junho 08, 2012

Em obras



Este blogue está fechado para obras há algum tempo. E não tem data de abertura prevista.

janeiro 23, 2012

Descobriram o Cavaco



As polémicas declarações de Cavaco sobre a sua reforma incendiaram a opinião pública e publicada, são vários os nomes à direita que se indignaram com o presidente ("p" bem pequenino...) e até já há uma petição exigindo a sua demissão. Apesar de adorar este entusiasmo contra Cavaco e de, finalmente, a maior parte da população - a que votou nele, principalmente - estar a descobrir o ser humano que reside em Belém, não consigo deixar de pensar onde andaram estes indignados todos.

Onde é que estava a maioria da população quando Cavaco ofendeu as mulheres portuguesas?

Onde é que estava a maioria da população quando Cavaco, com aquele ar saloio em Trás-os-Montes, diz "eu adoro andar de comboio", ele que tinha contribuído para encerrar um número enorme de linhas de caminhos-de-ferro?

Onde é que estava a maioria da população quando Cavaco, sistematicamente e com aquele ar de professor sábio e superior, recusa comentar qualquer assunto?

Onde é que estava a maioria da população quando Cavaco se recusou a ir ao funeral de Saramago, o único Nobel da Literatura de língua portuguesa até então e o último Nobel português dos últimos 50 anos?

Onde é que estava a maioria da população quando Cavaco criou o caso das escutas, uma dos episódios mais degradantes da história da Presidência da República?

Onde é que estava a maioria dos portugueses quando Cavaco pediu "aos jovens o mesmo empenho que os portugueses que combateram na Guerra Colonial há 50 anos"?

Onde é que estava a maioria da população quando Cavaco, após a a sua vitória, proferiu o discurso mais mesquinho e vingativo que há memória numa vitória eleitoral em Portugal?

Onde é que estava a maioria da população quando Cavaco não soube explicar a trapalhada BPN?

E a lista poderia continuar. Enfim, é uma pena que grande parte do país e da comunicação social tenha só agora reparado na triste figura que colocou em Belém.

janeiro 21, 2012

Seu Jorge


"Músicas para churrasco, volume 1" é um disco terrível. Bem sei que as minhas expectativas em relação a Seu Jorge são elevadas. Mas nunca pensei que o músico brasileiro pudesse criar algo tão simplista e medíocre. Um disco que nem serve para música de fundo de um churrasco sem picanha. 

janeiro 15, 2012

O PS e Seguro

Para além do próprio e de mais dez militantes do Partido Socialista que o rodeiam, não há ninguém em Portugal que acredite que António José Seguro conseguirá algum dia ser 1º ministro. E para aumentar mais esta certeza, nada como se rodear das pessoas erradas.

Seguro não escolheu a bancada socialista, é certo. E, tal como Ferreira Leite em 2008 e 2009, dificilmente terá os deputados do seu lado se não cheirar a poder no Largo do Rato - que foi o que sucedeu a Passos Coelho que, sem a bancada do seu lado, beneficiou da longa espera a que já estava remetido o PSD na oposição. Porém, Seguro rodeou-se muito mal. Junqueiro, Carneiro, Galamba (António), Zorrinho, enfim, tudo gente muito enfadonha.

E, não menos importante, Tó-Zé Seguro está longe de ter a comunicação social do seu lado. Basta olhar para os programas de debate na televisão ou para os artigos de opinião nos jornais. Quem é que, neste momento, defende Seguro no espaço mediático? Ninguém. Mesmo os comentadores afectos ao PS não estão ao lado de Seguro - Assis, Galamba (João), Costa, só para citar três dos mais mediáticos. 
 

janeiro 11, 2012

Dividir para reinar



E depois das nomeações da EDP, eis que o Governo anuncia as nomeações para as Águas de Portugal. Nada disto é surpreendente. Só que, depois de uma campanha eleitoral em que o PSD e o seu líder afirmaram várias vezes - e fizeram disso bandeira - que não queriam ir para o governo para distribuir tachos pelos boys e girls do partido, estas notícias são a mostra do descaramento deste executivo.

Foram os hospitais, foi a Caixa Geral, foi a EDP, agora as Águas de Portugal, e sabe-se lá quantas mais nomeações para empresas públicas tiveram um carácter fortemente partidário. Enfim, só se surpreende quem quer e quem acreditou na bondade das palavras do PSD durante a campanha eleitoral. 

Tomás Vasques, no Facebook, recordou a frase de Passos Coelho durante uma entrevista ainda como líder da oposição: "não estamos com pressa para ir ao pote". Tanto tiveram pressa, como se estão a lambuzar.

janeiro 08, 2012

Uma semana, o espelho do país

Na primeira semana de 2012, há quatro notícias que espelham bem a realidade do país. 

