outubro 20, 2010

Passos errados


Os tempos de crise não são apenas negativos para o governo. A oposição - principalmente aquela que tem que parecer mais responsável perante os eleitores - vive dias de angústia, sem saber o que fazer, não sabendo como actuar de forma a não perder terreno eleitoral. Passos Coelho, que só não será primeiro-ministro se não quiser, comete erro atrás de erro, quando há seis meses tudo parecia encaminhado para o PSD chegar ao poder depois de umas calmas e irrelevantes presidenciais. Rodeado de pessoas fraquíssimas, a exaltação do "passismo" na festa do Pontal serviu para alertar alguns portugueses do que aí virá.

Isso e mais a história da revisão constitucional afundaram as expectativas de maioria absoluta, ou mesmo de uma simples maioria laranja. E se as coisas já estavam más, pior ficaram quando o PSD, perante um governo frágil e a tomar medidas impopulares - apesar da concordância laranja na forma - decide continuar a errar. O tabu do Orçamento é de tal forma bizarro que Passos Coelho terá que escolher não o que convém mais ao PSD mas sim o que convém menos mal. Se ajuda a aprovar, volta a estar ligado à política do governo e ao seu prevísivel falhanço. Se não aprova, contrariando os seus gurus na Europa já que a Comissão e a Alemanha são dois exemplos muito queridos ao PSD e que exigem a aprovação do Orçamento, senão aprovar, dizia, fica ligado a uma das mais graves crises políticas nacionais por causa de uma birra incompreensível aos olhos do seu eleitorado natural. Sim, porque este PSD desde que se lançou na batalha constitucional parece não perceber que precisa imenso do seu eleitorado base que está a léguas à esquerda dos actuais donos da São Caetano. Pensar que em Portugal há um eleitorado liberal, ou perto disso, é não conhecer o país.

E, no meio disto tudo, há as presidenciais. Ou Cavaco tem a certeza da aprovação do Orçamento para começar a sua campanha oficial - a oficiosa está em marcha desde Maio - ou então deve estar farto do líder laranja. Passos Coelho não parece importado, o que não é condenável, visto que o actual presidente tem a sua quota parte de responsabilidade na crise que se vive.

Parece que, depois de reunido, o PSD vai propor algumas condições, depois de semanas em que andou apenas a berrar para a comunicação social. A flexibilidade do governo em negociar parece pouca mas é um sinal que pode haver abstenção do PSD.

O actual governo tem governado mal. Mas este PSD não está preparado para ser poder.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Construções