Depois dos resultados eleitorais, tem havido um debate muito acalorado sobre o péssimo resultado do Bloco. Dirigentes, apoiantes e simpatizantes tentam encontrar explicações para a derrocada e vários aspectos têm sido apontados, desde o apoio a Manuel Alegre até à moção de censura, passando pelo voto útil e pela não reunião com a troika.
Olhando para a actuação do Bloco nos últimos meses, não é difícil dizer que raramente os seus dirigentes tenham acertado uma iniciativa política. Falta é perceber por que razão Louçã e companhia seguiram este rumo. Pela minha parte, que votei neste partido nas duas últimas eleições, a explicação é simples: o Bloco não conhece o seu eleitorado.
Se o Bloco é um conjunto heterogéneo de correntes de esquerda, o eleitorado do Bloco é tudo menos homogéneo. Engane-se quem pensa que em 2009 o Bloco teve 10% de votos de esquerda ou, quanto muito, de centro-esquerda. Os eleitores do Bloco correspondem bem ao eleitorado português: pouco enraizado e volátil, quer inter-blocos quer intra-blocos. Ou seja, o crescimento do Bloco, com vitórias do PS, deram-se também à custa de muitos votos de um eleitorado urbano algo liberal - para não dizer de direita - que se revia nalgumas bandeiras do Bloco e, porque não, no poder de confronto de Francisco Louçã.
O erro do Bloco, portanto, foi não perceber quem é que andava a votar em si - iludindo-se na existência de tantos esquerdistas - e, por isso, não corresponder a sua acção política com o que pretendiam muitos dos seus eleitores: um partido de confronto político mas capaz de assumir as suas responsabilidades com a finalidade de implementar grandes bandeiras do seu programa.
Mesmo assim, eu votei Bloco. Porque acredito que o discurso deste partido é realista e é o que apresenta as melhores soluções para o país. Noutro contexto, poderia ter castigado o partido em que votei e que me defraudou bastante as expectativas. Foi o que fizeram muitos dos seus eleitores. O voto útil, que também o houve, está um pouco sobrevalorizado.
Duas semanas após as legislativas de 2009 houve eleições autárquicas. Os resultados do Bloco foram mais que desastrosos, demonstrando bem a volatilidade do seu eleitorado e de que forma é que não o tinha seguro, castigando-o por péssimas estratégias autárquicas. Foi nessa altura que afirmei aqui que a saída de Louçã poderia ser um bom sinal para muito do eleitorado que votou no Bloco, demonstrando uma rotatividade e um saudável debate interno dentro do partido. Ficando preso a Louçã e ao seu núcleo duro na estratégia do simples protesto, o eleitorado depressa percebeu que talvez o Bloco não fosse capaz de representar uma esquerda responsável, longe do PCP e uma solução ao PS.
Um partido que apenas conhece os seus militantes, ainda por cima poucos, e que não percebe quem é que anda a votar em si não pode ter bons resultados.
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