outubro 31, 2010

Novas formas de participação eleitoral - o poder das sondagens

Nos manuais de Ciência Política é usual termos um capítulo dedicado às "novas formas de participação política", referindo-se a boicotes, petições e à utilização da internet, entre outras coisas. No entanto, há que não esquecer a mais poderosa forma de participação política nos dias de hoje, a seguir ao voto: as sondagens. Querem condicionar um governo? Digam o sentido de voto que mais convém ao cenário político desejado.
Esta semana foi perfeitamente evidente o peso das sondagens na actuação do governo. Depois de várias semanas ao ataque, embalados pela confusão no PSD e por sondagens simpáticas, o PS e o governo viram os seus níveis de popularidade baixarem para valores demasiado baixos nos inquéritos à população e os socialistas tiveram que mudar de estratégia: um dia depois de terem rompido as negociações do Orçamento, pensando entalar quer Passos Coelho quer Cavaco, eis que duas sondagens obrigaram Sócrates, Silva Pereira e companhia a declarar que o Governo continuava bastante empenhado nas negociações, com um ar mais calmo e preocupado do que o habitual. Ver um primeiro-ministro ponderado, a anunciar que "se os portugueses querem um acordo, o governo tem a obrigação de lutar por ele" (citação livre), foi comovente. Que as sondagens são poderosas, não é novidade. Exemplos destes, com tão forte dimensão, é que não há todos os dias. Greve geral? Participar numa sondagem e dizerem-se eleitores do PSD - mesmo que votando Bloco ou CDS - é capaz de ter mais efeito neste governo.

outubro 23, 2010

Representação parlamentar

Um dos discursos mais repetidos pelos cidadãos nos fóruns ou mesmo nos barómetros de opinião é a insatisfação dos eleitores com os deputados, fazendo uma péssima avaliação do Parlamento. Se por um lado esta crítica é injusta porque o cidadão comum não sabe e não conhece o verdadeiro trabalho de um deputado - cada vez mais se tem feito um esforço para conhecer o verdadeiro trabalho do deputado, por parte da imprensa -, por outro lado surgem casos, cada vez menos pontuais, que nos levam a um dos problemas da democracia portuguesa: a representação parlamentar.
O facto de não podermos escolher os nossos deputados directamente faz com que os próprios se sintam "propriedade" do partido e não do eleitor. Nas últimas semanas vimos o caso de Fernando Rosas e de Agostinho Branquinho, eleitos há um ano para o Parlamento, que decidiram suspender o mandato por razões diversas. O caso mais gritante foi ainda o de Deus Pinheiro que nunca se chegou a sentar na Assembleia - já para nem mencionar o de Alberto João Jardim. Isto só para falar de abandonos. Outros casos remetem-me para declarações absurdas como a de um deputado do PS queixando-se que, com os cortes salariais, não iria ter dinheiro ao fim do mês, nem para comer. Ou o caso da deputado comunista Luísa Mesquita que foi obrigada a abandonar o cargo pelo partido. Isto só para citar alguns casos mediáticos - outros semelhantes existem.
Então o que fazer para responsabilizar mais o deputado que é eleito para a Assembleia? Desde logo mexer na lei eleitoral. Ao se ler estas linhas pensa-se em círculos uninominais. Na minha opinião, não são nem fundamentais nem desejáveis para alterar o actual sistema. Criaria uma sub-representação dos pequenos partidos, dando demasiado poder aos dois maiores. Solução? O voto preferencial é uma delas. Há estudos para o caso português mas, como sabemos, os grandes partidos e também os outros, não querem alterar o status quo porque os beneficia a todos de várias formas. Os grandes porque continuam a poder mandar nos seus homens como querem. Os pequenos porque o método de Hondt praticado em Portugal é benéfico para a sua representação parlamentar num número considerável.
Esta é uma das questões que eu gostaria de ver ser debatida na campanha eleitoral presidencial.

outubro 22, 2010

Vítor Baía


As declarações polémicas de Baía a uns miúdos de uma escola qualquer no Porto mostram bem que o antigo guarda-redes nunca poderá ser um bom presidente do FCPorto. Nem está realmente em causa o que ele disse - também está mas já lá vou. A forma descontraída com que tem tecido considerações sobre o clube e o futebol português, o conteúdo vazio e meramente opinativo do seu discurso mostram um homem sem carácter forte para alguma vez liderar um projecto como aqueles a que se "propõe". Uma escolinha de jogadores ou as actividades da sua fundação são já um trabalho muito exigente para Baía. Presidir a um clube - que não é só futebol -, uma tarefa hercúlea.

