outubro 01, 2010

Manifesto de Fachada


Fachada aparece na minha vida de forma casual. Leio na imprensa que há um tipo que se inspira em Caetano, Zappa, Variações ou Chico e a minha curiosidade aumenta para níveis máximos. Chega-me ao ouvido um disco, homónimo, coisa que não gosto, mas que abre com uma música chamada "Responso para maridos transviados". Paro, escuto e fecho os olhos. Aquilo, começado assim, só podia correr bem. E correu, lindamente.

Entre "cantigas de amigo" e "desamores", Fachada conta-nos histórias fantásticas, musicadas a um nível pouco visto por aí que prendem o ouvinte mais desatento. E, depois, há um pormenor que não pode ser esquecido: a inteligência de Fachada, as referências que nos aparecem numa simples história de amor - "Kit de prestidigitação" é talvez o mais óbvio exemplo disso, com Cesariny, Vinicius ou Zeca, numa música que me lembra sempre "Trocado em miúdos", do Chico, já que se conta em ambas a história de uma separação, mas com Fachada numa versão mais alegre do que o brasileiro.

As mulheres também estão presentes em quase todas as músicas do disco homónimo. Há uma "bela Helena" que é uma flor de massapão, uma outra mulher que anda numa "Velha Europa" deliciosa e, quase a acabar o disco, uma criatura que "só lhe falta ser mulher". No meio, Fachada não sabe se há-de "esperar ou procurar", na música mais dançável do disco - só não digo a melhor porque todas elas falam de amor de forma extraodinária, cada uma acrescentando uma coisa diferente.


Depois do homónimo, Fachada anuncia que "Há festa na moradia", um título, este sim, delicioso. Mais curto (sete músicas), "de Verão", segundo o autor. E se este é um disco estival, o anterior é claramente de inverno, daqueles para ouvir num dia frio, com mantas, compotas, mel, bolachas. Mas vamos ao novo disco: Fachada dá-nos sete músicas dançáveis, festivas, com folclore e as festas de Agosto na mente. A música com o mesmo título do disco é uma espécie de Farpa de Ortigão e Eça, mas na voz de Fachada, e a mulher deste disco é "Joana transmontana", numa história de êxodo rural. Antes de perguntar "quem quer casar com BFachada", faz uma bela homenagem aos "Discos de Sérgio Godinho", uma inflûencia clara na música de Fachada.


E é assim, estou apaixonado pelo Fachada. Por que é que digo isto hoje? Porque amanhã vou matar a paixão: vê-lo ao vivo. É o que falta. Ah, e também me falta ouvir as músicas anteriores ao disco "B Fachada". Ainda não tive coragem. Aquele é tão bom que tive o último para ouvir durante um mês e o medo de me desiludir era tão grande que nem o pus a tocar. Devagarinho, lá fui escutando, escutando, e amanhã, na Sociedade de Geografia, espero que Fachada dê o golpe final.


ps: o concerto de amanhã tem dois bónus: Lula Pena e JP Simões. A primeira, é uma delícia. O segundo, um outro amor meu - já o vi ao vivo - que fez o melhor álbum português da década: "1970".

Sem comentários:

Enviar um comentário

Construções