dezembro 19, 2011

Crónica de uma morte anunciada

Passos Coelho e seus colegas de governo entraram em força, cheios daquela moralidade bacoca. O ar condicionado, as viagens em 2ª classe, o número reduzido de ministros, o pin na lapela, o ar sério com que se dedicam à causa pública. Para trás, ficava uma campanha eleitoral memorável, cheia de promessas e de garantias num futuro melhor. Durante vários meses ouvimos Passos e companhia jurarem a pés juntos que tinham tudo estudado - até a TSU, vejam lá -, que os impostos não iam subir, que os mais ricos iam pagar a crise, que a crise não poderia servir de desculpa para nada, que não iam recorrer a fundos de pensões para mascarar o défice, que era importante o crescimento, que uma política de privatizações que visasse apenas o arrecadar de dinheiro seria "criminosa", que, reparem bem, não olhavam para as pessoas que ganham 1000€ como cidadãos ricos, que não iam para o governo para dar empregos ao PSD. Passados seis meses, o estado de graça do governo é uma miragem e ficou paralisado nas medidas simbólicas.

Sem rumo, sem ideias, o governo de Passos Coelho comporta-se como um director-geral da empresa Merkozy, reportando os dados e fazendo tudo sob orientação franco-germânica. Marimbou-se para as suas promessas em campanha, onde tinha garantido que era importante valorizar a palavra. Mas, para além de desvalorizar tudo o que disse há menos de um ano, desvaloriza os portugueses. Ao convidar os professores portugueses a emigrarem para os países lusófonos, Passos revela que não tem nenhuma ideia de como resolver os problemas do país. As pessoas já estão habituadas a governantes que fazem o contrário do que prometem, mesmo que tenham garantido solenemente, como é o caso, que isso não aconteceria. Mas de governantes que desistem do país, que desmantelam todos os serviços públicos e que, ao mesmo tempo, aumentam os impostos, destes governantes os portugueses não estão assim tão familiarizados. 

E, passados seis meses, com um governo fraco cheio de ministros medíocres, com Portas em viagens secretas, com o desemprego a subir, sem crescimento à vista, Passos Coelho tem o futuro hipotecado. Cavaco, apesar dos seus defeitos, não está sentado em Belém à espera do final de mandato. Já viu que não há uma oposição a sério a este descalabro e perante um cenário catastrófico - que ele ajudou a criar - vai ter que intervir. Mais rápido do que julgam os portugueses e o próprio governo. 

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