1- A ida da Jerónimo Martins para a Holanda. Imitando as grandes empresas portuguesas, a empresa de Soares dos Santos fugiu para os Países Baixos à procura de melhores condições fiscais. Nada contra não fosse o seu presidente Alexandre um dos "senadores" que inundou a opinião pública portuguesa com dezenas de intervenções apelando ao trabalho, união e empenho dos portugueses para ultrapassar a crise. Ele, como a maioria dos que a toda a hora debitam disparates nos media, mostrou de que fibra é feito. Não é ilegal a acção da Jerónimo Martins mas é carregada de imoralidade dado o passado recente. E são criaturas assim que os media gostam de ouvir atentamente sobre o país. Espero que Barreto imigre juntamente com o patrão.

2- A Maçonaria. Deputados, empresários, directores de jornais, membros de serviços secretos, directores de empresas. Tudo isto junto numa sociedade secreta da qual pouco se sabe. O que tem vindo a lume é uma perigosa teia de relações entre os seus membros com todas as consequências que isto tem para a democracia. 

3- Um estudo revela que, de todos os países onde está a ser aplicada austeridade no combate à crise, Portugal é aquele que tem medidas mais gravosas para as classes mais pobres. A justificação deve ser a do costume: não se pode taxar os mais ricos porque senão eles fogem. Mas espera aí, eles já não fugiram todos na mesma?

4- Depois da privatização da EDP, Catroga será o novo chairman da empresa controlada pelo estado chinês. O homem dos pintelhos e da foto do telemóvel, que no primeiro semestre de 2011 não parou um segundo, tem agora a recompensa depois de tanto esforço. Este era o governo que ia para São Bento não para distribuir tachos pelos amigos, não era?

dezembro 22, 2011

Sobre o tratamento noticioso da auditoria cidadã

Nos últimos anos, principalmente na televisão, temos assistido a uma crescente difusão da propaganda anti-políticos. Não é que os governantes portugueses sejam exemplares, longe disse, mas o discurso populista contra a classe política tem vindo a ser cada vez mais forte, e não só em campanhas eleitorais. As televisões, principalmente estas, têm contribuído muito para que se instale um generalizado discurso anti-políticos, basta ver o exemplo de Medina Carreira que dispõe, há uns a esta parte, de vários programas de televisão e muito tempo de antena para desancar nos políticos e não apresentar soluções. 

E aliado ao discurso anti-políticos, nos media vê-se muitas vezes vários lamentos sobre a fraca actividade cívica dos portugueses e sobre a excessiva dependência que a nossa democracia tem dos partidos políticos. Quantas vezes não ouvimos ou lemos apelos para que os cidadãos possam organizar listas independentes à Assembleia da República, por exemplo? 

No fim de semana passado, em Lisboa, um conjunto de cidadãos de diferentes áreas reuniu-se numa Convenção para aprovar uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública. Seguindo exemplos realizados noutros países, como na Grécia, estes cidadãos, alguns deles oriundos de partidos políticos mas ali não representando nenhum deles, juntaram-se para promover um debate e uma iniciativa que consideram fundamental para ultrapassar os problemas que atingem neste momento o país.

Não estão aqui em causa as razões que levaram esses cidadãos a realizarem tal iniciativa. O que é relevante assinalar é que se tratou de uma iniciativa cidadã e, em Portugal, foi um dos melhores exemplos que tem havido de articulação entre cidadãos a fim de encontrarem soluções para o futuro político do país. E quanto ao impacto nos media desta iniciativa?

Pois é aqui justamente que eu quero chegar. As poucas notícias que houve sobre esta iniciativa foram breves e sem o impacto necessário para que uma boa parte dos portugueses tivesse conhecimento do evento. Aqui ou ali aparecerem alguns dos seus promotores, houve breves notícias mas nada de relevante. 

Eu pergunto: se Medina Carreira fosse um dos promotores desta iniciativa, quanta tinta correria nos jornais? Mas como se trata de cidadãos cujo pensamento raramente entra no circuito mediático, já não interessa nada. O que interessa é o pensamento único.

dezembro 19, 2011

Crónica de uma morte anunciada

Passos Coelho e seus colegas de governo entraram em força, cheios daquela moralidade bacoca. O ar condicionado, as viagens em 2ª classe, o número reduzido de ministros, o pin na lapela, o ar sério com que se dedicam à causa pública. Para trás, ficava uma campanha eleitoral memorável, cheia de promessas e de garantias num futuro melhor. Durante vários meses ouvimos Passos e companhia jurarem a pés juntos que tinham tudo estudado - até a TSU, vejam lá -, que os impostos não iam subir, que os mais ricos iam pagar a crise, que a crise não poderia servir de desculpa para nada, que não iam recorrer a fundos de pensões para mascarar o défice, que era importante o crescimento, que uma política de privatizações que visasse apenas o arrecadar de dinheiro seria "criminosa", que, reparem bem, não olhavam para as pessoas que ganham 1000€ como cidadãos ricos, que não iam para o governo para dar empregos ao PSD. Passados seis meses, o estado de graça do governo é uma miragem e ficou paralisado nas medidas simbólicas.

