Itália (5): breves notas sobre os resultados

Faltando apenas apurar os vencedores oficiais em duas regiões, Lácio e Piemonte - embora seja quase certo que o centro-direita vá ganhar essas duas regiões - há algumas coisas que já se pode dizer sobre as eleições regionais aqui em Itália. Os próximos dias poderão trazer desenvolvimentos.

1- O Partido Democrático é o vencedor destas regionais por 7-6 em número de regiões. Uma vantagem curta, muito curta. Mesmo tendo sido o primeiro acto eleitoral a nível regional deste novo partido e a primeira vitória frente ao PdL de Berlusconi, não deixa de ser um revés grande perder regiões como Piemonte, Calábria (onde apresentaram um candidato a contas com a justiça por corrupção) ou mesmo a região da Lácio (da capital). Veremos como reage já hoje Bersani e como será o seu futuro nos próximos tempos. Porém, este resultado dá a entender que muitos italianos ainda não confiam no PD para destronar Berlusconi - lembrar que em 2005, um ano antes da queda de Berlusconi, a coligação Ulivo de Prodi ganhou por 11-2.

2- Berlusconi foi ligeiramente penalizado nas urnas. Mas perdendo votos para a Lega Nord de Bossi. Mesmo assim, este resultado não é o que alguns analistas podiam esperar e as duas últimas semanas de campanha podem ter invertido o rumo. A abstenção, que subiu consideravelmente (cerca de 7%), beneficiou Il Cavaliere.

3- Bossi e a sua Lega Nord, um partido xenófobo, aumentaram a votação e conquistaram Piemonte. Os próximos tempos dirão o que quererá dizer este resultado mas, sem dúvida, a influência de Bossi no governo vai aumentar. Berlusconi agradece este aliado de peso.

4- A bela Toscana, onde estou, continua à esquerda, com a coligação de vários partidos a derrotaram a coligação de direita.

Itália (4): o que está em jogo nas eleições

As eleições que se realizam hoje e amanhã em 13 regiões italianas são decisivas para perceber três coisas.

1- Como é que o Berlusconi e o PdL (ou o partido do amor) saem destas eleições: a queda da popularidade, os escândalos, tudo isso será posto à prova numa campanha onde Berlusconi deu tudo o que tinha, onde ele transformou as regionais num teste à sua governação. Lembrar que nas últimas regionais o centro-esquerda venceu por 11-2. Um resultado semelhante seria uma humilhação para Il Cavaliere.

2- A liderança de Bersani, um líder muito pouco carismático, está em jogo. Um bom resultado do Partido Democrático, isto é, ganhar em número de regiões e por alguma diferença, daria uma maior confiança a Bersani para ser ele o candidato a enfrentar Berlusconi nas próximas eleições. Se o PD não conseguir uma boa vitória - depois dos 11-2 de Prodi, na extinta coligação Ulivo - Bersani poderá ser uma vítima nos próximos tempos e obrigará, novamente, a esquerda a procurar um líder. A campanha do Pd e do seu líder foi fraca e a recta final de Berlusconi poderá ter provocado alguns estragos no centro-esquerda, que não consegue ser alternativa ao PdL.

3- Até que ponto Bossi e a Lega Nord se reforçam para poder ter ainda mais poder no Governo de Berlusconi, podendo superar, nalgumas regiões a Norte, a votação do PdL.

Loucura

É por corridas como a de hoje que vale a pena acordar às 8 da matina. Que loucura de corrida!

Schumacher vs Alonso

Eu já tinha avisado que este ano o campeonato de Fórmula1 ia ser bastante divertido. Fernando Alonso vingou-se hoje, na qualificação para o GP da Austrália, de Schumacher. O alemão já veio protestar mas o espanhol tem ainda em mente o que se passou no Mónaco em 2006. Isto está a aquecer: o alemão já está a ficar nervosinho por não conseguir andar na frente.

Passos Coelho

Passos Coelho venceu as eleições no PSD de forma inequívoca. Veremos até que ponto Passos consegue manter o discurso à direita que tem apresentado e como conseguirá enfrentar Sócrates e o governo, já que não está no Parlamento. Aguiar-Branco poderá ser determinante, Rangel volta humilhado para Parlamento Europeu mas não por muito tempo. Será Passos o líder que a direita portuguesa anda à procura?

(música: "Os passistas", a música inicial do grande álbum "Livro" de Caetano Veloso.)