Vamos então às declarações. Que os profissionais do FCPorto que têm grande sucesso não são reconhecidos da mesma forma que os dos outros clubes, é uma verdade. Porém, Baía não disse só isso. Disse que o clube era muito fechado e que perdeu uma grande oportunidade para se abrir ao mundo depois das conquistas europeias de 2003 e 2004. A crítica até pode ser legítima mas eu pergunto: que trabalho se reconhece a Vítor Baía como director das relações externas do clube? Por que é que nunca explicou a sua saída do cargo? Poderá o ex-guarda-redes confirmar que se tratou de uma simples birra por não ter tido um cargo mais importante na estrutura do clube? E questiono ainda: o FCPorto de 1989, dois anos depois de ter sido pela primeira vez campeão europeu e quando Baía começou a jogar pelo clube, é igual ao FCPorto de 2007, quando Baía o abandonou como jogador? Não me parece.

Vítor Baía deve TUDO ao clube. Por isso, e apesar de não estar invalidado de fazer qualquer crítica, tem que reconhecer que, por um lado, se tivesse sido jogador do Benfica ou do Sporting, nunca teria tido o mesmo sucesso; por outro, já teve responsabilidades no clube. Muitos poderão dizer que o cargo de Baía era folclórico - então porque é que o aceitou?

Antes de terminar, duas notas. Em primeiro lugar, dizer que o FCPorto tem ainda muitos defeitos. Que não serão, com certeza, a falta de abertura ao mundo ou mesmo a integração no clube das antigas glórias, outra das críticas de Baía. Baste ver as equipas técnicas dos diversos plantéis das camadas jovens nos últimos 15 anos para se encontrarem nelas muitos antigos jogadores, ao lado de profissionais competentes vindos do exterior. Um dos defeitos do clube será, porventura, a política de contratação de jogadores e todo o esquema à volta disso. Mas com isto Baía está plenamente de acordo.

Segundo, Baía é um dos melhores jogadores de sempre do clube, o melhor guarda-redes português de sempre e, por isso, um ídolo para mim. Mas dentro dos relvados. Fora deles, um desastre.

RTP memória

Porque o maradona é um grade sacana e apaga todos os seus textos, é melhor reproduzir este todo aqui mesmo. É sobre a RTP Memória e é de leitura obrigatória. Voilá:
"A RTP Memória poderia ser o melhor canal de televisão de Portugal do mundo de sempre. Todavia contudo ao invés e por enquanto, é o pior, de longe. Hoje, dia 21 de Outubro, as espinais medulas que comandam o fluxo ondulatório que de lá emana oferece-nos séries históricas que só nos arquivos da RTP se encontram vestigios, como o Poirot, os Soldados da Fortuna, o virgem MacGyver ou os Jogos sem Fronteiras de 1990; e quando o problema não é as lembranças não serem particulares à RTP Memória, o simples racionamento do gosto pelos vários escalões culturais desaconselharia que, num mesmo dia, optassem pelo Nico d'Obra, Na Paz dos Anjos (uma novela do Nicolau Breyner), o Sétimo Direito (sitcom do Henrique Santana), Grande Aposta (outra novela de outro ser humano) e uma programa de invariadades musicais chamado Musica não sei quê com o Marco Paulo. Acresce a isto que a produção própria do canal dá tempo de antena ao Eládio Clímaco, à Helena Ramos ou à Isabel Angelino, desbravando assim terreno no campo da ironia dos despedimentos colectivos, muito embora revele criatividade ao nivel das chefias no sentido de arranjar novas estratégias para informar determinados funcionários de que estão ali contra a vontade das cúpulas; e só se subtrai a esta hecatombe homérica o fatídico Horizontes da Memória e uma coisa chamada "Retrospectivas". Repare-se, todavia contudo ao invés, na descrição deste "Retrospectivas":

Espaço de memórias sobre o País e o Mundo numa retrospectiva de cinco décadas. Cada programa relembra acontecimentos ocorridos no mês em questão, nos anos de 1960, 1970, 1980, 1990, e 2000. Pretende-se reviver acontecimentos que foram notícia, a nível nacional e internacional, com as imagens que fazem parte do património da Rádio e Televisão de Portugal.

