cavaco disse não se recordar de ter preenchido ficha na PIDE. Das duas, uma: ou está a mentir ou então está senil. Como diz Joana Lopes, ninguém se esquece de uma coisa destas, e documenta com o seu caso pessoal que a possível desculpa de Cavaco para ter preenchido aquela ficha é falsa: o presidente afirmou que provavelmente teria sido por culpa de ser assistente universitário.
O Cavaco bufo e nojento pode ser lido na última parte do documento, nas "observações", declarando que o sogro vivia um segundo casamento com uma senhora, fornecendo o seu nome completo. O que queria Cavaco com aquilo?
Sobre o tema, ler também textos de Miguel Cardina e Óscar Mascarenhas.

dezembro 19, 2010

Debates Presidenciais 2011 - F.Lopes vs M.Alegre


O debate entre os candidatos apoiados pelos três partidos mais à esquerda do parlamento foi muito desinteressante enquanto debate porque o adversário mais atacado foi...Cavaco Silva, que não estava presente. Apesar do início algo conflituoso nas questões europeias - onde Lopes divagou muito - Lopes e Alegre tiveram um bom aquecimento para os seus debates contra o presidente onde terão que atacar ao máximo se querem ganhar alguns votos dos indecisos.
A nível individual, Lopes teve ontem mais dificuldades em lidar com um adversário político forte já que contra Nobre soube encostá-lo às cordas. Com Alegre foi mais difícil porque o candidato apoiado por PS e BE foi hábil na sua defesa e soube contra-atacar muito bem - "eu escrevi o preâmbulo da Constituição" disse em resposta às constantes declarações de Lopes em defesa dos valores de Abril. Alegre conseguiu livrar-se bem da colagem ao PS e ao Governo e, num debate à esquerda, pode ter ganho algum eleitorado do PCP - que elogiou de forma muito calorosa. Vitória fácil de Alegre mas sem brilho. O que não era necessário.

Debates Presidenciais 2011 - Cavaco vs F.Nobre


O primeiro debate em que Cavaco participou foi altamente favorável à estratégia do actual presidente. Praticamente só se falou de economia e, à defesa, Cavaco foi debitando as banalidades que já nos habituou. Que estaríamos muito pior caso ele não tivesse intervido - nunca disse como -, que acredita em Portugal e nos portugueses. Fernando Nobre, num debate muito importante para si, esteve muito melhor do que na sua estreia televisiva frente a Francisco Lopes mas não foi suficientemente contundente no ataque a Cavaco. Deveria ter encostado à parede o presidente até à exaustão porque é o único candidato que não tem qualquer responsabilidade política nos últimos anos e, se quer ganhar votos no eleitorado de direita, poderia ter ido mais além nas críticas a Cavaco. Mesmo assim, Nobre mostrou-se seguro, teve boas metáforas, como a do médico que não cura o doente e a frase "não se vai para presidente para se ser um vaso de flores", e saiu, a meu ver, vitorioso do debate. Não foi uma goleada mas apenas uma vitória clara contra um adversário que só soube defender e que parecia mais o candidato governamental.

dezembro 17, 2010

Debates Presidenciais 2011 - Alegre vs Defensor Moura

Ao contrário do primeiro debate entre Lopes e Nobre, os dois candidatos oriundos do Partido Socialista protagonizaram um debate morno, quase soporífero. Tudo por culpa de Defensor Moura. O candidato independente tinha aqui uma bela oportunidade para estabelecer diferenças entre os dois mas desperdiçou muito tempo a falar da função de presidente. Poderia e deveria ter atacado muito mais Manuel Alegre, até porque no início do debate declarou, e bem, que se candidata porque considera haver uma parte do eleitorado do PS que não se revê em Alegre porque tem o apoio do Bloco de Esquerda. Ficar durante todo o debate fechado em si mesmo não ajudou, apenas dizendo que o que o separa de Alegre é a vida pessoal de cada um. Já Manuel Alegre não precisou de suar muito, esteve seguro nas suas respostas a Judite de Sousa - raras foram as vezes em que houve confronto entre candidatos - e foi o claro vencedor da noite porque praticamente não teve adversário.