Sem rumo, sem ideias, o governo de Passos Coelho comporta-se como um director-geral da empresa Merkozy, reportando os dados e fazendo tudo sob orientação franco-germânica. Marimbou-se para as suas promessas em campanha, onde tinha garantido que era importante valorizar a palavra. Mas, para além de desvalorizar tudo o que disse há menos de um ano, desvaloriza os portugueses. Ao convidar os professores portugueses a emigrarem para os países lusófonos, Passos revela que não tem nenhuma ideia de como resolver os problemas do país. As pessoas já estão habituadas a governantes que fazem o contrário do que prometem, mesmo que tenham garantido solenemente, como é o caso, que isso não aconteceria. Mas de governantes que desistem do país, que desmantelam todos os serviços públicos e que, ao mesmo tempo, aumentam os impostos, destes governantes os portugueses não estão assim tão familiarizados. 

E, passados seis meses, com um governo fraco cheio de ministros medíocres, com Portas em viagens secretas, com o desemprego a subir, sem crescimento à vista, Passos Coelho tem o futuro hipotecado. Cavaco, apesar dos seus defeitos, não está sentado em Belém à espera do final de mandato. Já viu que não há uma oposição a sério a este descalabro e perante um cenário catastrófico - que ele ajudou a criar - vai ter que intervir. Mais rápido do que julgam os portugueses e o próprio governo. 

dezembro 15, 2011

É isto o PS - refém de Sócrates

Bastou que Sócrates dissesse alguma coisa em público - aquela história do pagamento da dívida ser "uma ideia de criança" - para que algumas figuras do partido, saudosas do seu ex-líder, viessem dar continuidade à versão de Sócrates.

Pedro Nuno Santos, uma das "jovens esperanças" do partido, disse num jantar de natal do PS que se estava a marimbar para os credores, que havia "uma bomba atómica": não pagar. Claro que já veio dizer que as declarações foram retiradas do contexto, que o que queria dizer era que defendia os interesses portugueses em vez dos interesses alemães.

Mas este PS passou os últimos meses a defende o acordo com a troika. Aliás, foram eles que o pediram e que o negociaram. Onde é que no acordo da troika está a defesa dos interesses nacionais?

Pedro Nuno Santos acrescentou ainda que os países periféricos se deviam unir, tal como fazem Merkel e Sarkozy. Terá dado esta dica a Sócrates, o seu querido líder, que enquanto primeiro-ministro não fez um esforço para essa tal união periférica?

É isto o PS. Um partido onde os seus membros raramente fazem o que pensam. Porque quando têm responsabilidades não assumem as suas opções.

dezembro 05, 2011

Ao serviço de Merkel e Sarkozy

Passos Coelho voltou a reforçar ontem uma ideia que ilumina a cabeça dos membros do governo, da maioria que o sustenta e dos "tudólogos" que saltitam na televisão e restantes media: a culpa da crise é apenas portuguesa.

Esta postura demonstra bem de que fibra é feito este governo. Perante a crise na Grécia, na Irlanda, em Itália, em Espanha, na Bélgica e a chegar a mais países europeus, há portugueses que têm a lata de não querer saber disso e de serem orgulhosamente os capatazes de Merkel e Sarkozy, obedecendo escrupulosamente às regras do eixo franco-alemão.

Mas ontem houve outro acontecimento que, mais uma vez, vem demonstrar que o caminho seguido e ditado pela UE não é o correcto e que há, de facto, uma grave crise europeia. A Irlanda, aquele país que já recorreu ao FMI mas que era apresentado como um bom exemplo pelo nosso Relvas e companhia, anunciou ontem mais um plano de austeridade já que as políticas até agora seguidas não estavam a dar frutos. Bem sei que não há enviados-especiais das televisões mas bem que os nossos responsáveis podiam ter menos descaramento na forma como falam de exemplos. No anúncio de ontem, o 1º ministro irlandês, ao contrário de Passos Coelho, remeteu as culpas da crise irlandesa para...a incapacidade de decisão dos responsáveis europeus.

novembro 21, 2011

A moda dos grupos de trabalho

E eis que surge mais um relatório de um grupo de trabalho técnico convidado pelo governo para estudar determinadas funções do Estado. Depois do serviço público e dos transportes, eis que agora é a reforma hospitalar a visada. E nos próximos tempos surgirão mais pois há por aí muitos "sábios" reunidos secretamente em hotéis de cinco estrelas a discutir o nosso Estado.