Itália (3)

Ontem, em Bolonha, foi para o ar o programa "Raiperunanotte". Este surgiu na sequência da suspensão de três programas televisivos da RAI, "Annozero", "Porta a Porta" e "Ballarò", todos eles políticos, durante o período de campanha para as regionais. Esta suspensão foi imposta pela administração da RAI. Michele Santoro, um conhecido jornalista e ex-politico de esquerda, foi quem teve a ideia de organizar o "Raiperunanotte", auxiliado por contribuições de vários cidadãos. Foi transmitido em vários canais codificados e na net. Fala-se, hoje, em 14% de share o que é considerado uma vitória pelos organizadores.
Claramente contra Berlusconi, reuniu várias personalidades da sociedade italiana. Uma delas foi Roberto Benigni. O vídeo acima é a reprodução da participação do cineasta no programa de Santoro, um momento de fina ironia contra Berlusconi: o Zimbabué, o slogan do PdL ou o gozo com a presença de um milhão de pessoas num comício do PdL. Um grande momento de Benigni.

França

Sarkozy terá dois anos para recuperar e continuar mais sete anos no Eliseu. Depois da vitória do PSF e da esquerda nas regionais, surge agora a notícia que Villepin, velho inimigo de Sarko dentro da direita francesa, irá criar um novo partido. Sendo certo que a vitória da esquerda não implica que o PSF tenha um candidato forte para 2012 - Aubry está ainda longe de ser uma escolha óbvia para o eleitorado francês - Sarkozy irá ter que se esforçar muito nesta parte final de mandato para recuperar a popularidade que angariou em 2007. O próximo ano, ainda com a crise económica a pairar por aí, será decisivo.

Itália (2)

1- As eleições italianas são das mais concorridas na Europa. As taxas de participação andam sempre entre os 70% e os 75%. Mas para domingo receia-se que a taxa de abstenção suba substancialmente.

2- A campanha para as regionais, tal como já disse, têm sido marcadas por temas políticos que dizem respeito ao governo e a Berlusconi. Mas é o próprio partido de Il Cavaliere que incentiva isso mesmo. Ontem passou por mim uma daquelas carrinhas de propaganda eleitoral que dizia simplesmente isto: "Apoia o governo de Berlusconi, vota Faenzi [a candidata do PdL na Toscana]".

3- O Partido Democrático, que terá obrigação de manter quase todas as regiões ganhas em 2005, não consegue marcar a agenda mediática. Vai dizendo que Berlusconi está nervoso e pouco mais. E vai prometendo uma mudança: "Em poucas palavras, uma outra Itália" é o slogan de campanha do Pd. Bersani, o líder, tem nestas regionais o seu primeiro teste eleitoral.

4- Quanto crescerá a Lega Nord de Bossi? Depois dos 10% nas europeias do ano passado, a Lega aposta forte em conseguir bons resultados fora das regiões onde tem a sua implementação. Uma das explicações para o sucesso de Bossi e companhia é a estabilidade: num país onde nos últimos vinte anos tem havido imensas mudanças a nível de partidos, o facto de a Lega ser o partido mais antigo - líder, nome, símbolo - não deve ser desprezado na análise ao seu sucesso eleitoral.

5- Em Itália, nas duas semanas anteriores a actos eleitorais, não há sondagens. Segunda-feira à noite se saberá o que pensam os eleitores.

Paolo Conte (2)

Foi wonderful, wonderful. Grazzie mille, Paolo.

Paolo Conte

Quando cheguei a Firenze, uma das primeiras coisas que reparei foi nos vários cartazes a anunciar o concerto de Paolo Conte. Fui a correr comprar bilhete. Não sou fã nem conhecedor absoluto do seu reportório, mas "Blue Tangos", "Via con me", "Max" ou "Azurro" são músicas que ouvi várias vezes e de que gosto muito. Amanhã lá estarei no Teatro Maggio Fiorentino.

Itália

Realizam-se no próximo domingo eleições regionais em Itália. 13 de 20 regiões vão a votos e a campanha eleitoral tem sido marcada por alguns escândalos, ou não estivéssemos a falar de Itália. O atraso na entrega das listas nas regiões da Lombardia e da Lázio por parte do partido de Berlusconi, il Popolo della Libertà (PdL), foi o grande caso da campanha. Nesta não tem havido uma discussão séria dos problemas do país e das regiões já que os ataques pessoais e as acusações estão sempre presentes, quer da parte da esquerda quer da direita. Não há volta a dar: o debate político italiano está confinado a isto. As secções do jornais chamam-se, por alguma razão, "Política e justiça".

Ontem, o PdL foi à rua. Um grande comício organizado em Roma marcou o dia, Berlusconi foi o grande protagonista. Um discurso empolgante de mais de 30minutos perante milhares de pessoas - a contagem do número de apoiantes presentes em Roma é a nova discussão do fim-de-semana político aqui em Itália - provou que Il Cavaliere continua igual. Ataques à esquerda, pouco conteúdo sobre questões políticas, uma valorização das emoções. Isso mesmo estava patente no slogan do enorme palco do comício: "O amor vence sempre sobre a inveja e o ódio". A matriz do discurso de Berlusconi foi a valorização da liberdade, a paixão pelo país, a dedicação à causa pública, características apenas presentes no PdL e que a esquerda desdenha, segundo o presidente do conselho, porque só se interessam pelo ataque pessoal e pelo ódio ao seu governo e ao povo italiano que vota nele.