dezembro 15, 2010

Debates Presidenciais 2011 - F.Lopes vs F.Nobre


Ontem realizou-se o primeiro debate. Quem estava à espera de um debate morno enganou-se. Foram 3o minutos intensos, de debate puro, um excelente início desta série de debates entre candidatos. Vamos, então, à análise do debate.
Francisco Lopes, na minha opinião, ganhou o debate. Por duas razões. Em primeiro lugar porque conseguiu pôr Nobre contra as cordas na questão do Orçamento e na ligação às anteriores campanhas políticas, contrariando o discurso demasiado anti-política e anti-sistema de Nobre. A segunda razão prende-se com a arrogância de Nobre. É justo que ele tenha que mencionar o seu passado enquanto presidente da AMI e todo o seu trabalho a esse nível. Mas insistir nisso foi um erro, não conseguindo justificar as suas declarações contraditórias ao longo da pré-campanha, chegando a desvalorizar por completo o trabalho dos partidos políticos. O discurso de Nobre tem dois eixos. O primeiro é a sua experiência de campo em cenários difíceis. O segundo, o discurso anti-sistema e a sua posição supostamente isenta perante o cenário político. Pouco mais tem a oferecer. Pelo meio lançou uma ou outra ideia demagógica - reduzir o número de deputados, apresentando casos à toa não sabendo que em matéria de proporcionalidade entre cidadãos e deputados Portugal apresenta um nível bastante razoável, havendo imensos países com mais deputados por cidadão. Nobre teria muito a ganhar com estes debates. A superioridade que evidencia perante os outros poderá sair-lhe muito cara.
Já Francisco Lopes é um candidato bastante frágil mas é um político. E ontem soube atacar o seu adversário nos pontos fracos daquele, sem nunca atacar pessoalmente, ao contrário de Nobre. Sem grande profundidade, o seu discurso para os trabalhadores era o esperado. Falta saber se perante outros adversários mais habituados a estes debates, Lopes conseguirá impor a sua mensagem. A forma como terminou o debate exigindo o seu minuto foi bem reveladora da sua força de vontade e não teve resposta de Nobre quando perguntou a este se era de esquerda ou direita.