Mas eu pergunto: o trabalho destes grupos técnicos não deveria ter sido feito antes das eleições? Ou é a prova real de que o PSD e Passos Coelho não estavam minimamente preparados para governar nem conheciam a fundo as matérias?

E, para além de ser uma subversão perigosa das regras do jogo democrático, há outro aspecto que torna a coisa ainda mais ridícula. Antes dos relatórios serem apresentados ao governo, eles são escrutinados nos media. Dessa forma, propostas ridículas como o fecho do metropolitano às 23h ou a tutela da RTP Internacional por parte do MNE são única e exclusivamente imputadas a esse grupo de trabalho encomendado pelo governo que, assim, já sabe o que fazer com tais propostas. O executivo limpa as mãos e segue em frente.

novembro 11, 2011

Uma nulidade segura

E pronto, Orçamento na generalidade aprovado. Tó-Zé Seguro, com a sua "abstenção violenta", provou mais uma vez que está a transformar o partido num "vazio ideológico". Quando uma coligação de direita rompe com vários bandeiras do Estado Social, diminui drasticamente verbas na Educação, prepara-se para uma revolução na Saúde, quer desmantelar os transportes públicos, ataca a função pública de forma assassina e, não menos grave, rompe também com o contrato eleitoral que fez com os seus eleitores, eis que o novo PS de Seguro vem dizer ao país que está "em estado de choque" mas que se abstém por causa da imagem externa.

Estamos, pois, conversados sobre a utilidade de Seguro como líder da oposição. Nula.

novembro 09, 2011

O fim de Berlusconi?

Berlusconi, acossado com pela crise da zona euro, foi obrigado a abandonar o barco, tendo anunciado a sua demissão para as próximas semanas depois de aprovadas uma série de leis orçamentais. Mas será que esta sua saída significará mesmo o fim de Il Cavaliere na política italiana?

As pessoas que conheçam minimamente a história política italiana dos últimos anos dificilmente podem acreditar nisso. Ele já esclareceu que não se recandidata mas Napolitano, o presidente da República, está a ano e meio do fim do mandato e há quem acredite que Berlusconi tem o desejo de passar para o Quirinale. Esta não é uma hipótese assim tão descabida: a nomeação é feita no Parlamento e basta uma maioria simples após a primeira votação.

Mas esqueçamos esta questão e olhemos para o futuro imediato da política italiana. A demissão do primeiro-ministro implica, conforme o próprio explicou, a convocação de eleições antecipadas. Neste cenário mais provável é difícil fazer prognósticos. Porém, e apesar das derrotas nos referendos deste ano e nas municipais, em Milão por exemplo, os partidos da direita - PdL e Lega Nord - não têm assegurada nas urnas uma derrota. Bem pelo contrário, já que o centro-esquerda italiano vive uma crise profunda e os seus responsáveis não conseguem colher o entusiasmo de boa parte dos italianos em parte porque são incapazes de apresentar soluções credíveis e alternativas para o futuro do país.

Nesse sentido, e mesmo contando com a fissura que Fini abriu no PdL, a direita tem boas hipóteses de continuar no poder. E esta direita é toda ela constituía por discípulos de Berlusconi. Poucos ou nenhum terão o carisma de Il Cavaliere mas as práticas políticas são idênticas. E é isso que me faz temer que a saída de Berlusconi não signifique assim tanto para a política italiana.

Da última vez que a esquerda teve no poder, em 2006 quando Prodi ganhou a Berlusconi, a maioria que suportava o governo era constituída por diversos partidos, numa fragmentação insustentável. Durou quase dois anos e depois voltou Berlusconi. Os vários escândalos sexuais e judiciais, juntamente com o desastre económico das suas políticas, foram as principais causas da queda de Berlusconi. Se fosse só pela oposição - e refiro-me principalmente ao Partido Democrático - nada disto aconteceria.

novembro 08, 2011

O caos europeu


Lembram-se do sucesso da presidência portuguesa da União Europeia? O Tratado de Lisboa, o "porreiro pá", o desfile de líderes europeus sorridentes com o anfitrião Sócrates, as promessas de uma Europa "mais justa, mais próxima, mais próspera"? Lembram-se de quanto era importante para Portugal ter associado ao seu nome o Tratado que iria pôr fim aos problemas europeus, que traria estabilidade entre nações, que todos iriam poder fazer sentir a sua voz? Lembram-se do fogo de artifício na Torre de Belém comemorando a nova Europa?

