junho 19, 2011

O novo governo

Passos Coelho criou imensas expectativas quanto à formação do seu governo, até antes da queda de Sócrates. Sempre o ouvimos falar "nos melhores dos melhores", num governo capaz de abarcar grandes figuras e correntes da sociedade, não se ficando preso à tribo partidária. Mesmo durante as eleições, esta ideia foi reforçada e esperava-se um executivo com grande peso. O governo apresentado por Passos Coelho é um governo mediano, com gente competente mas sem fazer o tal corte com o partido.

Custa muito ver Miguel Relvas nos Assuntos Parlamentares. Seria quase como ver José Lello ministro. Dá medo e temo que a coordenação parlamentar entre governo e restantes partidos venha a ser muito prejudicada por causa de Relvas. Para este cargo, há no novo governo um homem muito mais capaz, quer por experiência quer pelo próprio perfil: Miguel Macedo, ex-líder parlamentar contra Sócrates, vai tutelar a Administração Interna, um ministério pesado e que terá já o primeiro teste no Verão - quente ou não, eis a questão.

Ainda no quadro do PSD, as escolhas de Aguiar-Branco e Paula Teixeira da Cruz deixam completamente a desejar. O primeiro porque não tem nenhuma relação com a Defesa e deixa a entender que teria forçosamente que estar no executivo. Já a nova ministra da Justiça, apesar de ser da área, tem uma tarefa muito complicada e a inexperiência que detém em cargos políticos é gritante.

Antes de falar dos independentes, vejamos os ministros do CDS-PP. A presença de Portas nos Negócios Estrangeiros é assustadora mas é um cargo que o líder do PP desejava: sem grande desgaste político nem grandes medidas para executar. O problema é que todos nós sabemos o resultado da acção governativa de Paulo Portas enquanto ministro da Defesa. Os restantes ministérios que couberam em sorte ao CDS foram a Agricultura - e ambiente, e mar, e ordenamento do território - e Assuntos Sociais. Respectivamente para Assunção Cristas e Pedro Mota Soares. E é aqui que está o problema. Se as pastas em si não estranham terem sido atribuídas a Paulo Portas, as pessoas que a ocupam surpreendem muito. Nunca ouvimos uma ideia de Cristas sobre Agricultura e se o facto de Mota Soares ser ministro é já de si muito surpreendente, tocar-lhe os Assuntos Sociais é mesmo para se ficar perplexo.

Quanto aos independentes, a pasta mais importante foi entregue a um perfeito desconhecido que, parece, se move muito bem em Bruxelas. Apesar de ter sido este o critério, é público que Vitor Gaspar é um terceira ou quarta escolha e a incógnita é saber qual o perfil político que tem para enfrentar os próximos meses. Já na Economia, temos um liberal lunático, Álvaro Santos Pereira. Mas a maior apreensão está na pasta da Saúde: a escolha de Miguel Macedo, um gestor, que já chefiou a Medis e que vai olhar para a Saúde sempre a pensar na folha de Excel que terá ao lado, esta escolha é, portanto, um perigo para a defesa de um dos pilares mais fundamentais da nossa democracia. Teme-se o pior. No entanto, foi das escolhas que mais agradou ao eleitorado que votou Passos Coelho e Paulo Portas.

Falta falar de Nuno Crato, para mim a escolha mais acertada de Passos Coelho. É alguém que sabe ao que vai, que te o diagnóstico feito e medidas a propor. E por muito que as suas soluções não sejam, do meu ponto de vista, as melhores há que dar o benefício da dúvida e esperar que Crato faça um bom trabalho na Educação. Uma nota final para Francisco José Viegas: nem sempre concordo com ele politicamente mas reconheço-lhe muitas virtudes e uma competência extrema. Por isso, penso ser a escolha certa para o cargo de secretário de estado da Cultura.

Em jeito de conclusão: este é um governo jovem, curto - 11 ministros - em que muitos ministros estão responsáveis por várias áreas. Este facto faz com que a escolha dos secretários de estado seja fundamental para se perceber que rumo terão certas áreas como a Ciência e a Tecnologia, a Modernização Administrativa, do Ordenamento do Território ou das Obras Públicas.

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