dezembro 14, 2010

Política italiana - um breve resumo dos últimos acontecimentos


Hoje foi mais um dia agitado em Itália. Votou-se uma moção de confiança ao governo no Senado e uma de censura ao executivo de Berlusconi no Parlamento. Se na primeira o voto favorável a Il Cavaliere estava assegurado, durante a última semana houve grande incerteza sobre o resultado da moção de censura. No fim das contas, Berlusconi ganhou por três votos, 314 contra 311. Passou assim um teste difícil. Mas é preciso recuar no tempo e explicar o porquê de tanta confusão.
Berlusconi e o seu partido - Popolo della Libertà (PdL) - ganharam as últimas legislativas em 2008. Para formar governo aliaram-se a Umberto Bossi, líder de um dos partidos mais à direita da Europa, a Lega Nord. Um partido xenófobo e federalista, praticamente com implementação a Norte de Itália -a região mais desenvolvida económica e industrialmente - onde nas últimas eleições regionais em Março deste ano conseguiu eleger dois presidentes de duas regiões, Veneto e Piemonte (em coligação com o PdL). A aliança com a Lega permitiu a Berlusconi ter uma grande maioria quer no Parlamento - 344 deputados em 630, a maior de sempre - quer no Senado (174 em 315). Com a esquerda a sofrer as consequências de um governo de coligação entre 2006 e 2008 que foi um desastre completo, pois continha demasiadas ideologias distintas, Berlusconi adivinhava, assim, um mandato tranquilo e à sua medida. Até que surgiram alguns escândalos.
O alegado envolvimento do chefe do governo em orgias sexuais, em encontros com raparigas menores, o convite a várias mulheres, todas elas sem currículo político mas conhecidas pelos seus atributos físicos, para as listas do PdL para as europeias de 2009, tudo isto foi a gota de água para o seu companheiro de sempre, Gianfranco Fini, presidente do Parlamento e conhecido por reconhecer no fascismo de Mussolini muitas virtudes. Fini, cansado dos escândalos à volta de Berlusconi, não só os sexuais mas as constantes acusações de corrupção que todos os meses enchem as capas dos jornais italianos, Fini, dizia, resolveu romper. E com ele levou vários apoiantes, entre os quais muitos deputados da coligação que sustenta o governo de Berlusconi. Estava, assim, criada a confusão.
No início, Fini e os seus apoiantes resolveram abster-se, permitindo assim ao governo continuar com uma sólida maioria. Mas o confronto entre os dois subiu de tom e Fini foi expulso do PdL. Passado poucas semanas fundou um novo partido, o Futuro e Libertà (FLI) e pediu a demissão de Berlusconi. Os deputados que agora pertenciam ao FLI deixariam de votar de acordo com o Governo e a maioria parlamentar estava em risco. No meio desta confusão toda, os ataques pessoais de parte a parte foram constantes. O presidente Napolitano, um pouco à toa, foi-se mantendo de fora. A esquerda, muito frágil quer no Parlamento quer na sondagens e com um mau resultado nas regionais de Março, resolveu apresentar uma moção de censura - em Itália, ao contrário de Espanha, não existe moção de censura construtiva.
Tudo apontava para a queda do governo na moção votada hoje. Os ataques a Berlusconi surgiam de todo o lado, e a grande acusação é a de que o presidente do conselho italiano governa para si próprio, pensando em escapar aos processos judiciais. Mas nos últimos dias fomos sabendo que Berlusconi e os seus apoiantes fizeram uma operação fortíssima no sentido de convencer alguns deputados a votar contra a moção. Primeiro viraram-se para a Unione di Centro, que conta com 36 deputados, sem sucesso. Tiveram, então, que tentar angariar votos deputado a deputado. E estas manobras resultaram num triste espectáculo hoje no Parlamento. Berlusconi chegou mesmo a abandonar a sala quando discursava Di Pietro, ex-procurador do processo Mãos Limpas, que agora é o líder do partido de esquerda Italia dei Valori. Muitos assobios, muitas injúrias - houve até gestos com o dedo do meio entre deputados - no final Berlusconi "safou-se" por três votos. Dois deles oriundos de duas deputadas que estavam com Fini mas que anunciaram hoje que tinha voltado ao PdL - alguns apoiantes de Fini já vieram dizer que uma delas foi ameaçada com o encerramento de empresas suas. O outro voto foi de um deputado do Partido Democrata, centro-esquerda, que se juntou ao Governo. E houve ainda deputados que pertencem ao partido de Di Pietro - um dos mais ferozes adversários de Berlusconi - que votaram ao lado do governo.
E agora, o que espera Berlusconi? Fini já disse que isto é uma vitória numérica e não política. Bossi, aliado de Berlusconi, não está contente com a situação e, perante as sondagens que lhe são favoráveis, advertiu o governo de que ou arranja uma maioria estável ou então as eleições são o caminho desejado pela Lega. Berlusconi pode, assim, continuar a governar. Por quanto tempo, não se sabe. Mas ninguém duvida de uma coisa: Berlusconi já não tem espaço de manobra para muito e terá que ser rápido na busca de uma solução. Falta saber se perante uma eventual queda do governo o que fará Napolitano, o presidente. Este foi um dos grandes debates ao longo dos últimos meses. Convoca eleições? E se Berlusconi ganha de novo? Convida outro dirigente a chefiar o governo? Mas com que maioria? Um grande dilema político que terá desenvolvimentos nos próximos meses e com grande contestação na rua, principalmente junto dos estudantes.

dezembro 10, 2010

O Americano



"O Americano" serve para confirmar que George Clooney não é apenas o homem jeitoso da Nespresso nem um qualquer playboy de Hollywood. Clooney é, sem sombra de dúvida, uma grande actor. O seu papel no filme majestosamente realizado por Antoin Corbijn revela-nos um actor que consegue compreender na totalidade uma personagem complicada como é Jack, um assassino que quer deixar o seu "trabalho" mas que tem de cumprir uma última missão enquanto é perseguido por outros assassinos devido a um trabalho mal feito anteriormente. Poucos diálogos, paisagens de Abruzzo lindíssimas e uma excelente filmagem do sofrimento e angústia de Jack, com planos fantásticos - as cenas em que prepara meticulosamente as armas são belíssimas.
E depois há Violante Placido, a actriz que dá vida a Clara, uma prostituta italiana por quem Jack se apaixona. Dizer que é soberba é pouco. É muito mais do que isso. Todo o protagonismo se centra nela quando projectada na câmara de Corbijn que escolheu com grande precisão todos os actores para este filme.


Educação - os resultados do PISA


Esta semana soube-se através do relatório do PISA que os alunos portugueses com 15 anos estão melhores do que há cinco anos atrás, que houve um forte evolução na matemática, nas ciências e na literatura, estando os resultados dos alunos portugueses muito próximos da média da OCDE. Aliás, foram os que mais progrediram.

