outubro 22, 2010

RTP memória

Porque o maradona é um grade sacana e apaga todos os seus textos, é melhor reproduzir este todo aqui mesmo. É sobre a RTP Memória e é de leitura obrigatória. Voilá:
"A RTP Memória poderia ser o melhor canal de televisão de Portugal do mundo de sempre. Todavia contudo ao invés e por enquanto, é o pior, de longe. Hoje, dia 21 de Outubro, as espinais medulas que comandam o fluxo ondulatório que de lá emana oferece-nos séries históricas que só nos arquivos da RTP se encontram vestigios, como o Poirot, os Soldados da Fortuna, o virgem MacGyver ou os Jogos sem Fronteiras de 1990; e quando o problema não é as lembranças não serem particulares à RTP Memória, o simples racionamento do gosto pelos vários escalões culturais desaconselharia que, num mesmo dia, optassem pelo Nico d'Obra, Na Paz dos Anjos (uma novela do Nicolau Breyner), o Sétimo Direito (sitcom do Henrique Santana), Grande Aposta (outra novela de outro ser humano) e uma programa de invariadades musicais chamado Musica não sei quê com o Marco Paulo. Acresce a isto que a produção própria do canal dá tempo de antena ao Eládio Clímaco, à Helena Ramos ou à Isabel Angelino, desbravando assim terreno no campo da ironia dos despedimentos colectivos, muito embora revele criatividade ao nivel das chefias no sentido de arranjar novas estratégias para informar determinados funcionários de que estão ali contra a vontade das cúpulas; e só se subtrai a esta hecatombe homérica o fatídico Horizontes da Memória e uma coisa chamada "Retrospectivas". Repare-se, todavia contudo ao invés, na descrição deste "Retrospectivas":

Espaço de memórias sobre o País e o Mundo numa retrospectiva de cinco décadas. Cada programa relembra acontecimentos ocorridos no mês em questão, nos anos de 1960, 1970, 1980, 1990, e 2000. Pretende-se reviver acontecimentos que foram notícia, a nível nacional e internacional, com as imagens que fazem parte do património da Rádio e Televisão de Portugal.

Mas não estamos num canal de, e passo a citar, "memória"? Então, e num canal que visa explorar a memória colectiva portuguesa, vamos criar um espaço exclusivamente dedicado a recuperar os acontecimentos de há décadas e décadas atrás, que partilhem apenas o facto de terem ficado registados nas bobines da RTP? Não estarão a esticar um bocadinho demais um conceito? Qualquer dia descaractrizam por completo a ideia que presidiu à criação da RTP Memória. É como se, de hoje para amanhã, o Canal Benfica criasse um espaço na sua programação exclusivamente dedicado a falar de assuntos relativos ao Benfica.

A dinâmica da RTP Memória ultrapassa-me. Por um lado, dão-se ao trabalho de editar milhares de horas de telejornais separados por décadas para os reunir em pequenas secções de 10 minutos, conseguindo assim, e recorrendo apenas a um conceito, empregar muitas pessoas durante muito tempo e extrair qualquer particula de interesse de conjunto (falo do famoso contexto) ao propósito de exibir noticiários antigos. Por outro, evitam cuidadosamente tudo o que é verdadeiramente história colectiva (onde estão as reposições dos grandes debates políticos nacionais?, e as grandes entrevistas a figuras públicas? e as grandes reportagens que, de vez em quando, se faziam?, e as outras merdas também grandes? e as coisas mais pequeninas, como os documentários do Brandão Lucas para o Totobola? e o gajo que ensinava química?), e centram-se em reptições naseabundas de series de ficção nacionais grotescas, ou estrangeiras, que não sendo todas elas grotescas, ou passam todos os dias nos canais cabo estrangeiros, ou estão à venda em DVD pela semiótica quantia de 1 euro cada centena de episódios.

Era tão fácil ser muito melhor que isto. E uma boa oportunidade de escapar à acusação de elitismo: eu sou a única pessoa sem um mestrado ou doutoramento que se interesa pelo que a RTP Memória poderia ser e não é; se a re-elitizassem ao ponto de o eduardo prado coelho ressuscitar para assitir à programação, a minha boca não se abriria a não ser para despejar mais uma colher de gelado de baunilha do pingo Doce pela goela abaixo."

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