fevereiro 28, 2011

As eleições na Irlanda


A Irlanda, que se encontra mergulhada numa grave crise financeira, foi a votos no último fim-de-semana e, sem surpresa, o partido do governo - Fianna Fáil - foi estrondosamente derrotado nas urnas. Este partido de direita, à muitos anos à frente dos destinos do país, teve o pior resultado de sempre: perdeu 59 deputados (em 166) e passou de 41,6% dos votos para 17,4%, números que exemplificam muito bem a derrota deste partido e de toda a sua política económica ao longo das últimas duas décadas.

Mas o partido vitorioso destas eleições legislativas não foi um partido de esquerda. O segundo maior partido irlandês é, também ele, de direita: o Fine Gael. Embora mais centrista que o Fianna Fáil, não é grande a diferença ideológica entre os dois. Mesmo assim, sentam-se em diferentes grupos partidários no Parlamento Europeu. O Fianna Fáil ao lado dos liberais, o Fine Gael tem lugar no Partido Popular Europeu.

Nos resultados das eleições, o Fine Gael não conseguiu a maioria absoluta, apesar da vitória. 70 deputados e 36,1% dos votos não chegaram para que este partido pudesse, a partir de agora, tomar conta sozinho dos destinos do país. Terá que encontrar um parceiro de coligação mas, por agora, a grande pergunta que se coloca é se a Irlanda irá mesmo mudar de rumo e se essa mudança será definitivamente diferente da que tem sido seguida até agora e que foi numerosas vezes elogiada por todo o lado, inclusivé em Portugal.

Quanto aos países da esquerda irlandesa, os Trabalhistas passaram para segunda força política com 19,4% dos votos (aproximadamente mais 10% do que tiveram, em média, nas últimas três legislativas, regressando a valores de 1992) e 36 deputados, o que representa um aumento de 16 em relação às legislativas de 2007 e 2002 onde foram eleitos 20 deputados trabalhistas. Um resultado muito bom, dada a história eleitoral, mas que, mesmo à distância, nos permite dizer que na Irlanda as políticas de esquerda não ganham a força necessária para serem alternativa mesmo com uma crise económica e financeira provocada, quase em exclusividade, pelas políticas neo-liberais verificadas naquela ilha. Contudo, é um resultado que permite, segundo a imprensa, serem o aliado preferencial do partido vencedor, embora as duas votações somadas não cheguem para formarem uma maioria absoluta - faltam ainda conhecer o destino de 12 mandatos parlamentares, em consequência de na Irlanda haver o sistema de voto único transferível, muito complexo mas que permite aos cidadãos uma escolha mais directa dosn seus representantes.

Uma nota final para o Sinn Féin, o partido com origens na Irlanda do Norte e com ligações ao IRA, agora já desfeitas. O partido de Gerry Adams, à frente do partido desde o início da década de 80, foi pela primeira vez eleito como quarta força política na Irlanda e passou de 4 deputados e 6,9% dos votos em 2007 para 13 deputados e 9,9%.

fevereiro 24, 2011

À direita ninguém se mexe

Todos os dias, a toda a hora, ouvimos e lemos diagnósticos à esquerda e à direita do péssimo estado em que nos encontramos, na falta de capacidade política deste governo, da crise social que se avizinha - ela já existe mas é silenciosa -, da subserviência para com Merkel e Bruxelas, da inexistência de ministros, enfim, um quadro negro que se abateu sobre o panorama político, social e económico em Portugal. Mas perante isto, o que fazem os partidos da oposição, que tantas vezes se aliaram nesta legislatura para vários diplomas "menores"? Perante a moção do Bloco, resguardam-se numa golpada táctica que, a meu ver, lhes custará muito no futuro. Enquanto se aguarda o discurso do presidente na tomada de posse, Sócrates lá vai conseguindo encher o balão de oxigénio. O PSD acha que é assim que tem que proceder - o poder tem que vir parar até ao colo de Passos Coelho. Paulo Portas vai tentando tudo para ter acesso ao poder, ou numa coligação pré-eleitoral ou obtendo um resultado que obrigue a ser parceiro do PSD num futuro governo. O problema é que estes dois partidos esquecem-se de uma coisa: as pessoas estão a perder a paciência. E se antes das legislativas de 2009 ninguém previa que Sócrates e o PS ganhassem de forma descarada ao PSD - o problema foi o CDS e o Bloco - hoje ninguém pode afirmar que é uma questão de tempo para o PSD ser governo. Passos Coelho dá entrevistas das quais não se retiram frases-chave, apenas soundbites para jornalistas escreverem e nós nos esquecermos. Estará mesmo pronta esta direita para ser governo? É que uma coisa é a opinião publicada, outra bem diferente é a direita partidária. Alguém vê um rumo no PSD? Alguém encontra bandeiras de luta no partido de Passos Coelho? Hão-de ficar à espera sentados.

