Mendes Bota e Massamá

O melhor do Pontal foi mesmo Mendes Bota. O homem empolgou-se, parece até que está de saída da chefia da distrital algarvia. E depois da defesa da regionalização - o mesmo discurso de há anos - Mendes Bota saiu-se com esta pérola, na defesa de Passos Coelho: "o homem vive em Massamá, é um homem do povo". São estes os verdadeiros apoiantes de Passos Coelho e os que irão, em caso de vitória nas legislativas, subir ao poder. Estamos, pois, todos muito mais sossegados.

Brasil e polícia

A propósito do caso que envolve uma secretária de um antigo milionário português, uma fortuna imensa e Duarte Lima, lembro-me de Jaime Ramos, o inspector de Francisco José Viegas, que já foi ao Brasil resolver um caso, não idêntico, mas com algumas semelhanças: morte de portugueses, dinheiro e gente importante.

Cândido Barbosa

Chamam-lhe o ciclista do povo. No início de cada volta a Portugal, o nome dele aparece sempre entre os favoritos. Nunca venceu nenhuma mas a imprensa gosta dele e ele gosta ainda mais do mediatismo que lhe dão em Agosto, quando há pouca coisa para relatar. Cândido Barbosa é um bom ciclista, regular e um óptimo sprinter, a sua qualidade desde sempre.

Na Volta que terminou ontem, Cândido ainda não tinha ganho uma única etapa - foi desclassificado numa em que venceu. Até que a organização, na última etapa, decide dar um brinde ao ciclista e ao povo e à televisão, numa vergonhosa decisão. Cândido perdeu bem o sprint e, mal cruza a linha de meta, sabendo que tinha culpa por não ter ganho, desata a berrar como quem diz "atenção que aqui há uma possível irregularidade que me pode dar a única vitória ná previsível última volta a portugal", para logo depois aos microfones dizer, cinicamente, "não é assi que gosto de ganhar". Pois não, ele não ganhou, foi bem derrotado por outro ciclista.

Esperemos que, para o ano, já não tenhamos que assistir a estes espectáculos tristes.

ps: a Volta foi bem ganha por David Blanco, este sim um ciclista simpático e brilhante.

Portas e o entretenimento

Paulo Portas, demasiado preocupado com a ascenção de Passos Coelho, está no auge da pose (falsa) de estadista. Ontem, no monólogo com Mário Crespo, voltou a defender um governo sem Sócrates, em que PS, PSD e CDS se juntem para três anos. Está mais que visto que o líder do CDS não "confunde política com entretenimento": o que ele faz, há anos, é entreter os eleitores. Quando a coisa mete submarinos é que o silêncio impera.

Revisão Constitucional

Passos Coelho não precisava de ter lançado a ideia da revisão constitucional para o ar. Gozava já de grande notoriedade na imprensa e caminhava a belo prazer para um mês de Agosto tranquilo, com Sócrates e o Governo bastante desorientados. Mas, teimoso, o novo líder do PSD quis mesmo mostrar que tinha umas ideias concretas, que aquilo da cooperação e do tango já o estava a maçar, que era preciso mostrar ao país que o PSD, para além de ter sentido de Estado, tinha ideias para o Estado.

O problema é que a revisão da Constituição proposta pelos sociais-democratas foi um tiro no pé. Desde logo porque permitiu uma ressurreição do PS como garante do Estado Social. Depois porque todos os sound bites à volta do tema foram em sentido negativo à proposta - poucas foram as opiniões positivas. E nesta altura de férias o pior que podia acontecer era isto.

Quanto à proposta em si: acreditar que Passos Coelho mais os seus apoiantes próximos queiram "aquilo" para Portugal até é fácil; mas é muito mais difícil acreditar que o PSD profundo e grande parte do seu eleitorado sigam o caminho do líder.

Cavaco

O presidente anda em campanha eleitoral há muito tempo, beneficiando de actos oficiais para debitar as habituais banalidades e fazer as figuras ridículas do costume. Não é problema nenhum não fosse o caso de ter estado praticamente calado durante todo o mandato e agora, no final e pensando no acto eleitoral que se avizinha, Cavaco não perca tempo a aparecer na televisão. Uma criatura pequenina, este presidente.

Tijolos

Esta casa tem estado parada. Depois de mais de cinco meses em Itália e o último mês ocupado com o Mundial, espero nos próximos tempos retomar os tijolos.

José Saramago (2)

Obrigado.

José Saramago

Receber a notícia da morte de um escritor a meio da leitura de um dos seus livros é difícil de gerir. Retomar o Ensaio sobre a lucidez vai ser bastante estranho.