O comício teve outros pontos altos. A presença de Umberto Bossi, líder da Lega Nord - extrema-direita - junto a Il Cavaliere foi um momento alto, motivou rasgados elogios do premier italiano e enorme entusiasmo na rua. A coligação parece estar para durar, apesar de algumas críticas de Bossi há umas semanas atrás depois da confusão das listas. Outro grande momento foi a presença da maior parte dos candidatos regionais no palco. Chamados um a um por Berlusconi, num acto de vassalagem ao líder pouco visto nos nossos dias, os candidatos apenas sorriam perante os elogios do líder, beijavam-no e diziam "grazzie mille". Em seguida, foram convidados a ler uma espécie de juramento político, em sintonia, perante a grande satisfação de Berlusconi. Um espectáculo grandioso, bem ao jeito de Il Cavaliere.

As eleições regionais em Itália deverão ser ganhas pelo Partido Democrático (Pd) - na senda de 2005 - na medida em que vencerão um maior número de regiões. No entanto, o PdL deverá ter o maior número de votos. Mas neste aspecto se verá como está a popularidade do governo do PdL e da Lega. As sondagens dão um quebra de confiança em Berlusconi desde os escândalos sexuais de há uns meses, agravados pela polémica das listas, passando ainda por mais acusações da justiça a Il Cavaliere por abuso de poder. Por isso Berlusconi está tão empenhado nas eleições regionais de 28 e 29 de Março.

Primavera

Chico.

Sexta-Feira

O dia de ontem em Portugal foi bastante agitado. Senão vejamos.

1- Começou com Manuela Ferreira Leite dando mais um tiro no pé, mostrando que não tem jeito nenhum para a coisa. Disse ela que espera que o próximo líder do PSD "não seja escolhido pelo aspecto físico". Foi a resposta que conseguiu já que não quer dizer em quem vota - Rangel. Por que não dizer logo apoio x e quero que y perca? Toda a gente percebeu o alcance das palavras de Ferreira Leite, escusava era de ter sido numa frase absurda.

2- Depois, a birra entre Jaime Gama e o grupo parlamentar do PS (!). Primeiro porque um inexperiente secretário de estado não formulou correctamente a saudação protocular do parlamento levando a bancada socialista a aplaudir euforicamente o secretário de estado. O presidente da AR esteve bem aqui neste aspecto. Segui-se a discussão entre Lello e Gama. Por muito que me custe, Lello tem toda a razão no que apontou: os computadores dos deputados são pessoais e não públicos, como defendeu, e mal, Gama. (sobre o tema ler a opinião de Daniel Oliveira, 100% de acordo)

3- Ainda no parlamento, Isabel Alçada provou que é a única ministra do executivo que existe. Que conhecemos nós, nos últimos meses, do ministro das obras públicas? Do ministro da economia? Da ministra do Trabalho? Do ministro da agricultura? E por aí fora. A ministra da educação é a única com trabalho visível, concorde-se ou não com as suas posições.

4- O dia do pai também nos deu a oportunidade de confirmar, mais uma vez, o que há muito se sabe: José António Saraiva é uma criatura insuportável.

5- O dia terminou com Manuel Alegre ao ataque. O PEC e o governo foram os alvos. Enganou-se quem pensou que Alegre iria estar caladinho.

PEC

O país político encontra-se a discutir o PEC. Um documento que prova, uma vez mais, que o que se diz nas eleições não se cumpre no exercício das funções governativas. O PS ganhou as legislativas de setembro com base num discurso positivo, centrado no investimento público, um discurso que o aproximou muito mais da esquerda do que da direita. Passados poucos meses, as linhas directivas para a economia nos próximos anos são exactamente o oposto do que andaram a pregar durante uns meses. Só com uma oposição moribunda e um presidente de plástico estas coisas são possíveis.

Elis

Faria hoje 65 anos. Depois de se ouvir Madalena, nunca mais se esquece Elis.

Congresso PSD (2)

Já depois de ter escrito o texto anterior sobre o PSD, soube da famosa lei da rolha. O PSD, de facto, é uma anedota. Mas o que eu gosto é que em todo o lado leio e ouço que o próximo líder do partido da São Caetano à Lapa será primeiro-ministro. Depois de um fim-de-semana em que não se discutiu uma única ideia política - apenas soundbytes eleitoralistas - acham mesmo que alguma daquelas três criaturas está preparada para liderar o país? Para citar Fernando Costa, só se o líder do PS se chamar Vital Moreira.

