setembro 19, 2011

A falência de valores partidários

Ao fim de 30 anos é difícil uma pessoa ficar impressionada com notícias sobre o regabofe na Madeira. João Jardim é uma personagem sinistra, um ditador da pior espécie, populista e demagogo, que construiu naquele arquipélago um feudo para se sustentar e distribuir pelos mais próximos. Omite dívida? Esconde contas? E qual é a surpresa?

O que também não é surpreendente é a passividade dos agentes políticos portugueses. Que os madeirenses, na sua larga maioria, gostem de Jardim a mim não me espanta. Porém, o PSD nacional tem estado calado desde que Jardim chegou ao poder e ofereceu ao partido grandes resultados eleitorais, não só nas eleições regionais, como nas legislativas. Todos os líderes do PSD foram ao beija-mão de Jardim, distribuindo beijos e abraços no Chão da Lagoa. Ferreira Leite, Marques Mendes, Passos Coelho, Menezes, Marcelo, Durão, Santana Lopes, nenhum destes se esquivou à fraternidade de conveniência com o tirano madeirense.

Mas mais grave ainda é a condescendência com que os presidentes da República - Soares, Sampaio e Cavaco - têm tratado João Jardim. Chegam ao ponto de serem tratados abaixo de cão em território madeirense sem darem qualquer réplica.

O comportamento de Cavaco nas últimas semanas tem sido confrangedor. Aquele que não perde uma oportunidade para falar das misericórdias, que põe em sobressalto o país por causa do estatuto dos Açores, que alucina com escutas em Belém, não tem uma palavra sobre as loucuras de Jardim.

Os episódios que envolvem Jardim, para além de nos dizerem que ainda há tiranos na Europa, ilustram outra coisa bem mais importante: a falência de valores a que chegou um dos principais partidos em Portugal. E isto é ainda mais grave quando vemos que o outro principal partido também não é nenhum santinho em questões idênticas.

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