Como 2007 não foi assim há tanto tempo, todos devem estar lembrados destes episódios. Era a Europa no seu auge, toda unida e pronta para combater qualquer obstáculo. Quatro anos depois, a Europa está a desmoronar-se. Perante uma crise financeira e económica bastante forte, a Europa política ficou de mãos atadas e anda, há quase dois anos, a tentar encontrar soluções. Até agora foram tendo bodes expiatórios: os malandros do gregos ou os preguiçosos de Portugal. Foram, de cimeira em cimeira, empurrando o problema com a barriga, tomando decisões a conta-gotas, sem nunca resolverem os problemas de fundo da União. Merkel e Sarkozy, juntamente com muitos outros chefes de governo e com Trichet e Juncker, nunca quiseram encontrar soluções para ultrapassar a crise optando pelo calculismo eleitoral interno de cada um deles e pelo calculismo dos grande grupos económicos alemães e franceses.

Quatro anos depois do Tratado de Lisboa e dois anos após o eclodir da crise da zona euro, a Europa vive dias aflitivos, sem rumo, sem líderes, sem plano, dando para fora uma imagem de instabilidade e de desorganização assustadora, como se viu na última cimeira do G-20 em que nem foram precisos manifestantes anti-globalização para desestabilizar a cimeira: bastou o primeiro-ministro grego acenar com a hipótese de um referendo para que os líderes europeus tremessem por todo o lado. A democracia é uma coisa chata para Bruxelas e, pelos vistos, já não faz parte dos ideais europeus.

outubro 20, 2011

Cavaco - o próximo primeiro-ministro?


Cavaco não é sonso. É político há demasiado tempo e conhece bem os meandros da nossa praça. Para além disso, é um calculista e as suas declarações após o 5 de Outubro revelam bem isso.

Cavaco tem disparado para todo o lado. De uma forma totalmente incoerente, é ele que tem dominado a opinião pública e publicada, seja para o atacar, seja para o defender. E o que é curioso é que, em quinze dias, consegue que as mesmas pessoas o defendam e o ataquem veementemente.

Primeiro foi a culpa da Europa. Disse cobras e lagartos dos dirigentes europeus e responsabilizou-os pela crise das dívidas soberanas. Depois, e perante o Orçamento de Estado, vem pôr a maioria e o seu PSD em alvoroço. Para quem andou tanto tempo calado, desde a tomada de posse do novo governo até agora, parece plausível pensar que o homem aguentou até ao limite pela melhor altura para marcar a sua agenda.

E ela qual é: Cavaco quer ser ele a dominar o combate à crise. Já percebeu, e bem, que este Governo não está a conseguir enfrentar os problemas, que a maioria que o sustenta não é assim tão forte e que a oposição não existe.

Cavaco quer, à força toda, ser primeiro-ministro. E está a fazer tudo por tudo para que isso aconteça. Nem que para isso seja preciso derrubar o governo.

outubro 15, 2011

Marcelo Camelo



Depois de "Sou/Nós" - um excelente álbum de estreia a solo - Marcelo Camelo confirma toda a sua qualidade com o álbum "Toque dela". Letras simples, concisas e que encaixam de forma exemplar em melodias doces e suaves. Citando João Gilberto a propósito de Caetano Veloso, Marcelo Camelo "é o futuro".

outubro 13, 2011

Crescimento económico

Nos últimos dias, a opinião pública e publicada não tem falado de outra coisa senão crescimento económico. Vemos e ouvimos várias personalidades afirmarem que, além da austeridade, é preciso que a economia cresça e que o governo se esforce por fazer por isso. Mas, recuando uns meses e avaliando o que foi a campanha eleitoral, quem é que falou de crescimento económico? Quem é que disse até à exaustão que a austeridade e o acordo com a troika só nos conduziriam a uma recessão sem retorno? Pois.

outubro 10, 2011

As eleições na Madeira

O acto de eleitoral de ontem resume-se facilmente assim.

João Jardim e seus companheiros conseguiram renovar a maioria absoluta habitual mas com o pior resultado da sua história, o que apenas significa um aviso pequenino - a forma de governar será igual, agora com menos dinheiro mas com outras artimanhas. Daqui a 4 anos analisaremos mais uma maioria absoluta do PSD.

O CDS-PP conseguiu o resultado perfeito: ficar em segundo, humilhando o PS, aumentando muito o seu número de deputados e não tirando a maioria a Jardim. Caso isso acontecesse, seriam quatro anos extremamente difíceis de gerir. O seu presidente, apesar do bom trabalho, já anunciou que renuncia ao mandato regional para ficar em Lisboa. É tão bonito quando vemos o amor à causa regional morrer em menos de vinte e quatro horas.

O PS vai-se afundando. Um candidato regional muito fraquinho e um líder nacional que não soube capitalizar o seu estado de graça interno (se é que o teve ou terá alguma vez). Em resumo: um descalabro.

A esquerda, CDU e BE, quase que desaparecem, sobrando apenas um deputado comunista. O Bloco chegou ao ridículo de ser o único partido dos 9 na corrida eleitoral a não ter nenhum mandato. Um ano terrível para Louçã e para o seu partido que, diga-se, na Madeira nunca foi e dificilmente será oposição.