Sócrates, confrontado com óptimas notícias, veio a público manifestar o óbvio contentamento e recolher os merecidos louros. A reforma educativa iniciada em 2005, por muitos defeitos que tenha, teve consequências: o sistema de ensino sofreu sérias mudanças. Agora, chegam os resultados. E são muito bons.

É, portanto, altura de salientar o trabalho da anterior ministra. Maria de Lurdes Rodrigues, uma das ministras mais contestadas desde o 25 de Abril - principalmente e quase em exclusividade pela classe educativa -, tem agora o reconhecimento merecido. Se a reforma do ensino ainda não está completa e tem, na minha opinião, muitas lacunas - a nível de carga horária, as Novas Oportunidades são um erro, entre outras - há que reconhecer que diversas medidas tiverem efeito, como o Plano de Acção para a Matemática, o Plano Nacional de Leitura, a modernização do parque escolar ou a entrega de computadores aos alunos.

Durante os anos do consulado de Lurdes Rodrigues várias foram as vozes que ouvimos contra as suas políticas e reformas. Paulo Guinote, professor que se notabilizou com a luta contra a reforma da carreira docente, comenta desta forma imbecil os resultados do PISA. Ele sabe que o exemplo que deu é falacioso mas, à falta de argumentos para justificar os bons resultados, não teve outra maneira que recorrer à rasteira argumentativa.

Outro grande activista contra Lurdes Rodrigues é Nuno Crato. Mário Crespo, sempre à procura da crítica fácil, escolheu o professor de matemática para entrevistar no dia em que se conheceram os números do PISA. Estava Crespo à espera que Crato o ajudasse na desconstrução dos números de forma a que não estivéssemos perante bons resultados na educação, quando o professor teve que, embora muito contrariado, dizer o óbvio: isto são bons resultados. Evidente que acrescentou que não sabia ainda interpretar muito bem os números mas que em geral são bons resultados. Crespo ficou completamente à nora, via-se que não tinha a entrevista preparada, a não ser numa ridícula chamada de atenção para os números da Áustria, dos quais pediu uma interpretação a Crato. Este, com muita sinceridade, adimitiu que não conhecia a realidade daquele país e que, portanto, não podia explicar ao curioso Crespo quais as razões para os alunos austríacos apresentarem melhores resultados a matemática do que a literatura. À falta de pontos negativos para apontar aos resultados portugueses, o entertainer da SIC e o professor Crato não puderam deixar de salientar o que os números revelaram: Portugal progrediu. A entrevista, como sempre medíocre, pode ser vista aqui.

dezembro 09, 2010

Debates

Começam já para a semana os debates presidenciais. Numa actual pré-campanha muito morna, com pouco destaque nos media, aqueles podem ser a alavanca necessária para uma maior discussão em torno das presidenciais. Para os adversários de Cavaco é uma oportunidade única de mostrarem que não estão nesta campanha a cumprir calendário. Já o actual presidente terá que jogar muito à defesa pois tem muito a perder. Raramente confrontado com contraditório ao longo dos últimos 5 anos, Cavaco terá que se preparar muito bem. Os debates serão decisivos para perceber se haverá algum interesse em acompanhar a campanha ou se serão apenas duas semanas de comícios e de discursos para português ver e ouvir sem grande interesse.
Uma nota final: à semelhança das legislativas, os debates ocorrem fora do período de campanha, alguns a mais de um mês da própria eleição. Um ciclo de debates em plena campanha seria mais favorável aos candidatos da esquerda do que a Cavaco. Quanto ao formato, é o possível e é preferível do que ter os cinco ao mesmo tempo numa mesa. Porém, teremos que aturar alguns debates desinteressantes como o de Francisco Lopes com Defensor Moura.

