julho 26, 2011

valter hugo mãe


Como não sou nem tenho pretensão em ser crítico literário, deixo aqui apenas uma frase sobre “A máquina de fazer espanhóis”: o livro de valter hugo mãe é deliciosamente comovente e eficazmente perturbador, resultando numa obra magnífica.

julho 23, 2011

Tour 2011 - as figuras


A edição deste ano da Volta à França teve três momentos muito distintos. O primeiro corresponde às duas primeiras etapas onde Contador e outros importantes corredores perderam muito tempo em quedas e etapas como o contra-relógio por equipas. O segundo momento dá-se durante quase toda a edição, contemplando várias desistências importantes por lesão - Wiggins, Kloden, Vinokourov, Van den Broeck - e a subida aos Pirinéus onde ninguém fez diferenças. O terceiro momento são as três últimas etapas, duas de alta montanha nos Alpes e o contra-relógio final. Este último momento compensou o resto que estava a fazer deste Tour uma edição bastante aborrecida.

Cadel Evans: aos 34 anos, finalmente a grande vitória da sua carreira, depois de ter sido campeão do mundo em 2009. Após de quatro presenças no top-10 e dois segundos lugares, o lugar mais alto do pódio na prova francesa pertence ao azarado australiano que vence pela primeira vez uma corrida de três semanas. É uma vitória merecida para um ciclista completíssimo. Andou excepcionalmente bem na montanha, aguentando e gerindo os ataques dos adversários de forma heróica, apesar de não ter uma grande equipa ao seu lado. E no contra-relógio final, onde tinha de ganhar quase um minuto a Andy Schleck, comportou-se de forma fantástica, percebendo-se que aqueles eram os 42km mais importantes da sua vida. O eterno candidato merecia uma prova assim.

Andy Schleck: depois de três segundos lugares consecutivos, mais um para somar ao currículo. E desta vez já nem havia camisola branca para conquistar. Estaremos perante um dos grandes fenómenos do ciclismo? Quando conseguirá ganhar Andy Schleck? Uma coisa parece óbvia: tem que melhorar no contra-relógio. Mas não deixa de ser frustrante para ele ter criado uma equipa de raiz, ter levado com ele grandes ciclistas, ter-se preparado exclusivamente para o Tour e, mesmo com as dificuldades de Contador, não conseguir vencer a prova. Está a tornar-se um caso sério este enguiço de Schleck que, este ano, até teve o seu irmão sempre ao lado para o ajudar.

Contador: olha-se para a classificação final e pode-se facilmente pensar que Contador é o grande derrotado do Tour. Sem dúvida. Porém, se se tiver em conta a bela Volta a Itália que fez - e que foi indiscutivelmente mais dura e mais espectacular que o Tour 2011 - seria quase de loucos pensar numa vitória de Contador. A juntar a isto tudo, o espanhol perdeu muito tempo na primeira etapa devido a uma queda alheia, caiu pelo menos três vezes no Tour - sem consequências de maior, é certo, mas são coisas que criam mazelas - e não teve uma equipa à altura, já que apenas por alguns momentos se viu a Saxo Bank a ajudar o espanhol. Posto isto, a prestação de Contador foi honrosa apesar de ter sido derrotado. A etapa que fez do Alpe d'Huez serviu para limpar a sua imagem. Porque uma coisa é certa: Contador é o melhor ciclista da actualidade e um dos melhores de sempre. O Giro de Itália comprovou-o bem. Pena que alguns só olhem para o Tour.

Voeckler: a grande surpresa deste ano. Numa fuga deixaram-no ir à vontade e ganhar tempo suficiente para se manter na amarela quase até Paris. A forma como segurou a liderança foi heróica e, com a ajuda de uma grande promessa chamada Pierre Roland, superou-se e surpreendeu o mundo do ciclismo. E não fosse uma péssima estratégia na etapa do Alpe d'Huez e talvez Voeckler pudesse ter terminado no pódio, um sonho para os franceses. Que ficam de olho bem aberto em Rolland para futuras provas.

Samuel Sanchéz: o simpático e talentoso ciclista ganhou a camisola da montanha fruto do espectáculo que deu em ataques vários. Ele que também perdeu muito tempo no início da prova, foi recompensado pelo seu esforço.