Depois, as sobras. As palhaçadas de José Manuel Coelho que, com um estilo jardinista de fazer campanha, conseguiu três deputados, um deles a filha. Enfim. Nova Democracia, Partido da Terra e Partido dos animais conseguiram, graças ao sistema eleitoral madeirense, um mandato cada e têm uma legislatura para provar aos madeirenses que podem ser representar alguma diferença. Principalmente o PAN, que nas legislativas teve uma votação surpreendente, e que roubou muitos votos ao Bloco. Agora voltou a fazer o mesmo e veremos como é que o seu deputado poderá trazer visibilidade para o partido a nível nacional.


outubro 02, 2011

A estratégia do Governo face à mobilização social

Soube-se hoje que a PSP e as secretas portuguesas estão à espera dos maiores tumultos desde o PREC. Um dia depois de uma boa mobilização nas ruas e completamente serena, não deixa de ser estranha esta notícia. Mas, no contexto, ela encaixa-se na estratégia de comunicação que o Governo tem vindo a construir desde que chegou ao poder. Vejamos:

- vários ministros, principalmente o Passos Coelho, já sublinharam múltiplas vezes que maiores dificuldades estão a caminho e que os portugueses têm que enfrentar ainda mais sacrifícios nos próximos anos;

- quase todos os responsáveis políticos ligados à maioria insistem em sublinhar que o objectivo português é não ser a Grécia e que é esse sinal que temos que mandar para o exterior;

- todos os ministros, quando têm que justificar medidas, remetem para o acordo com a troika da seguinte forma: "85% dos portugueses subscreveram o memorando";

- Quer governo, quer Cavaco, em cada intervenção, insistem na união nacional, no consenso, no "temos que remar todos para o mesmo lado".

Ou seja, a estratégia passa por repetir até à exaustão que o pior ainda está para vir, que temos que nos comportar muito bem porque na Grécia é tudo uma cambada de insurrectos e que a larga maioria dos portugueses concorda com tudo o que o Governo faz.

O que o Governo quer, por outras palavras, é isolar os descontentes, pondo-os, em último caso, contra o resto do país, fazendo com que a sua luta seja desprezada e ignorada.

setembro 29, 2011

A entrevista de Cavaco ou a desvalorização do cargo

Após primeira entrevista de Cavaco no seu segundo mandato fica-se com uma sensação: o presidente da República não sabe quais são os poderes presidenciais. Nem ele, nem a entrevistadora. Não se compreende como é que uma entrevista destas tenha focado, quase em exclusivo, a política económica do país na qual o PR não tem responsabilidade nenhuma. Não se percebe como é que, por exemplo, o tema das secretas, que põem em causa o regular funcionamento das instituições do Estado, não tenha sido abordado já que o PR é o principal garante desse funcionamento.

Durante a entrevista, e a propósito de economia, Cavaco teve a primeira oportunidade para se vingar de Sócrates: referiu várias vezes que o anterior governo tomou políticas erradas e que não acatou conselhos (privados) que ele próprio terá dado. O que se tem que perguntar ao PR é o seguinte: se desde 2006 que sabia que iríamos estar na situação actual, se sabia que o governo estava a tomar medidas erradas, porque não informou claramente o país destes factos e porque não demitiu antes o governo?

Para além deste ajuste de contas, Cavaco teve a oportunidade de "brilhar" com os números que tanto gosta. Elaborou teorias, revelou preocupações e mostrou-se determinado na evolução da economia portuguesa. Mais parecia o 1º ministro. E isto é revelador da forma como Cavaco quer encarar o seu segundo mandato: Passos Coelho vai ter rédea curta. E, como foi a primeira vez que tivemos oportunidade de ouvir o PR sobre a troika, percebemos que Cavaco desejava humidamente a entrada do FMI em Portugal. Porque tudo o que está no acordo não se pode contestar. Excepto a TSU porque dá jeito. Uma subserviência aos mercados que não surpreende vindo de quem vem.

Quanto à Madeira, mais uma prestação fraquinha. Da entrevistadora e do entrevistado. Judite de Sousa não lembrou uma única vez a filiação partidária nem as várias campanhas que Jardim e Cavaco fizeram juntos, já para não falar nas visitas presidenciais àquele arquipélago. Cavaco conseguiu passar pelos pingos da chuva sem nunca condenar veementemente as irregularidades e o funcionamento das instituições na Madeira.

Já quase no final da entrevista, parecia que estava a ter uma visão do passado: Cavaco a defender que Portugal tem que voltar a ser o bom aluno da Europa. Já vimos este filme e já sabemos como acaba.