Mas não estamos num canal de, e passo a citar, "memória"? Então, e num canal que visa explorar a memória colectiva portuguesa, vamos criar um espaço exclusivamente dedicado a recuperar os acontecimentos de há décadas e décadas atrás, que partilhem apenas o facto de terem ficado registados nas bobines da RTP? Não estarão a esticar um bocadinho demais um conceito? Qualquer dia descaractrizam por completo a ideia que presidiu à criação da RTP Memória. É como se, de hoje para amanhã, o Canal Benfica criasse um espaço na sua programação exclusivamente dedicado a falar de assuntos relativos ao Benfica.

A dinâmica da RTP Memória ultrapassa-me. Por um lado, dão-se ao trabalho de editar milhares de horas de telejornais separados por décadas para os reunir em pequenas secções de 10 minutos, conseguindo assim, e recorrendo apenas a um conceito, empregar muitas pessoas durante muito tempo e extrair qualquer particula de interesse de conjunto (falo do famoso contexto) ao propósito de exibir noticiários antigos. Por outro, evitam cuidadosamente tudo o que é verdadeiramente história colectiva (onde estão as reposições dos grandes debates políticos nacionais?, e as grandes entrevistas a figuras públicas? e as grandes reportagens que, de vez em quando, se faziam?, e as outras merdas também grandes? e as coisas mais pequeninas, como os documentários do Brandão Lucas para o Totobola? e o gajo que ensinava química?), e centram-se em reptições naseabundas de series de ficção nacionais grotescas, ou estrangeiras, que não sendo todas elas grotescas, ou passam todos os dias nos canais cabo estrangeiros, ou estão à venda em DVD pela semiótica quantia de 1 euro cada centena de episódios.

Era tão fácil ser muito melhor que isto. E uma boa oportunidade de escapar à acusação de elitismo: eu sou a única pessoa sem um mestrado ou doutoramento que se interesa pelo que a RTP Memória poderia ser e não é; se a re-elitizassem ao ponto de o eduardo prado coelho ressuscitar para assitir à programação, a minha boca não se abriria a não ser para despejar mais uma colher de gelado de baunilha do pingo Doce pela goela abaixo."

outubro 21, 2010

Anedota


Reparem. Um deputado do PSD, que diz estar a mando da direcção do seu partido, vem pedir que Pedro Silva Pereira se cale, acusando-o de ser um "megafone do PS". O deputado, que nem merece ser nomeado aqui, justifica-se dizendo que o "ruído é mau conselheiro". Ou seja, convoca uma conferência de imprensa, a mando do partido, criando apenas ruido, para acusar o adversário de fazer aquilo que o próprio partido também faz. Uma anedota.

outubro 20, 2010

SCUT's (2)

Dois casos que mostram bem porque é que a introdução de portagens nas SCUT's é dos processos mais idiotas dos últimos anos.
1- Uma reportagem da RTP na zona de Gaia. Conheço bem já que vivo ali mesmo e o caso apresentado é verdadeiro. Um sistema ridículo que cria situações destas mostra bem a falta de jeito deste governo e do Estado e também o descaramento com que se criam estes modelos apenas para saciar a boca gulosa do Estado em tempo de crise, sem pensar primeiro nas pessoas.
2- As SCUT's vistas de Espanha. Palavras para quê?

O Mar em Casablanca


Jaime Ramos é um dos meus personagens preferidos. Apesar de não ser, no meu entender, o melhor romance de Francisco José Viegas - de quem eu gosto muito, principalmente como escritor e portista - O Mar em Casablanca é um bom livro, com personagens intrigantes e, como sempre, um belo cenário de fundo a acompanhar a história. E depois há Jaime Ramos.

Passos errados


Os tempos de crise não são apenas negativos para o governo. A oposição - principalmente aquela que tem que parecer mais responsável perante os eleitores - vive dias de angústia, sem saber o que fazer, não sabendo como actuar de forma a não perder terreno eleitoral. Passos Coelho, que só não será primeiro-ministro se não quiser, comete erro atrás de erro, quando há seis meses tudo parecia encaminhado para o PSD chegar ao poder depois de umas calmas e irrelevantes presidenciais. Rodeado de pessoas fraquíssimas, a exaltação do "passismo" na festa do Pontal serviu para alertar alguns portugueses do que aí virá.