Rui Costa: o ano passado foi Sérgio Paulinho. Este ano Rui Costa. O ciclismo português voltou a deixar a sua marca no Tour. E, para além destes dois, há outros valores portugueses a despontar por aí.


julho 21, 2011

As eleições no PS


A corrida à sucessão de Sócrates não poderia ser mais enfadonha. A dois candidatos medianos junta-se a circunstância de ser uma péssima altura para se debater o que quer que seja dentro do PS: Sócrates, para além de ter secado tudo à sua volta, comprometeu-se com o acordo da troika e deixou pouquíssimo espaço de manobra a Assis e Seguro. Para além de clichés básicos de campanhas eleitorais internas, estes dois militantes têm acrescentado muito pouco ao debate e é difícil distinguir o que os separa.

António José Seguro é o eterno candidato à liderança do PS. Passou os últimos anos a abordar cautelosamente todos os assuntos e, enquanto deputado, teve intervenções cirúrgicas sobre alguns temas delicados para o PS. Mas todas as suas declarações foram pensadas e repensadas, ditas sem alarme, de forma calculista e hipócrita. Nunca quis romper demasiado com Sócrates mas conseguiu sempre deixar no ar, de forma cínica e oportunista, as suas (pequenas) divergências. Não se conhecem dele grandes ideias para o país, nem capacidade para mobilizar um pequeno carreiro de formigas, quanto mais o partido e os eleitores de esquerda. E, por falar em esquerda, dificilmente Seguro tem o perfil e as condições para entendimentos com outros partidos.

Por outro lado, Francisco Assis também não representa uma ruptura muito acentuada com os últimos anos do Partido Socialista. O facto de ter apoiado de forma veemente José Sócrates não é um bom cartão de visita e o seu estilo de fazer política - mais vivo, mais verdadeiro, mais empolgado - parece não ser uma qualidade quer no partido, quer no país. As pessoas gostam mais de gente certinha, que falem de forma ponderada mas sem conteúdo. E Assis, por vezes, é explosivo. E explosiva foi a sua proposta de abrir as eleições no partido a todos os simpatizantes do PS. Foi uma proposta interessante e louvável que nos garante que, apesar de trazer consigo alguns vícios socratianos (Lello, Santos Silva, etc), Francisco Assis poderia desempenhar o cargo de líder da oposição de uma forma mais dura e corajosa. E, também, é o candidato que mais condições tem para estabelecer pontes à esquerda.

Em suma, o que distingue os dois candidatos no vazio de ideias que ambos representam é o estilo de fazer política e como encaram o sistema político e as suas interacções.

julho 12, 2011

Durão - vergonha nacional



No meio do entusiasmo patriótico do Euro 2004, Durão Barroso negociou a sua ida para Bruxelas. O povo, quase de férias de Verão e completamente focado na bola, deixou que Sampaio não fizesse nada, que Santana chegasse ao governo e que entrássemos num dos períodos políticos mais cómicos – para não dizer trágicos – dos últimos anos.


Voltando a Barroso, a sua ida para a presidência da Comissão Europeia chegou a ser argumentada positiva para o interesse nacional – “ ter um português no topo de Bruxelas é bom porque pode cuidar dos nossos interesses”. O pensamento pequenino e subserviente em relação à Europa instalou-se e os partidos do arco da governação, PS, PSD e CDS, sempre acarinharam, de diferentes formas, Durão Barroso.


Passados sete anos, o cherne engordou. Está balofo, anafado, quase rebenta pelas costuras. O stress de ser um cão de fila de Sarkozy, Merkel ou Trichet deve ser enorme. Passados sete anos, e com a Europa a afundar-se, Barroso fica indubitavelmente ligado à crise da União. Um político fraco, sem ideias nem ideais, Durão é uma vergonha nacional. Até porque, enquanto o país se afundou devido à ganância dos mercados e passividade europeia, Durão e sus muchachos da Comissão não mexerem uma palha para inverter a situação ou, sequer, para chamar a atenção para tal.


