A corrida à sucessão de Sócrates não poderia ser mais enfadonha. A dois candidatos medianos junta-se a circunstância de ser uma péssima altura para se debater o que quer que seja dentro do PS: Sócrates, para além de ter secado tudo à sua volta, comprometeu-se com o acordo da troika e deixou pouquíssimo espaço de manobra a Assis e Seguro. Para além de clichés básicos de campanhas eleitorais internas, estes dois militantes têm acrescentado muito pouco ao debate e é difícil distinguir o que os separa.
António José Seguro é o eterno candidato à liderança do PS. Passou os últimos anos a abordar cautelosamente todos os assuntos e, enquanto deputado, teve intervenções cirúrgicas sobre alguns temas delicados para o PS. Mas todas as suas declarações foram pensadas e repensadas, ditas sem alarme, de forma calculista e hipócrita. Nunca quis romper demasiado com Sócrates mas conseguiu sempre deixar no ar, de forma cínica e oportunista, as suas (pequenas) divergências. Não se conhecem dele grandes ideias para o país, nem capacidade para mobilizar um pequeno carreiro de formigas, quanto mais o partido e os eleitores de esquerda. E, por falar em esquerda, dificilmente Seguro tem o perfil e as condições para entendimentos com outros partidos.
Por outro lado, Francisco Assis também não representa uma ruptura muito acentuada com os últimos anos do Partido Socialista. O facto de ter apoiado de forma veemente José Sócrates não é um bom cartão de visita e o seu estilo de fazer política - mais vivo, mais verdadeiro, mais empolgado - parece não ser uma qualidade quer no partido, quer no país. As pessoas gostam mais de gente certinha, que falem de forma ponderada mas sem conteúdo. E Assis, por vezes, é explosivo. E explosiva foi a sua proposta de abrir as eleições no partido a todos os simpatizantes do PS. Foi uma proposta interessante e louvável que nos garante que, apesar de trazer consigo alguns vícios socratianos (Lello, Santos Silva, etc), Francisco Assis poderia desempenhar o cargo de líder da oposição de uma forma mais dura e corajosa. E, também, é o candidato que mais condições tem para estabelecer pontes à esquerda.
Em suma, o que distingue os dois candidatos no vazio de ideias que ambos representam é o estilo de fazer política e como encaram o sistema político e as suas interacções.
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