Isso e mais a história da revisão constitucional afundaram as expectativas de maioria absoluta, ou mesmo de uma simples maioria laranja. E se as coisas já estavam más, pior ficaram quando o PSD, perante um governo frágil e a tomar medidas impopulares - apesar da concordância laranja na forma - decide continuar a errar. O tabu do Orçamento é de tal forma bizarro que Passos Coelho terá que escolher não o que convém mais ao PSD mas sim o que convém menos mal. Se ajuda a aprovar, volta a estar ligado à política do governo e ao seu prevísivel falhanço. Se não aprova, contrariando os seus gurus na Europa já que a Comissão e a Alemanha são dois exemplos muito queridos ao PSD e que exigem a aprovação do Orçamento, senão aprovar, dizia, fica ligado a uma das mais graves crises políticas nacionais por causa de uma birra incompreensível aos olhos do seu eleitorado natural. Sim, porque este PSD desde que se lançou na batalha constitucional parece não perceber que precisa imenso do seu eleitorado base que está a léguas à esquerda dos actuais donos da São Caetano. Pensar que em Portugal há um eleitorado liberal, ou perto disso, é não conhecer o país.

E, no meio disto tudo, há as presidenciais. Ou Cavaco tem a certeza da aprovação do Orçamento para começar a sua campanha oficial - a oficiosa está em marcha desde Maio - ou então deve estar farto do líder laranja. Passos Coelho não parece importado, o que não é condenável, visto que o actual presidente tem a sua quota parte de responsabilidade na crise que se vive.

Parece que, depois de reunido, o PSD vai propor algumas condições, depois de semanas em que andou apenas a berrar para a comunicação social. A flexibilidade do governo em negociar parece pouca mas é um sinal que pode haver abstenção do PSD.

O actual governo tem governado mal. Mas este PSD não está preparado para ser poder.

outubro 17, 2010

A crise e as manifestações

A crise acentua-se, já se conhece o Orçamento e a sua cruzada contra os que menos têm, a greve geral já está marcada - muito longe no tempo, mesmo assim. Que podem os portugueses fazer, aqueles que não se deixam contaminar pelo discurso dominante nos mass media de que tudo isto é inevitável e que tem que se apertar o cinto e que uma greve geral é uma ideia que vai prejudicar o país, que fazer, dizia, perante tudo isto?
Em primeiro lugar, aprender com França. O que se está a passar no hexágono deve ser exemplo para os nossos líder sindicais. A propósito disto, ler os excelentes textos de Miguel Serras Pereira e de Joana Lopes. Em segundo lugar, lembrar que já foi possível vergar este governo. Seja no caso das maternidades, seja quando houve o bloqueio dos camionistas. As pessoas não podem nem devem olhar para a greve geral como uma formalidade dos sindicatos, apesar de todos os seus defeitos. A greve geral é a melhor e mais forte oportunidade de fazer perceber ao governo que está no caminho errado.

outubro 14, 2010

Entrevista na Judite

O país atravessa uma grave crise económica, social, financeira, política e por aí adiante. E quem é que Judite de Sousa entrevista no seu programa semanal? Paulo Bento, está claro. E a semana passada foi o grande Bettencourt. É por estas e por outras - a má condução de entrevistas - que eu não ligo nenhuma às conversas na Judite.

outubro 13, 2010

PCP e a China


A posição que o PCP tomou em relação ao prémio Nobel da Paz atribuído a um activista chinês não escandaliza ninguém. Só pessoas alheadas da realidade poderiam supor que o PCP viesse sair em defesa de Liu Xiaobo. Porém, a permanência das afinidades políticas entre o partido português e o regime chinês são, a meu ver, completamente aberrantes. Desde logo porque no regime totalitário chinês vigoram inúmeras coisas contra as quais o PCP luta, dizem eles, todos os dias em Portugal. Da liberdade de expressão ao capitalismo, passando pela opressão sobre os trabalhadores e pela ausência de eleições livres e pluripartidárias, a República Popular da China, para além de ter pouca coisa de comunista, caminha a passos largos para ser a próxima potência económica, política e militar do mundo - superando o inimigo do PCP, Estados Unidos. Basta perceber a sua importância no Conselho de Segurança na ONU ou a sua influência em vários países, principalmente africanos, para vermos neste país um inimigo da doutrina do PCP. Mas isto, juntamente com a outra afinidade asiática - Coreia do Norte - serve para ficarmos muito bem elucidados sobre o que aquelas criaturas pensam e desejam.

outubro 12, 2010

Moto GP


As inovações tecnológicas e regulamentares que a meio da última década atingiram o campeonato do mundo de motociclismo retiram às corridas mais de metade do espectáculo. Apenas as vibrantes corridas de 125cc continuam a valer a pena, apesar da natural inexperiência dos pilotos. Valentino Rossi, o homem que mais ganhou nos último tempos, não tem culpa das mudanças: continuou a ganhar porque é o melhor, de longe, mesmo passando para uma fraquíssima Yamaha, agora uma potência devido ao italiano.

