Tenho lido, visto e ouvido muita coisa a proósito do centenário da implantação da República. Não é que o tema me desgaste - pelo contrário, sou um republicano convicto, aturar as criaturas da monarquia é que não! - porém só hoje, dia 6 de Outubro, li algo que gostei mesmo. Rui Tavares no Público, num artigo intitulado "100 anos e um dia":
"Parece que a I República cometeu o grande pecado de ser uma balbúrdia - mas por oposição a quê? Pelos vistos, deve haver quem ache que o resto do mundo era, naquele primeiro quartel do século XX, uma espécie de pacífico jardim.
(...)
...há gente que faz da leitura da I República uma única lenga-lenga sobre como os líderes políticos portugueses da época eram defeituosos. Pois eram. Sem querer ser preciosista, esse é exactamente o sentido da República: sermos governados por gente imperfeita. Precisamente porque não existe gente perfeita, nem gente que herde a predisposição para governar vitaliciamente um país, o princípio republicano é o de que nem o nascimento nem a classe social devem vedar alguém de eleger e ser temporariamente eleito.
(...)
Pelo grande gozo que é "irritar a esquerda", pratica-se o contorcionismo da mioleira. Mesmo assim, o liberalismo continua a ser melhor que o absolutismo; e a república melhor do que a monarquia; e a democracia melhor que a ditadura. Melhores porque regimes mais livres e mais iguais, mais próximos do princípio de que a sociedade se pode - e deve - auto-governar. Isto não faz destes regimes isentos de críticas; mas fá-los certamente dignos de comemoração, dignos de serem lembrados em conjunto. Mas, lá está, Pedro Passos Coelho faltou ontem ao lugar onde se proclamou a República; como a direita portuguesa em geral faz por ausentar-se do 25 de Abril. É uma atitude de ignorância voluntária que só poderia desculpar-se se ao menos fosse clara e assumida. Mas, enfim, não se pode exigir vontade a quem não a tem. A melhor comemoração da República é viver querendo governar-nos a nós mesmos. Uns dias melhor e outros pior."
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