novembro 21, 2011

A moda dos grupos de trabalho

E eis que surge mais um relatório de um grupo de trabalho técnico convidado pelo governo para estudar determinadas funções do Estado. Depois do serviço público e dos transportes, eis que agora é a reforma hospitalar a visada. E nos próximos tempos surgirão mais pois há por aí muitos "sábios" reunidos secretamente em hotéis de cinco estrelas a discutir o nosso Estado.

Mas eu pergunto: o trabalho destes grupos técnicos não deveria ter sido feito antes das eleições? Ou é a prova real de que o PSD e Passos Coelho não estavam minimamente preparados para governar nem conheciam a fundo as matérias?

E, para além de ser uma subversão perigosa das regras do jogo democrático, há outro aspecto que torna a coisa ainda mais ridícula. Antes dos relatórios serem apresentados ao governo, eles são escrutinados nos media. Dessa forma, propostas ridículas como o fecho do metropolitano às 23h ou a tutela da RTP Internacional por parte do MNE são única e exclusivamente imputadas a esse grupo de trabalho encomendado pelo governo que, assim, já sabe o que fazer com tais propostas. O executivo limpa as mãos e segue em frente.

novembro 11, 2011

Uma nulidade segura

E pronto, Orçamento na generalidade aprovado. Tó-Zé Seguro, com a sua "abstenção violenta", provou mais uma vez que está a transformar o partido num "vazio ideológico". Quando uma coligação de direita rompe com vários bandeiras do Estado Social, diminui drasticamente verbas na Educação, prepara-se para uma revolução na Saúde, quer desmantelar os transportes públicos, ataca a função pública de forma assassina e, não menos grave, rompe também com o contrato eleitoral que fez com os seus eleitores, eis que o novo PS de Seguro vem dizer ao país que está "em estado de choque" mas que se abstém por causa da imagem externa.

Estamos, pois, conversados sobre a utilidade de Seguro como líder da oposição. Nula.

novembro 09, 2011

O fim de Berlusconi?

Berlusconi, acossado com pela crise da zona euro, foi obrigado a abandonar o barco, tendo anunciado a sua demissão para as próximas semanas depois de aprovadas uma série de leis orçamentais. Mas será que esta sua saída significará mesmo o fim de Il Cavaliere na política italiana?

As pessoas que conheçam minimamente a história política italiana dos últimos anos dificilmente podem acreditar nisso. Ele já esclareceu que não se recandidata mas Napolitano, o presidente da República, está a ano e meio do fim do mandato e há quem acredite que Berlusconi tem o desejo de passar para o Quirinale. Esta não é uma hipótese assim tão descabida: a nomeação é feita no Parlamento e basta uma maioria simples após a primeira votação.

Mas esqueçamos esta questão e olhemos para o futuro imediato da política italiana. A demissão do primeiro-ministro implica, conforme o próprio explicou, a convocação de eleições antecipadas. Neste cenário mais provável é difícil fazer prognósticos. Porém, e apesar das derrotas nos referendos deste ano e nas municipais, em Milão por exemplo, os partidos da direita - PdL e Lega Nord - não têm assegurada nas urnas uma derrota. Bem pelo contrário, já que o centro-esquerda italiano vive uma crise profunda e os seus responsáveis não conseguem colher o entusiasmo de boa parte dos italianos em parte porque são incapazes de apresentar soluções credíveis e alternativas para o futuro do país.

Nesse sentido, e mesmo contando com a fissura que Fini abriu no PdL, a direita tem boas hipóteses de continuar no poder. E esta direita é toda ela constituía por discípulos de Berlusconi. Poucos ou nenhum terão o carisma de Il Cavaliere mas as práticas políticas são idênticas. E é isso que me faz temer que a saída de Berlusconi não signifique assim tanto para a política italiana.

Da última vez que a esquerda teve no poder, em 2006 quando Prodi ganhou a Berlusconi, a maioria que suportava o governo era constituída por diversos partidos, numa fragmentação insustentável. Durou quase dois anos e depois voltou Berlusconi. Os vários escândalos sexuais e judiciais, juntamente com o desastre económico das suas políticas, foram as principais causas da queda de Berlusconi. Se fosse só pela oposição - e refiro-me principalmente ao Partido Democrático - nada disto aconteceria.

novembro 08, 2011

O caos europeu


Lembram-se do sucesso da presidência portuguesa da União Europeia? O Tratado de Lisboa, o "porreiro pá", o desfile de líderes europeus sorridentes com o anfitrião Sócrates, as promessas de uma Europa "mais justa, mais próxima, mais próspera"? Lembram-se de quanto era importante para Portugal ter associado ao seu nome o Tratado que iria pôr fim aos problemas europeus, que traria estabilidade entre nações, que todos iriam poder fazer sentir a sua voz? Lembram-se do fogo de artifício na Torre de Belém comemorando a nova Europa?

Como 2007 não foi assim há tanto tempo, todos devem estar lembrados destes episódios. Era a Europa no seu auge, toda unida e pronta para combater qualquer obstáculo. Quatro anos depois, a Europa está a desmoronar-se. Perante uma crise financeira e económica bastante forte, a Europa política ficou de mãos atadas e anda, há quase dois anos, a tentar encontrar soluções. Até agora foram tendo bodes expiatórios: os malandros do gregos ou os preguiçosos de Portugal. Foram, de cimeira em cimeira, empurrando o problema com a barriga, tomando decisões a conta-gotas, sem nunca resolverem os problemas de fundo da União. Merkel e Sarkozy, juntamente com muitos outros chefes de governo e com Trichet e Juncker, nunca quiseram encontrar soluções para ultrapassar a crise optando pelo calculismo eleitoral interno de cada um deles e pelo calculismo dos grande grupos económicos alemães e franceses.

Quatro anos depois do Tratado de Lisboa e dois anos após o eclodir da crise da zona euro, a Europa vive dias aflitivos, sem rumo, sem líderes, sem plano, dando para fora uma imagem de instabilidade e de desorganização assustadora, como se viu na última cimeira do G-20 em que nem foram precisos manifestantes anti-globalização para desestabilizar a cimeira: bastou o primeiro-ministro grego acenar com a hipótese de um referendo para que os líderes europeus tremessem por todo o lado. A democracia é uma coisa chata para Bruxelas e, pelos vistos, já não faz parte dos ideais europeus.