Lembrar desastres

Vital Moreira parece, claramente, um halterofilista desengonçado. Aqueles movimentos de braços vão ficar para sempre na história das eleições portuguesas. Há muito tempo que não se assistia a tamanha falta de jeito para discursar e fazer política.

Congresso PSD

Estava tudo morno até entrar em acção Fernando Costa, presidente da Câmara das Caldas. Num discurso ao ataque e emotivo - às vezes sem nexo - o autarca do PSD deixou em KO técnico Ferreira Leite e companhia. Paulo Rangel também não escapou e só os gritos histéricos dos jotinhas presentes o fizeram sorrir de novo. Terminou a noite a pedir maioria absoluta - se a demagogia matasse - e parece que conseguiu ganhar alguns votos em Mafra, depois de dois debates paupérrimos.

Aguiar-Branco é um bom orador mas falta-lhe qualquer coisinha - ideias. Fala em união mas parece que só está ali por birra. Pode dar um bom ministro de alguma coisa. Já Passos Coelho, que anda a treinar para líder há muito tempo, esteve tranquilo e sem arriscar nada. A gaffe da Madeira até pode ter sido propositada - fazer com Jardim escolhesse o seu candidato. Tem algumas ideias (poucas), rejeitou o liberal que há em si e tem uma voz linda de morrer. Chegará? Terminou a noite muito bem: exigindo ao governo o adiamento da votação do PEC.

Falta falar de Castanheira Barros, o candidato a presidente do partido mas não a primeiro-ministro. Eu ontem percebi porquê: as suas ideias apenas passam por "ligar em rede" todas as sedes do PSD, definir horários fixos e semelhantes para todas as sedes no país e investir nas novas tecnologias para que um presidente de uma concelhia em Viana possa falar por videoconferência com a líder do partido. Não, não estou a inventar. Foi o que ele disse. E começou o discurso da noite da pior maneira possível, ofendendo Sócrates. Um verdadeiro palhaço.

Houve ainda Marcelo, sempre contundente mas sempre pronto a não querer meter-se nestes trabalhos, e ainda Santana que fez o ataque mais duro a Cavaco desde que este está em Belém. Lembrem-se disso nas presidenciais que se avizinham.

Fórmula 1

O regresso de Schumacher, a McLaren com dois pilotos britânicos e campeões do mundo, a Ferrari com um piloto que sabe vencer em vários grande prémios - Alonso - e que tem finalmente um carro a sério para poder vingar-se de Hamilton, um jovenzinho alemão chamado Vettel de quem todos têm medo. Estas são algumas das razões para não perder pitada do Mundial de F1 que começa amanhã, no Bahrein. Vai ser espectacular e imprevisível. Ah, e temos o regresso da Lotus. Saudades...

Christopher Waltz (2)

Tal como tinha previsto, Waltz teve o Óscar que merecia.

Mário Crespo

Mário Crespo julga-se importante. Mas o país não lhe liga nenhuma. Basta pensar no sucesso que o seu programa teve na SIC. Aquele programa de entrevistas, anunciado ao mundo como uma coisa grandiosa, durou uns mesinhos. Lembro-me de Crespo dizer que queria que o programa durasse muito tempo, tal como o de Judite Sousa na RTP. Miguel Sousa Tavares, suponho, há-de conseguir um pouco mais de sucesso no mesmo horário que era de Crespo. Este vai-se contentando com umas entrevistas a Medina Carreira.

Fervor

A mim também me custa muito comer depois de uma derrota do FCP.

Sousa Cintra

Hoje lembrei-me disto.

Apostas

No dia 27 de Maio escrevi este texto. Lá para o meio, quando analisava as candidaturas de Rangel e Melo nas Europeias, lê-se isto:

"PSD e CDS, que à partida para estas eleições estavam numa situação pouco confortável a nível nacional, optaram por apostar tudo nestas eleições a fim de conseguirem criar uma dinâmica de vitória a pensar em Outubro. Dificilmente Rangel e Melo ficarão em Estrasburgo até ao fim do seu mandato. O que é pouco condizente com os seus discursos de campanha. (aposto o que quiserem como isto vai acontecer)."

Rangel já está cá. Falta Nuno Melo. Também não tardará.

Imagens

Há aquela máxima "uma imagem vale mais do que mil palavras". Ontem, durante o Sporting-FCPorto, há uma que não me sai da retina: Jesualdo, vendo a sua equipa a ser banalizada pelo adversário, ao esbracejar para dentro do campo perde a sua braçadeira de treinador, deixando-a cair no chão. É preciso dizer mais?

(publicado originalmente no Footy)