janeiro 21, 2011

Declaração de voto


As eleições presidenciais em Portugal não me provocam uma grande simpatia. Não que seja monárquico - livra! - ou que queira a extinção do cargo. O que não concordo é com a existência da possibilidade de renovação do mandato num sistema semi-presidencial em que o Presidente tem apenas poderes de veto. Se o nosso sistema político fosse como o francês, a renovação do mandato faria todo o sentido. Aqui em Portugal não. E explico rapidamente. Ao ser eleito pela primeira vez, um presidente cumprirá o seu mandato tendo em vista a sua reeleição. Ora isto não é saudável já que o cargo que ocupa não é executivo, é um garante da estabilidade política do país. Pois um presidente de calculadora eleitoral na mão não pode garantir essa estabilidade. Sampaio nunca dissolveria a Assembleia se estivesse no primeiro mandato, por exemplo. E o comportamento dos presidentes no segundo mandato é sempre mais interventivo do que no primeiro. Isto faz algum sentido? Não me parece. Um mandato único de seis/sete anos parece-me o mais sensato face ao nosso sistema semi-presidencial com um poder muito forte do parlamento.
Terminada esta curta chamada de atenção para o sistema político, centro-me nas eleições de domingo. Os textos anteriores no blogue já puseram em evidência que não morro de amores por Cavaco. Aliás, odeio tudo o que ele representa politica, económica e socialmente. E é por isso que o meu voto no domingo será um voto contra Cavaco e todo o seu pensamento.
Bem sei que ele ainda representa muito bem o país. Uma nação do respeitinho, da autoridade, do desprezo pela democracia, da família com a mulher posta a um canto, dos valores religiosos, da banca e dos empresários como donos e e principais cérebros do país, da ausência da cultura como veículo chave no desenvolvimento do país. É isto que Cavaco representa. Para além de todos os disparates que todos os dias dispara por aquela boca fora, o actual presidente é um homem sem visão, que apenas percebe (e mal) de economia, que confrontado com questões políticas concretas só se remete ao silêncio.
O mandato de Cavaco foi pior do que o pior inimigo político do presidente poderia imaginar. Todos os seus comentários despropositados depois de promulgar as leis, o episódio das escutas de Belém - um dos mais graves de sempre e que nunca foi esclarecido -, o festejo do dia da raça, a submissão a Jardim na Madeira, do estatuto dos Açores em que parou o país por causa de nada, do episódio do funeral de Saramago, do BPN e toda a trapalhada que vem atrás. Enfim, um sem número de casos que fariam cair qualquer presidente de esquerda.
Durante a campanha, Cavaco revelou-se. Na recomendação a uma cidadã para procurar ajuda em instituições que não sejam do Estado, no pedido para lhe darem a vitória à primeira volta porque isso aumentaria as taxas de juro e os custos para um país endividado, na constante mudez face a ataques políticos - e não pessoais - e à declaração que fez às mulheres portuguesas, num debate, afirmando que elas faziam milagres com o orçamento da casa, colocando-as num patamar inferior aos homens, os chefes de família.
Não tenho um candidato ideal nesta eleição. Todos são muito melhores que Cavaco e num duelo a dois com o actual presidente não teria dúvidas a dar o meu voto a qualquer um deles. Porque o que se trata aqui nesta eleição é derrotar tudo o que Cavaco representa e que, a meu ver, só prejudica o país e o seu avanço político, social, económico e cultural. E é preciso não esquecer que todo o seu pensamento e modo de acção foram essenciais para chegarmos ao estado em que nos encontramos durante o seu reinado em São Bento.

Domingo, o meu voto é contra Cavaco.

(ilustração de gui castro felga)

2 comentários:

  1. 'da família com a mulher posta a um canto'
    é tao verdade isso. qdo vi a mensagem de natal com o sr anibal e a sua estimada maria, tao subserviente e submissa, sempre a olhar de lado para o grande chefe de familia como que a pedir a sua aprovação para qualquer palavra que dizia fez-me uma impressão enorme.
    mas é isto que se quer pelos vistos. mulher obediente --' enfim

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