Itália ao rubro (2)

Esta é a capa do jornal La Repubblica de hoje. La legge-bavaglio é, em síntese, uma lei criada pelo governo de Berlusconi que proíbe a publicação de escutas judiciais em meios de comunicação social. Para além disso, nesta lei estão previstas multas altíssimas para os prevaricadores. A lei está prestes a ser aprovada mas a contestação está cada vez maior. Para saber mais ler o editorial do La Repubblica ou então a notícia do El País - procurar informações de actualidade internacional nos jornais portugueses é desesperante.

Alegre

É oficial: Manuel Alegre acaba de perder as eleições presidenciais.

O Giro em poucas linhas

É possível resumir o Giro 2010 facilmente. Uma primeira semana calma com uma etapa em Montalcino que vai ficar para sempre marcada na história da competição, tal era a chuva e a lama. Depois, uma outra etapa maluca em que uma fuga de mais de cinquenta ciclistas conseguem uma vantagem impressionante e pôr a classificação de pernas para o ar, o que só aumentou o interesse. Na terceira semana, onde tudo se tinha que decidir, a Liquigas - a única equipa a sério nesta prova à entrada da última semana - teve que trabalhar no duro para levar o grande Basso até à vitória final. Mas o italiano provou que está numa forma impressionante e mereceu completamente a vitória, com duas etapas verdadeiramente incríveis, principalmente a do monte Zoncolan. No pódio ficou um David Arroyo que aproveitou a fuga referida e, porque tem talento, conseguiu segurar a sua posição cimeira - aquela descida até Aprica é memorável. Nibali, a promessa do ciclismo italiano, ficou em 3º mas não falta muito para ser ele o maglia rosa. Apesar da brevidade do resumo, esta edição do Giro de Itália foi bastante emocionante. Daqui a um mês, o Tour com Contador, Armstrong e...Basso.

Chico

Apesar das confusões - o retrato fiel deste governo - retenho o bom gosto de Sócrates.

Ivan Basso

Depois da suspensão, o ciclista que admitiu ter recorrido a substâncias proibidas - o único? - deu hoje a machadada final na vitória no Giro de Itália. Na forma em que está e com a belíssima equipa que tem - brilhante Liquigas - penso que Contador, o melhor da actualidade, teria muitas dificuldades em superar este Ivan Basso. O Tour deste ano não é para ele porque apostou tudo no Giro. Mas a Vuelta ainda está longe e poderá pensar em vencê-la novamente. Que grande Basso, das melhores prestações dos últimos dez anos em grandes voltas. E a fazer esquecer a edição do ano passado em que o vencedor, Menchov, ganhou com um calculismo super aborrecido.

Lágrimas

Uma das coisas que ontem me fizeram arrepiar foi o abraço de Mourinho a Moratti. Só o Porto me faz arrepiar e ali estava o Porto: estava Mourinho a chorar abraçado a Pinto da Costa, festejando o triunfo de Gelsenkirchen. Tudo o que na noite de 26 de Maio de 2004 não aconteceu mas devia ter acontecido - lágrimas, sorrisos, alegria, emoção - da parte de Mourinho, aconteceu quase seis anos depois. Já disse, mesmo antes da final, que Mourinho estava perdoado da minha parte. Depois de o ver chorar compulsivamente como ontem, tendo a certeza que se emocionava ainda com a primeira final ganha, o perdão fica ainda mais fácil.

SCUT's

A partir de 1 de Julho, três auto-estradas do Norte do país - para não variar - vão passar a ser pagas. São as mais que badaladas SCUT's. A quase um mês da entrada em vigor, ninguém sabe como se processará esta mudança. Se a introdução parcial de portagens é um escândalo, maior vergonha é o cidadão não ter direito a saber todos os detalhes que alterarão, substancialmente, a sua vida. Uma autêntica palhaçada socialista todo o processo das SCUT - desde a sua criação até às inevitáveis portagens.

Amor e pragas

Está a fazer seis anos que roguei uma praga a um senhor do futebol. Não que eu seja um utilizador regular destes métodos mas na altura foi o que me ocorreu. No meio de uma alegria enorme, o homem que me tinha dado os melhores momentos da vida de adepto diz que ia abandonar, ia partir para Londres atrás dos milhões e nem sequer um sorriso esboçou. Foi uma punhalada demasiado forte: "Mourinho, não voltas a ganhar a Liga os Campeões por outro clube a não ser o Porto".

Logo no ano a seguir, o azar e a incompetência de um fiscal de linha em Anfield Road impediram o Chelsea de Mourinho dizimar o AC Milan na final de Istambul. Depois foi a superioridade do Barcelona de Ronaldinho, Eto'o, Messi e, ironia, Deco, o melhor jogador de sempre do FCPorto.