Esta época o campeão chama-se Lorenzo, um convencido espanhol que tem a mania que é cool e que consegue ser tão ou mais espectacular que Rossi. Não o é, toda a gente o sabe, até o próprio. Este ano teve toda a fortuna do seu lado e, aproveitando lesões de Rossi e Pedrosa e a péssima prestação da Ducati de Stoner, foi um fácil campeão. Tal como Crivillé, o outro espanhol campeão do mundo, que apenas conseguiu ser campeão quando Doohan caiu no início da época e partiu uma perna. Depois de muitas tentativas, Crivillé ganhou o título à frente do estreante na categora rainha...Valentino Rossi. Para o ano, o italiano correrá com uma Ducati. A tarefa não será fácil. E Lorenzo, goste-se ou não, tem uma mota a um nível elevado. E ainda há Pedrosa que, finalmente, fez uma boa segunda metade do campeonato.

outubro 07, 2010

Vargas Llosa


Só li este dele e é um dos meus preferidos, um extraordinário retrato da cruel ditadura de Trujillo na República Dominicana. Segue-se "A tia Júlia e o escrevedor" que já estava na cabeceira, à espera no meio de mais dois ou três livros. Vai passá-los à frente, obviamente.

outubro 06, 2010

Viva a República


Tenho lido, visto e ouvido muita coisa a proósito do centenário da implantação da República. Não é que o tema me desgaste - pelo contrário, sou um republicano convicto, aturar as criaturas da monarquia é que não! - porém só hoje, dia 6 de Outubro, li algo que gostei mesmo. Rui Tavares no Público, num artigo intitulado "100 anos e um dia":

"Parece que a I República cometeu o grande pecado de ser uma balbúrdia - mas por oposição a quê? Pelos vistos, deve haver quem ache que o resto do mundo era, naquele primeiro quartel do século XX, uma espécie de pacífico jardim.

(...)

...há gente que faz da leitura da I República uma única lenga-lenga sobre como os líderes políticos portugueses da época eram defeituosos. Pois eram. Sem querer ser preciosista, esse é exactamente o sentido da República: sermos governados por gente imperfeita. Precisamente porque não existe gente perfeita, nem gente que herde a predisposição para governar vitaliciamente um país, o princípio republicano é o de que nem o nascimento nem a classe social devem vedar alguém de eleger e ser temporariamente eleito.

(...)

Pelo grande gozo que é "irritar a esquerda", pratica-se o contorcionismo da mioleira. Mesmo assim, o liberalismo continua a ser melhor que o absolutismo; e a república melhor do que a monarquia; e a democracia melhor que a ditadura. Melhores porque regimes mais livres e mais iguais, mais próximos do princípio de que a sociedade se pode - e deve - auto-governar. Isto não faz destes regimes isentos de críticas; mas fá-los certamente dignos de comemoração, dignos de serem lembrados em conjunto. Mas, lá está, Pedro Passos Coelho faltou ontem ao lugar onde se proclamou a República; como a direita portuguesa em geral faz por ausentar-se do 25 de Abril. É uma atitude de ignorância voluntária que só poderia desculpar-se se ao menos fosse clara e assumida. Mas, enfim, não se pode exigir vontade a quem não a tem. A melhor comemoração da República é viver querendo governar-nos a nós mesmos. Uns dias melhor e outros pior."

Petição

Petição pelo pluralismo de opinião no debate político-económico. Ler e assinar aqui.

outubro 05, 2010

Soares e a falta de vergonha

Chega a ser execrável o comportamento de Mário Soares nas últimas semanas: os constantes elogios a Cavaco metem nojo, para quem só houve críticas e ataques durante, digamos, uma vida inteira. Depois do suicídio político em 2006, quer vingar-se de Manuel Alegre aproveitando todas as oportunidades para defender o comportamento do actual presidente. Deprimente.