Um presidente que considera que as mensagens de ano novo são a forma mais eficaz de fazer política que tem ao seu dispor é revelador do entendimento que Cavaco tem do cargo e profundamente preocupante para a credibilidade desta instituição.

setembro 28, 2011

A esquerda está parada

Após 100 dias de governo PSD-CDS, com a troika instalada em Portugal, com aumentos de impostos, com desemprego em alta e sem crescimento económico, não deixa de ser impressionante que o 1º ministro e restante executivo tenham, nas sondagens que saíram nos últimos dias, uma taxa de aprovação muito alta.

Não foram 100 dias fáceis. Como se calculava, foram tomadas medidas contra o discurso proferido na campanha eleitoral e que afectam na pele milhões de portugueses que já têm a corda ao pescoço. Mas apesar disto, o eleitorado parece disposto a aceitar estes sacrifícios e acredita que o rumo do governo é acertado. Não é por acaso que todos os ministros quando falam aos jornalistas referem sempre o pormenor dos "85% dos eleitores que votaram em partidos que subscreveram o programa da troika". O discurso da inevitabilidade da austeridade pegou firmemente.

E a oposição? O PS está preso ao acordo e a uma liderança patética que durará dois anos, para não falar numa bancada parlamentar muito fraca e claramente comprometida com o consulado Sócrates - Seguro terá muita dificuldade em marcar a agenda política. O PCP não muda o ADN e, por isso, não se espera muito mais do que temos visto e ouvido nos últimos 25 anos. Resta o Bloco. Que, apesar de ter tido uma humilhante votação em Junho, não fez nenhuma mudança significativa na sua intervenção política. As principais figuras mantêm-se e a forma de fazer política é idêntica: ou seja, nada parece ter mudado.

Não se pode ser derrotado como o Bloco (e a esquerda) foi e não haver alterações. Pode-se contra argumentar dizendo que mais vale isso do que alterações de "fachada". Provavelmente. Mas a ideia que o Bloco dá aos seus eleitores e ao eleitorado de centro-esquerda é que é um partido meramente de protesto, incapaz de encontrar consensos e que a oposição a um governo PS é exactamente igual a um governo PSD-CDS que, como se sabe, está bem mais à direita em muitos aspectos do que o anterior executivo.

A esquerda está, portanto, fechada sobre si própria à espera que o descontentamento dos portugueses aumente e que vá cair no colo dos protestos comunistas e bloquistas. Será a melhor estratégia? Duvido.

setembro 19, 2011

A falência de valores partidários

Ao fim de 30 anos é difícil uma pessoa ficar impressionada com notícias sobre o regabofe na Madeira. João Jardim é uma personagem sinistra, um ditador da pior espécie, populista e demagogo, que construiu naquele arquipélago um feudo para se sustentar e distribuir pelos mais próximos. Omite dívida? Esconde contas? E qual é a surpresa?

O que também não é surpreendente é a passividade dos agentes políticos portugueses. Que os madeirenses, na sua larga maioria, gostem de Jardim a mim não me espanta. Porém, o PSD nacional tem estado calado desde que Jardim chegou ao poder e ofereceu ao partido grandes resultados eleitorais, não só nas eleições regionais, como nas legislativas. Todos os líderes do PSD foram ao beija-mão de Jardim, distribuindo beijos e abraços no Chão da Lagoa. Ferreira Leite, Marques Mendes, Passos Coelho, Menezes, Marcelo, Durão, Santana Lopes, nenhum destes se esquivou à fraternidade de conveniência com o tirano madeirense.

Mas mais grave ainda é a condescendência com que os presidentes da República - Soares, Sampaio e Cavaco - têm tratado João Jardim. Chegam ao ponto de serem tratados abaixo de cão em território madeirense sem darem qualquer réplica.

O comportamento de Cavaco nas últimas semanas tem sido confrangedor. Aquele que não perde uma oportunidade para falar das misericórdias, que põe em sobressalto o país por causa do estatuto dos Açores, que alucina com escutas em Belém, não tem uma palavra sobre as loucuras de Jardim.

Os episódios que envolvem Jardim, para além de nos dizerem que ainda há tiranos na Europa, ilustram outra coisa bem mais importante: a falência de valores a que chegou um dos principais partidos em Portugal. E isto é ainda mais grave quando vemos que o outro principal partido também não é nenhum santinho em questões idênticas.

setembro 14, 2011

Um líder vazio


O último congresso do PS foi absolutamente vazio. Tanto ao nível das ideias e propostas - zero - como na postura do novo líder. António José Seguro estava a precisar deste congresso para se começar a afirmar no debate político mediático. E o que fez ele? Como bem descreve o Filipe Moura no Esquerda Republicana, um espectáculo mediático de baixo nível nos bastidores das televisões, uma espécie de olhem-que-simpático-que-o-novo-líder-do-PS-é-ao-contrário-do-anterior. E foi este episódio o mais relevante do congresso porque, se olharmos para as suas palavras, o cenário é desolador.

