Com a chegada do poder do governo de Passos Coelho, um dos temas fortes que se vai colocar em cima da mesa é a privatização da RTP. O PSD propõe a extinção de um dos canais abertos e do canal de notícias. Dito desta forma, sem conhecer a proposta e outras consequências desta via privatizante do serviço público de televisão, não fico nada escandalizado com a extinção referida anteriormente.
E as razões são simples. A RTP1 já é, praticamente, um canal privatizado. Ou seja, segue a lógica das audiências e, em três quartos da sua programação, é uma cópia da SIC e da TVI, com programas de baixo nível, implicando custos tremendos. A própria informação do canal não anda muito longe da que é feita nos canais da concorrência.
E a RTP2, apesar da sua diversidade no período da noite, durante o dia é um canal infantil sem utilidade nenhuma - e sem audiências das crianças portuguesas.
Quanto à RTPN, não justifica a sua presença no cabo já que a concorrência assegura perfeitamente a função de canal noticioso. Apesar dos bons conteúdos que poderiam figurar perfeitamente na grelha do canal aberto.
Então, qual seria a solução?
Em primeiro lugar, é preciso repensar todo o serviço público de televisão. Independentemente da sua privatização ou não, da extinção de um ou dois canais, o que interessa é perceber o que é serviço público e de que forma é que se poderá inverter esta tendência de tele-lixo que se tornou a nossa televisão - ainda ontem vi a anunciar na RTP1 um novo concurso musical para Setembro, porque a dúzia de concursos idênticos que a estação produziu na última década, a juntar à outra dúzia que habitualmente a concorrência emite não chegam. Enfim...
Para que tal aconteça é necessário ter alguém que pense o serviço público de televisão em Portugal de forma responsável. O facto de não termos críticos de televisão que tenham influência na opinião pública é determinante para que o nosso serviço público de televisão se tenha degradado tanto. Eduardo Cintra Torres e Jorge Mourinha são óptimas pessoas mas chegam a quem?
Se em teoria penso que há espaço e condições económicas para que o serviço público de televisão tenha duas estações em canal aberto - ter um canal de notícias na realidade portuguesa não é, de todo, indispensável - na prática, se for para continuar com o actual situação que temos acesso, a privatização de um canal é uma via necessária. Porque a RTP1, tirando honrosas excepções, não garante os mínimos dos mínimos de um serviço público de televisão com qualidade.
Termino apenas com um exemplo prático. Por motivos profissionais, tive a possibilidade de acompanhar a campanha para as legislativas no distrito de Setúbal e, portanto, conviver de perto com a cobertura noticiosa que se fez de arruadas, comícios, jantares, etc. E enquanto SIC e TVI andavam sempre com dois repórteres por partido, mais os técnicos de som e imagem necessários para emissões em directo, a RTP, vá lá saber-se porquê, chegava a ter quatro jornalistas - eu volto a repetir: q-u-a-t-r-o! - para cobrir um simples almoço ou um pequeno comício. Caso prático: comício do PSD em Almada com Pedro Benavides, João Adelino Faria, Hélder Silva e Sandra Sá Couto. A estes nomes juntem os vários repórteres de imagem, os técnicos de som no exterior e as cerca de 5 viaturas à porta do evento. E isto durante duas semanas, para não produzir notícias mas sim soundbites do que os candidatos iam dizendo.
Eu pergunto: porquê e para quê? O serviço público de televisão em Portugal tem de levar uma grande volta. Até porque são estes casos que citei e outros exemplos de péssima gestão, aliado à inutilidade do canal em si, que fazem com que ultra-liberais como Passos Coelho e sus muchachos, vejam na RTP algo para extinguir e não para repensar.
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