Ontem, deu uma entrevista na RTP1. Não vi. Mas também não precisava para saber que apenas debitou banalidades. O homem forte de uma União em plena crise deveria ter o bom senso e a lucidez de se demitir e reconhecer os gravíssimos erros que cometeu. Deveria ter a coragem de, perante o povo português, admitir que fracassou e nunca mais voltar ao combate político. Mas não. Como estamos perante um político medíocre, ele lá se vai gabando do seu trabalho como boneco de plástico de quem, de facto, manda na União. Aliás, foi essa a condição para a sua nomeação. Falhadas algumas tentativas, teve que se arranjar um badameco qualquer que cumprisse o papel de porta-voz franco-alemão e que não incomodasse ninguém. Enquanto os cidadãos não tiverem um palavra democrática no papel da União, o resultado é este: Durão Barroso.


Depois de, milagre dos milagres, quase todos reconhecerem que se vive um problema europeu, pode ser que daqui a uns meses haja algum consenso: Durão Barroso ajudou a destruir a Europa.

julho 07, 2011

RTP - Volta a França

A RTP, como é tradição, compra todos os anos os direitos de transmissão da Volta à França. Não sei quanto custa à estação mas eu considero este evento digno de serviço público - o ciclismo é um desporto com muitos simpatizantes em Portugal, o Tour é a prova rainha e é em Julho, altura em que muitos portugueses estão de férias e podem passar tarde agradáveis a ver a competição.


Mas o que é que a RTP faz de há uns cinco anos para cá? Passa todas as etapas na RTPN, ou seja, em sinal fechado. Tendo em conta que o Eurosport também faz o mesmo - e com grande qualidade - eu pergunto qual é a necessidade de adquirir os direitos desta competição se depois é para passar as mesmas imagens de um canal concorrente. Porque quem tem acesso à RTPN também tem ao Eurosport. Se a RTP se dignasse a passar a competição em sinal aberto, eu compreendia a decisão da tranmissão da Volta a França. Mas pô-la em sinal fechado e em concorrência com outro canal é absurdo e espelha bem a pouca lógica que reina por aquelas bandas.

Mercados

Durante meses e meses, com Portugal mergulhado numa grave crise económica e social, a direita política sempre foi tentando convencer os portugueses que a culpa era de Sócrates e dos seus tiques autoritários que lhe retiravam a credibilidade necessária para governar. E sempre defendendo os mercados e as suas virtudes - não tinham culpa nenhuma no que estava a acontecer.
Ferreira Leite disse uma vez no Parlamento que as mesmas medidas do governo Sócrates tomadas por outro governo com credibilidade seriam bem vistas pelos mercados, e que quem paga é quem manda.
Passos Coelho prometia mais austeridade porque era isso o que os mercados queriam. E Cavaco Silva disse em campanha eleitoral que não se devia criticar os mercados e raramente referiu que a crise portuguesa tinha origem numa crise mundial.

Pois bem, bastou um corte de rating da Moody's para a direita, actualmente no poder, se lançar contra os mercados e descobrir que afinal a crise é global. Um murro no estômago, para Passos Coelho. Incompreensível, disse Cavaco, pedindo uma resposta europeia.

Portanto, a inocência dos mercados anteriormente louvada foi rapidamente esquecida. Agora querem atirar areia para os olhos de todos nós, fingindo uma incredulidade total. Não tarda estão a defender a reestruturação da dívida. Esquecendo que houve quem, durante a campanha eleitoral, dissesse a verdade sobre a crise económica.

julho 01, 2011

Um começo

O início do mandato de Passos Coelho começou torto. Primeiro, prometeu um governo com os melhores dos melhores e, olhando para o elenco ministerial, é difícil encontrar gente com capacidade técnica e política para exercer o cargo. Depois, prometeu reduzir o número de secretários de Estado e, em vez de 25, foram nomeados 35. Pelo meio ainda viajou em económica apesar de o Governo não pagar qualquer viagem na TAP.


Ontem, na apresentação do programa do governo na Assembleia, Passos Coelho revelou que, contrariando o que disse na campanha e o que estava no programa eleitoral, ia haver um corte de 50% no subsídio de Natal. Ou seja, quem andou a reclamar do Estado gordo e despesista toma, como primeira medida, um assalto aos contribuintes. Quem andou a prometer cortar na despesa, começa logo por aumentar a receita, recorrendo aos trabalhadores.


E só temos 15 dias de Governo.