fevereiro 20, 2011

Líbia

Daqui a uns anos vão-se investigar com mais calma e precisão as revoluções que têm estado a decorrer no mundo árabe. Por agora, a emoção supera a razão e é difícil não nos sentirmos comovidos e solidários com aqueles povos que durante estes anos todos têm vivido sob ditaduras cruéis onde a palavra liberdade é uma miragem. Mas o contágio que se tem visto nestes últimos dias é, de facto, impressionante. O problema é que agora esta onda chegou à Líbia, onde um lunático ditador reina há muito e é um grande amigo de muitos países ocidentais. Khadafi não é um fantoche, não está a gostar destas agitações e derrubá-lo afigura-se difícil. Mas quem imaginaria que Mubarak e Ben Ali fossem cair em tão pouco tempo?
Sobre a Líbia e os negócios com outros países, recomendo a leitura desta notícia que relata os negócios entre Berlusconi, Putin e Khadafi - olhem que três!

fevereiro 18, 2011

fevereiro 16, 2011

Plano Inclinado


Há muitas razões para não suportar a dupla Medina Carreira-Mário Crespo. Este vídeo é bem ilustrativo da falsidade que vigora naquele aquele programa.

fevereiro 12, 2011

Rui Pereira


Não percebo como é que Rui Pereira é, ainda, ministro. Uma rápida pesquisa sobre as demissões ministeriais nos últimos quinze anos dará para perceber que metade das saídas de ministros dos governos foram por razões bem menos graves do que as complicações eleitorais das presidenciais de 23 de Janeiro.

fevereiro 11, 2011

A moção do Bloco

A moção de censura que o Bloco anunciou, só para daqui a um mês - apenas beneficia o governo porque ninguém acredita que possa ser aprovada pelo PSD que sairá sempre mal deste processo. Se rejeitar desde já a moção está a dar um claro sinal que pretende, por agora, estabilidade - Sócrates agradece enquanto vai tentando consolidar as finanças públicas. Se não se pronunciar, ou afirmar que espera pelo texto da moção, é acusado de criar instabilidade política por mais um mês. Se optar por anunciar que aprovará, isso representa uma aliança perigosa ao Bloco.
Mas onde é que fica o Bloco no meio de tudo isto? Essa é a grande incógnita. Esta estratégia prova uma coisa: que Louçã nunca soube bem o que fazer com o resultado das legislativas em 2009. Veremos como isto acaba.

Egito e Tunísia

O que aconteceu no Egito e na Tunísia é algo inesquecível para os povos destes dois países e ver ditadores caírem apenas pela força da rua chega a ser comovente. Uma grande lição para o ocidente que sustentou durante estes anos todos estes dois ditadores e que por agora se congratula com as alterações políticas. Se a hipocrisia matasse...

fevereiro 08, 2011

A morte do Governo

Marcelo Rebelo de Sousa, naquele estilo inconfundível, veio anunciar na sua missa dominical a morte do governo. Disse, e bem, que alguns ministros não existem e que é uma questão de tempo até haver uma crise política. Sabe-se o poder que Marcelo-comentador tem e esta semana começou com a ideia de uma moção de censura do PCP e possíveis apoios à direita a essa moção comunista.
De facto, este governo tem muitas personalidades desgastadas e sem qualquer ponta de capital político para governar: António Mendonça, Ana Jorge, Rui Pereira, Luis Amado ou Alberto Martins. Mas o que os adversários do governo parecem esquecer é que enquanto houver Sócrates, o governo não cai facilmente. O governo pode estar morto mas Sócrates está vivo. E desprezar este facto é ignorar a história recente da política portuguesa.