Porém, quis o destino que Mourinho voltasse a uma final da Champions num ano em que eu estou perto dele, a estudar em Itália e onde o seu clube joga muitíssimo bem - e não estou a exagerar. Desde Fevereiro, lendo a imprensa italiana, percebi que ele continuava igual - ou se ama ou se odeia a criatura. Itália odeia-o, com excepção dos adeptos nerazzurri. Tal e qual o que aconteceu entre 2002 e 2004 em Portugal: os adeptos do Porto amavam-no, o resto do país detestava-o. Foi apenas preciso o homem abandonar Portugal para ter honras de directos na tv - lembram-se de António Esteves Martins, na RTP, em directo de Stamford Bridge na apresentação do Special One?

Isto tudo para dizer uma coisa, Mourinho: eu amo-te e a praga está desfeita. Ganha lá hoje a taça.

(quanto a ires para Madrid, sabes bem que não o deves fazer.)

O túnel e o 4-4-2

Ainda aqui não escrevi nada sobre o título do Benfica. Foi justo, não há nada a dizer. Apesar de demasiado empolado pela comunicação social - se era assim tão bom, à 25ªjornada já devia ser campeão. Porém, há uma coisa que me tem irritado bastante: as desculpas de pessoas ligadas, de alguma forma, ao FCPorto dizendo que se não fosse o túnel da Luz e o castigo de Hulk o Benfica não teria sido campeão, argumentando que, desde o regresso de Hulk, a equipa ganhou todos os jogos. Lamento mas a razão das vitórias nesses jogos prende-se com a utilização do 4-4-2, sistema táctico que Jesualdo desdenhou desde a primeira jornada quando toda a gente sabia que o plantel do Porto tinha uma grande maioria de jogadores que poderiam render muito mais jogando em 4-4-2 do que em 4-3-3 - Belluschi, Falcão, Farías, Guarín e Hulk. Se o casmurro do Jesualdo tivesse apostado em quatro médios desde o início - e só o fez por causa das lesões - era mais certo nem ter havido túnel da Luz. Bastava o FCPorto não ter feito das piores exibições em jogos grandes dos últimos 15 anos e ter ganho o jogo contra a equipa B do Benfica.

(isto ainda não é um texto de despedida ao professor. a seu tempo...)

O PS e a extrema-direita

Via Esquerda Republicana, descubro mais uma fascinante aventura das duas deputadas conservadoras e de extrema-direita que o PS alberga nas suas listas. De facto, é inexplicável como é que estas senhoras ainda andem por lá. Matilde Sousa Franco durou apenas um mandato, patrocinando algumas brincadeiras da direita. Estas parecem ter raízes. Pelo menos não têm vergonha de mostrarem quem são. O PS é que parece não ter problema algum em fazer-se representar por gente desta.

Frasquilho

Não sei como é que Miguel Frasquilho é, ainda, deputado. Mas em Portugal ter duas opiniões sobre o mesmo assunto parece, cada vez mais, fazer parte do dia-a-dia da vida política portuguesa. O caso Frasquilho é grave e a tentativa que o próprio faz em desculpar-se é ainda pior porque tenta fazer dos eleitores parvos.

13 de Maio

Festejar um outro 13 de Maio.

Uzbequistão

Ler esta reportagem sobre o regime uzbeque, as ligações de Laporta - um gajo execrável, diga-se - com aquele país e onde Scolari está a ganhar a vida. No El País.

(via correio preto)

Giro

Arranca hoje o Giro de Itália. Favoritos são vários e todos velhos: Basso, Evans, Vinokourov e Sastre. O contra-relógio por equipas poderá ser decisivo porque nem todos os favoritos têm nesta prova os seus melhores companheiros. O facto de a prova terminar com um crono em Verona também ajudará os melhores nessa especialidade. Mas, olhando para o traçado da prova, é a montanha que vai decidir tudo já que são imenas as chegadas ao alto.

A derrota de Blair

Uma pessoa olha para os resultados no Reino Unido e só pode pensar uma coisa: os eleitores castigaram fortemente os Trabalhistas e toda a sua política dos últimos 13anos. Blair, Gordon Brown e todos os que criaram o New Labour levaram ontem a cabazada esperada e só não foi pior porque a direita inglesa tem um líder fraco. Mas como a tradição ainda manda pelas ilhas, o partido que perdeu as eleições, por uma boa margem, pode continuar a liderar o país. A confusão continuará nos próximos dias.

Misto

Não era preciso a confusão que vai no Reino Unido para saber que o círculos uninominais são uma verdadeira distorção da vontade popular. Eu, cá para mim, continuo a preferir o sistema misto. Como na Alemanha, por exemplo.