Para quem esteve tanto tempo a preparar-se para ser líder, para quem já tinha ganho as eleições há mais de um mês, para quem prometia uma mudança na forma de fazer política, então este congresso foi a prova que Seguro é um grande flop do Partido Socialista. Não se pode sair de um congresso sem nada de concreto para apresentar ao país. Não se pode eleger o combate à corrupção como grande desígnio e não dar uma pista sobre como o fazer. Não se pode dizer que se vai fazer política nova adoptando todos os tiques e abraçando as mesmas pessoas do passado.

O que fica deste congresso é que o líder do PS é o seguro de vida do governo e da troika.

agosto 27, 2011

Cinemas

Passando uns dias no Porto antes de voltar à capital, e coincidindo com a estreia do documentário sobre Ceausescu, resolvi ir ao cinema. Tal não é a minha surpresa quando verifico que nenhuma sala do Porto ou Grande Porto tem em exibição este documentário.

Mas surpresa ainda maior foi ver que a cidade do Porto tem apenas um local para se ver cinema: um centro comercial com cinema Lusomundo que passa exactamente os mesmo filmes existentes nos grandes centros comerciais da periferia, Gaia ou Matosinhos, que estão a poucos quilómetros e minutos de distância. Não sei a que se deve o encerramento do cinema no shopping Cidade do Porto que sempre passava filmes distintos dos restantes - viabilidade financeira, com grande probabilidade. Certo é que uma cidade como o Porto, mais o aglomerado que vive em seu redor, não tem possibilidade de assistir a filmes distintos daqueles que o império Lusomundo distribui.

Bem sei que em Lisboa a oferta cultural (teatro, dança, cinema, música, etc) é bem superior ao resto do país e que isso tem razões que não importa agora referir. Mas não deixa de ser preocupante tal discrepância no que respeita ao cinema. E eu referi o caso do Porto como poderia também falar de Évora, Bragança, Braga, Coimbra, Faro e por aí fora.

agosto 24, 2011

Barcelona

Como adepto portista, uma das primeiras recordações de jogos do clube, a seguir aos 0-5 em Bremen, é uma meia-final da Taça dos Campeões Europeus contra o FCBarcelona em 1994. Na altura, jogava-se apenas numa partida e o FCPorto foi cilindrado por 3-0. Dois golos de Stoichkov e um golão de Koeman foram suficientes para acabar com as esperanças dos adeptos noutra vitória europeia. Mas desse jogo o facto mais importante é a colocação de Aloísio, defesa-central de raiz e ex-jogador do FCBarcelona, a lateral-esquerdo. Imaginam a festa que foi para o búlgaro Stoichkov que marcou dois golos devido a erros directos do brasileiro. Robson devia estar sob efeito de alguma substância perigosa para se ter lembrado de tal coisa.

O jogo de sexta-feira do Mónaco traz também outras recordações de embates contra o FCBarcelona. Na época 99/00, na segunda fase de grupos, o FCPorto fez um muito boa exibição em Camp Nou, onde perdeu 4-2, com dois golos de Jardel, melhor marcador dessa edição da Champions. O jogo frente ao colosso despertou nos adeptos portistas, e até no presidente, uma euforia tal que durante as duas semanas que separaram os encontros do Camp Nou e das Antas, o universo portista só falava na "vingança". Encheu-se o estádio - eu também fui - na esperança de tombar, ainda que na fase de grupos, um grande europeu. Pois bem, a classe daquela equipa "holandesa" de Van Gaal foi demasiado para a equipa que Fernando Santos inventou. O desalento portista nessa noite era enorme, como calculam - ainda por cima sofremos um golo do Abelardo(!!).

Mas o confronto com o FCBarcelona para a Supertaça Europeia não remete para lembranças exclusivas de confrontos com a equipa da Catalunha. A minha geração nunca viu o FCPorto ganhar esta Supertaça. É, aliás, o único título que me falta ver conquistado pelo meu clube. As derrotas com o ACMilan e Valência foram muito dolorosas. Contra os italianos, porque jogámos melhor. Contra os espanhóis, porque éramos melhores mas uma pré-época super atribulada não deu espaço para uma preparação adequada.

Na sexta-feira duvido que vá assistir, finalmente, à conquista da Supertaça pelo meu FCPorto. O actual FCBarcelona é uma das melhores equipas de sempre e tem dos melhores do mundo, jogando um futebol dificílimo de contrariar. Por outro lado, o FCPorto perdeu Falcao, Villas-Boas e ainda anda à procura de estabilidade neste início de época. Hulk, Moutinho, Guarín, Hélton, Rolando e companhia precisam de estar numa super noite. O meu entusiasmo é bem menor do que naquela noite nas Antas, em 2000. O que até pode ser bom.

Um último recado: Vítor Pereira, não inventes.