Sérgio Godinho (SG) figura nos meus músicos preferidos, está no top-3 pessoal. Foi dele o meu primeiro disco - "Noites Passadas" - e também um dos meus primeiros concertos a sério - "Godinho no Mundo", no Rivoli. Ontem fui ver "Final de rascunho", um concerto na Culturgest que serviu para apresentar algumas músicas novas que farão parte de um novo álbum. A crónica do concerto está aqui, pelo Nuno Pacheco no Público, como sempre muito boa e fiel ao que se passou em palco.
Não me interessa falar agora mais do concerto em si mas sim da capacidade de SG continuar com o mesmo brilhantismo de sempre. Por que razão SG é um dos poucos músicos da sua geração - quer em idade quer em estilo musical - que continua actual e capaz de ser ouvido pelos mais novos? Para mim, é muito simples: desde o álbum Lupa, SG rodeou-se dos melhores músicos, normalmente jovens, para tornar a sua música mais "fresca". Se a genialidade das letras é a impressão digital de SG e isso nunca se apagará, a roupagem que foi dando às músicas, mesmo às mais antigas, fez com que a sua música não ficasse presa aos sons do último quarto do século XX. Para além disso, SG colaborou muito com novas bandas, como os Clã, o que também o fez perceber em que caminho deveria seguir. No meu entender, escolheu o correcto: todas as músicas continuam a ter a marca SG, é quase único o que ele faz com as palavras, e a música que as acompanha tem uma sonoridade mais actual, não está presa aos habituais instrumentos.
O álbum "Lupa" marca, no meu entender, a viragem no rumo da música de Godinho. "Ligação directa", o último de originais, é o disco da maturidade musical de SG na relação com a nova geração de músicos que o rodeia - os "Assessores" são a banda que acompanha SG desde há uns anos para cá. Entre estes dois álbuns, surgiu o grande "Irmão do meio", em que as músicas bem antigas de SG ganharam nova vida com a presença de convidados de luxo - o disco é tudo duetos - e já com arranjos de, por exemplo, Hélder Gonçalves (Clã) ou Nuno Rafael - sempre incrível nos arranjos, mais uma vez provou-o no concerto de ontem - que foram os produtores do "Lupa".
SG foi suficientemente inteligente para continuar a singrar no panorama musical português. E com frequência. O que é muito difícil.
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