A minha primeira decisão foi votar em branco. Por uma simples razão: o sistema eleitoral, pedra essencial do sistema político, é um sistema perverso que contribui em muito para a fraca qualidade democrática e cívica do nosso país. Ao votar nas legislativas estamos a votar em deputados que são eleitos por círculos plurinominais. Esses círculos correspondem aos distritos e às ilhas (mais os circulos "estrangeiros"). Mas um eleitor em Évora ou em Bragança que vote no seu deputado não se está a fazer representar na instituição política mais importante do nosso sistema. Esse eleitor está apenas a conceder um voto partidário numa pessoa qualquer que nunca defenderá a região pela qual foi eleita mas apenas pensará como o seu partido mandar. Ou seja, os deputados eleitos para o Parlamento são, todos eles, instrumentalizados pelo seu partido. E não é que estejam a desvirtuar as regras. A nossa lei eleitoral não diz que um deputado representa a região. Mas num país em que as assimetrias regionais são imensas, o nosso sistema de eleição da Assembleia da República assentua ainda mais o degradar da qualidade de vida das pessoas que vivem em regiões eternamente ignoradas em detrimento das lutas políticas de baixo nível - basta ver esta campanha para perceber isso.
Um eleitor deveria ter a possibilidade dupla de votar num partido e numa pessoa simultaneamente. Ou seja defendo um sistema misto ou mesmo um sistema em que o voto plurinominal (o actual) possa conter uma funcionalidade que permita que o eleitor vote num candidato directamente - o voto preferencial. Nenhum partido defende esta mudança. Muitos querem reduzir o número de deputados, medida da qual eu não concordo. Partidos como o BE ou CDU defendem a manutenção do actual sistema. Porque é o que lhes convém mais. Se bem que a minha aposta no sistema misto em nada alteraria o peso dos partidos pequenos - basta olhar para a Alemanha onde raramente há maiorias absolutas e há um peso importante dos partidos pequenos, para além de uma alta taxa de participação e o chamado voto táctico é altamente utilizado porque é possível votar em dois partidos na mesma eleição, aumentando o interesse e a participação cívica.
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