Sem rumo

Que o PSD anda perdido, já deu para reparar. Mas insistir nos erros da anterior direcção é inexplicável. Depois de uma linha telefónica em plena campanha eleitoral aberta por Ferreira Leite, Passos Coelho e a sua tropa lançam uma auscultação aos cidadãos para "cortar na despesa". Parece que os conselhos dos economistas da desgraça não foram convincentes. Como diz Pedro Sales no Twitter, "o PSD optou pelo Fórum TSF depois de ter ouvido o Plano Inclinado". Querem mesmo ser poder, estes senhores do PSD?

outubro 03, 2010

Onde pára o PS? - excertos de artigo de São José Almeida

São José Almeida, jornalista do Público, escreveu ontem um muito bom artigo de opinião, intitulado "Onde pára o PS?". Dele retiro alguns excertos:
"Ainda que haja alguns agentes políticos que questionam a substância do que está a ser feito, a sua penetração na opinião pública é difícil. Convencionou-se, entre os que dominam a opinião publicada e o comentário político, que as posições da esquerda portuguesa, ou seja, do PCP, do BE e da CGTP, não são para serem tidas em conta na grelha de análise, e é hábito assente que o que a esquerda diz não é para levar a sério".
"Mas a deriva conservadora e de direita que tem assolado a Europa criou também uma situação em Portugal que transformou o PS no grande paradoxo desta situação chamada «crise»".
"(...) será que no PS ninguém está em condições de internamente defender os valores da social-democracia e a sua transformação e adaptação ao mundo de hoje, mantendo como paradigma o bem-estar de todos os cidadãos obtido através da redistribuição da riqueza?(...) Será que dentro do PS português, ao longo dos últimos seis anos, ninguém percebeu o que estava verdadeiramente em causa no seu evoluir?(...) O que resta de esquerda no PS e nos ideais dos seus dirigentes? Ou será que apenas estão colados aos lugares institucionais com o cimento do poder? É que esse, um dia, mais tarde ou mais cedo, vai acabar."

outubro 02, 2010

Austeridade


O mês de Setembro acaba com o anúncio do Governo de um plano de austeridade "a sério", citando os economistas do costume. Sócrates e o PS tiveram um mês para se prepararem para isto, com Casa Pia, caso Queiróz e revisão constitucional para entreter o povo e os media. Mas, na quarta-feira, era inevitável anunciar ao país que estamos mal e que precisamos, novamente, de apertar o cinto - o terceiro ou quarto nos últimos anos. Medidas difíceis que provocaram um "aperto no coração" do primeiro-ministro e "felicidade" em Almeida Santos por ter um Governo com coragem suficiente para as tomar. Em obedecer à opinião dominante dos media, à OCDE, à Comissão Europeia e ao PSD não vislumbro coragem mas sim falta de estratégia.

As medidas, que nos últimos meses têm sido apregoadas pelos habituais especialistas, provocaram uma curiosa reacção desses mesmos especialistas: parece que é pouco. Contaminaram a opinião pública com um discurso de contenção, que se devia cortar na despesa e mais e mais, e quando o Governo anuncia o corte na despesa parece que não é suficiente, que os dois milhões de pobres em Portugal, coitados, têm ainda demasiado dinheiro para sobreviver ao quotidiano de crise instalado no país há quase dez anos. Salgueiros, Medinas, Duques, Césares das Neves, entre outros que o PSD ouviu antes de ir à aula com o prof.Cavaco, são directamente responsáveis pelo estado em que o país se encontra economica e financeiramente. Mas não têm o pudor suficiente para não aparecer constantemente a emitir diagnósticos e soluções para o que criaram.

O PSD continua sem rumo. Meteu-se na revisão, exigiu corte na despesa e, agora que a única coisa que o distancia do orçamento é o aumento do IVA, está de mãos atadas. Miguel Macedo, líder parlamentar, bem como o líder e os conselheiros económicos, vão alertando que o Governo escondeu problemas e não agiu a tempo para os solucionar. Porém, quem andou a brincar às revisões não foi o PS nem qualquer outro partido. Tivessem investido no combate diário à política governamental e agora estariam numa posição bem mais confortável. Vão aprovar o orçamento e vão ter que esperar pelas presidenciais para redifinir estratégias. É que já não podem rezar pelo insucesso das medidas de austeridade propostas pelo Governo: estão tão ligadas a elas como Sócrates e Teixeira dos Santos.