fevereiro 06, 2011

Carta a Villas-Boas


Meu caro André,

bem sei que ainda é muito cedo para te começarmos a crucificar, também não esqueço o facto da vantagem para o segundo classificado ser enorme e dificilmente não recordarei para toda a minha vida os 5-0 ao Benfica. Porém, algo me leva a escrever-te tão cedo e por tão pouco. Passei quatro anos a levar com as teimosias do velho Jesualdo que, apesar de me ter presenteado com títulos e alegrias, consumia-me a paciência a níveis altos demais para um adepto de um clube campeão.
Assim, André, antes que a coisa dê para o torto, ou seja, perdermos para o Sevilha e sermos eliminados na Taça de Portugal - não me passa pela cabeça perder o campeonato - sou impelido a alertar-te para algumas coisas que não tenho gostado de ver. A saber:

1) a teimosia de pôr o Hulk ao meio está ao nível das piores coisas de Jesualdo já que o incrível não sabe jogar no meio, ponto;

2) o Fernando não é o jogador ideal para o teu trinco: a bola nos pés dele é tão perigosa como um boneco Lego nas mãos de uma criança de um ano;

3) bem sei que o Barcelona faz isto muitas vezes mas nós temos o Rolando e eles o Piqué: o nosso defesa-central não pode ser o jogador que mais vezes inicia o ataque, até porque o Rolando só sabe fazer passes longos e ao acaso;

4) tens que começar a puxar pelo talento do Cristian Rodriguez já que o Rodriguez mais novo, o James, é muito talentoso mas ainda muito verdinho, não tem a garra suficiente para enfrentar determinados jogos, p.e. os próximos em Braga e Sevilha;

5) e ires buscar um ponta-de-lança aos juniores? O Jesualdo sempre teve medo de ir buscar jovens, tu devias fazer o contrário. O Walter é mau demais para ser jogador de futebol, acho que só há um desporto que se adapta ao seu porte físico: mini-golfe;

6) não te preocupes com o Fucile: eu sei que ele é infinitamente melhor que o Buturovic, Secretário, Sapunaru, Seitaridis, Ricardo Costa, Nélson e Ibarra juntos. Mas...o gajo não anda bom da cabeça, como se viu em Guimarães. Aquele jogo merecia vinte chicotadas por dia e uma suspensão da sua actividade por seis meses. Por isso, reza pelo Álvaro Pereira e vai pondo o Sereno.

7) um conselho muito prático: tenho aqui no blogue vários textos sobre o Jesualdo. Se fizeres tudo ao contrário tens motivos para estares tranquilo.

Por isso, André, continua a fazer o teu trabalho, vê se te empenhas ainda um bocadinho mais para fazeres uma temporada perto da perfeição. Não te exijo mais. Até porque tu mereces.

Um abraço!

fevereiro 04, 2011

Redução dos deputados - a demagogia

Esta semana, através de Jorge Lacão, o tema da redução do número de deputados voltou à discussão. E a demagogia e o populismo associados à ideia não desaparecerem.
Reduzir o número de deputados para o mínimo constitucional é um disparate porque está mais do que provado que o nosso número de deputados está mais do que adequado à população portuguesa, a redução de custos que pregam os defensores desta medida é tão ridícula que nem vale a pena pegar por aí e, em último lugar, uma eventual redução do número de deputados diminuiria a proporcionalidade do parlamento português e partidos como o CDS, PCP e Bloco perderiam deputados. E este facto seria extremamente grave pois todos sabemos a importância que estes três partidos têm na vida parlamentar portuguesa.
O problema é que vivemos um tempo em que o sentimento anti-política e anti-partidos é crescente e toda esta encenação à volta de uma ideia completamente fútil e demagógica só torna aqueles sentimentos ainda mais forte. É preciso combater isto de forma activa.