MEP e MMS


A pouco mais de um mês para as eleições presidenciais, vale a pena perguntar onde andam o MEP e o MMS.
Estes dois partidos, que surgiram praticamente em simultâneo, apostaram muita coisa no ciclo eleitoral de 2009 - europeias, legislativas, autárquicas. Embora distintos, ambos utilizaram fortemente o discurso anti-sistema, convencidos que havia muita gente que andava descontente com os principais partidos e que teriam sérias hipóteses de ter bons resultados eleitorais. Enquanto o MEP teve uma mensagem mais humanista, o MMS apresentou-se ao eleitorado como grande defensor do mérito e da sociedade civil. Com algumas propostas arrojadas e diferentes do habitual, propuseram-se ir à luta, convictos que era o momento certo. O presidente do MEP, que teve uma votação nas europeias razoável, estabeleceu a meta de entrar na Assembleia da República para ganhar notoriedade e, daí a dez anos, estar como o Bloco de Esquerda. Resultados nas legislativas: 25475 votos para o MEP; 16616 para o MMS. Um grande e rotundo fracasso para estes dois novos projectos que, assim, morreram quase à nascença. O PCTP-MRPP teve mais votos que os dois partidos juntos, já para não falar nos votos em branco e nulos, que juntos somaram mais de 177 mil votos.
Em vésperas de mais um acto eleitoral, fui pesquisar quais as actividades destes dois partidos. Do MMS nada se sabe pois o site está "em construção". No site do MEP, que conta com alguma actividade, referência para um seminário que será dado no Porto pelo presidente do partido com a finalidade de abater o défice financeiro do partido. E sobre presidenciais, nada, nicles, zero.
Uma triste história destes dois partidos que investiram muito mas sempre mal.

dezembro 04, 2010

Sá Carneiro

Nasci já Sá Carneiro tinha morrido em Camarate há oito anos atrás. A minha geração, bem como os que nasceram a partir de 1974, não sabem quem foi este herói nacional promovido pela direita na comunicação social. Todos os anos, por esta altura, aparecem sempre as mesmas figuras a palrar o mesmo discurso sobre o ex-primeiro-ministro. Seja na missa, nalguma sessão solene ou no lançamento de um dos vários livros que todos os anos se lançam sobre a criatura, somos obrigados a escutar os elogios a Sá Carneiro, garantindo-nos que, com ele, tudo teria sido diferente. Já chega. Estou farto. Já basta o nome do aeroporto do Porto. Chega para memória colectiva de um político que não fez assim tanto pela democracia portuguesa como anualmente os media e a direita querem fazer pensar.

dezembro 03, 2010

Quem paga a crise

O discurso do "quem paga a crise são os mesmos de sempre" ganhou estes dias mais força. Perante uma proposta do PCP de tentar evitar que as empresas fujam aos impostos no pagamento dos dividendos deste ano, o PS votou contra, com Francisco Assis a mando de Sócrates a exigir aos deputados o voto contra, ameaçando demitir-se. Já a posição do PSD não estranha, votando também contra, provando que há muito mais para além do seu discurso. Mal cheguem ao governo, vai ser cortar a torto e a direito.
E hoje, a questão do salário mínimo. O governo parece que não vai avançar, tal como acordado, com o aumento para 500€ obedecendo aos desígnios empresariais. O PSD deve estar de acordo, os empresários esfregam as mãos e quase 2 milhões de pobres em Portugal continuam a ver os mais ricos a passarem ao lado da crise.
Começa a ser demasiada insensibilidade social por parte dos dois maiores partidos.

dezembro 02, 2010

Mundial 2018


Portugal sabe hoje se vai organizar juntamente com Espanha. As vozes demagógicas que se têm ouvido por aí contra a organização ou não percebem nada de futebol e de Campeonatos do Mundo - e têm memória curta porque este ano houve um na África do Sul - ou então gostam apenas de dizer que não a tudo, ou mesmo são uns nacionalistas da treta, que só por Espanha ter mais estádios do que nós é uma afronta ao nosso país.
Portugal cometeu um erro estratégico ao decidir-se pela organização do Europeu 2004. Quer a nível económico, quer a nível desportivo. Económico porque Portugal é um país pequeno e não tinha infra-estruturas para organizar um evento como aquele - ter que construir 10 estádios foi uma decisão megalómana. A nível desportivo, porque o défice português nesta área não eram estádios enormes e modernos, até porque o futebol é das modalidades mais desenvolvidas no nosso país. Falta tanta coisa noutras modalidades que o investimento no Euro 2004 foi um erro trágico. O mal está feito
Contudo, a co-organização do Mundial 2018 é uma oportunidade única para potenciar o desenvolvimento feito para o 2004, garantindo que o nosso país será o centro das atenções globais durante um mês. Um Mundial o segundo maior evento desportivo do mundo e um país como o nosso só tem uma possibilidade de o organizar: juntamente com Espanha. Os Jogos Olímpicos, o maior evento, é uma utopia para Portugal, nunca poderemos organizar tal evento. Mas esta co-organização é uma decisão política, económica e desportiva acertada. Esperemos que em 2018 possamos ter o Mundial na Península Ibérica.