O facto de virem aí presidenciais poderá dar algum descanso ao Governo. No entanto, estas medidas terão que se aproveitadas pelos restantes partidos de oposição. À esquerda, pede-se algo novo no combate ao governo. O povo não é parvo e estará um pouco farto desta falta de assunção de alguma responsabilidade política. Se o PCP e, principalmente, o Bloco querem ter um papel decisivo, apenas com uma mudança poderão conseguir resultados. Já o CDS estará a ponderar se aprova o Orçamento. Isso, e divertir-se com os tiros no pé do PSD.

outubro 01, 2010

Manifesto de Fachada


Fachada aparece na minha vida de forma casual. Leio na imprensa que há um tipo que se inspira em Caetano, Zappa, Variações ou Chico e a minha curiosidade aumenta para níveis máximos. Chega-me ao ouvido um disco, homónimo, coisa que não gosto, mas que abre com uma música chamada "Responso para maridos transviados". Paro, escuto e fecho os olhos. Aquilo, começado assim, só podia correr bem. E correu, lindamente.

Entre "cantigas de amigo" e "desamores", Fachada conta-nos histórias fantásticas, musicadas a um nível pouco visto por aí que prendem o ouvinte mais desatento. E, depois, há um pormenor que não pode ser esquecido: a inteligência de Fachada, as referências que nos aparecem numa simples história de amor - "Kit de prestidigitação" é talvez o mais óbvio exemplo disso, com Cesariny, Vinicius ou Zeca, numa música que me lembra sempre "Trocado em miúdos", do Chico, já que se conta em ambas a história de uma separação, mas com Fachada numa versão mais alegre do que o brasileiro.

As mulheres também estão presentes em quase todas as músicas do disco homónimo. Há uma "bela Helena" que é uma flor de massapão, uma outra mulher que anda numa "Velha Europa" deliciosa e, quase a acabar o disco, uma criatura que "só lhe falta ser mulher". No meio, Fachada não sabe se há-de "esperar ou procurar", na música mais dançável do disco - só não digo a melhor porque todas elas falam de amor de forma extraodinária, cada uma acrescentando uma coisa diferente.


Depois do homónimo, Fachada anuncia que "Há festa na moradia", um título, este sim, delicioso. Mais curto (sete músicas), "de Verão", segundo o autor. E se este é um disco estival, o anterior é claramente de inverno, daqueles para ouvir num dia frio, com mantas, compotas, mel, bolachas. Mas vamos ao novo disco: Fachada dá-nos sete músicas dançáveis, festivas, com folclore e as festas de Agosto na mente. A música com o mesmo título do disco é uma espécie de Farpa de Ortigão e Eça, mas na voz de Fachada, e a mulher deste disco é "Joana transmontana", numa história de êxodo rural. Antes de perguntar "quem quer casar com BFachada", faz uma bela homenagem aos "Discos de Sérgio Godinho", uma inflûencia clara na música de Fachada.


E é assim, estou apaixonado pelo Fachada. Por que é que digo isto hoje? Porque amanhã vou matar a paixão: vê-lo ao vivo. É o que falta. Ah, e também me falta ouvir as músicas anteriores ao disco "B Fachada". Ainda não tive coragem. Aquele é tão bom que tive o último para ouvir durante um mês e o medo de me desiludir era tão grande que nem o pus a tocar. Devagarinho, lá fui escutando, escutando, e amanhã, na Sociedade de Geografia, espero que Fachada dê o golpe final.


ps: o concerto de amanhã tem dois bónus: Lula Pena e JP Simões. A primeira, é uma delícia. O segundo, um outro amor meu - já o vi ao vivo - que fez o melhor álbum português da década: "1970".

Contador


A confirmar-se o controlo positivo de Alberto Contador, estamos perante o fim do ciclismo. O espanhol tinha dado ao ciclismo actual uma nova alma, principalmente depois dos casos de Landis, Vinoukorov, Riccò, Basso, Rasmunssen - só para mencionar os mais conhecidos. O ciclismo precisava de tudo menos disto. Espero, sinceramente, que não seja nada pois ainda tenho muito frescas as memórias de tardes espectaculares proporcionadas por Contador. Porém, é um murro no estômago. Fortíssimo.


ps: e Armstrong vai-se rindo, aposto...