
Faz amanhã uma semana que assisti a um grande concerto. É verdade que não li jornais no dia a seguir mas pelo que andei a pesquisar o destaque parece ter sido nulo. Eu sei que não era Duffy, Jason Mraz, Metallica, Keane ou outros quaisquer agrupamentos paneleirosos, mas o que eu vi merecia ter tido muito, muito destaque.
O que eu vi foi o seguinte: um pedaço grande do melhor do melhor da música portuguesa dos últimos anos. O cenário era a Torre de Belém. A noite era, ainda, de Primavera. O enquadramento do concerto era o encerramento das "Festas de Lisboa", várias actividades culturais que decorreram no último mês. Festejava-se a música portuguesa. O protagonista era Jorge Palma. Os actores secundários: Sérgio Godinho, Cristina Branco, JP Simões, Rui Reininho, Marisa, Fausto, Manuel Paulo, Laurent Filipe, Adolfo Luxúria Canibal e Gaiteiros de Lisboa. Sim, é mesmo verdade. Houve um concerto, gratuito, que juntou alguns dos maiores nomes da música portuguesa. Foi, para mim, um momento grandioso. Eu sei que sou suspeito: confesso que tenho músicas no meu Ipod de todos estes artistas - todos! Por isso é fácil imaginar a minha emoção ao assistir a tão grande momento. Nem eu, à partida, estava à espera que resultasse tão bem. O cartaz apenas dizia Jorge Palma convida amigos (nomeando os músicos). Na altura pensei "deve ser bom". Não foi bom, foi óptimo.
O protagonista, Jorge Palma, é um símbolo da nossa música. Nem é o que eu mais gosto dentro daqueles que referi mas é o mais consensual, talvez, para o tipo de espectáculo que foi. Claro que a maior parte das pessoas gostam mais daqueles momentos em que ele não sabe o que diz, que fala para dentro, que se ri por tudo e por nada. Isso a mim não me interessa. Interessa-me, sim, a música. E nisso ele é imbatível. O alinhamento do concerto foi simples. Quando vinham ao palco os convidados, que apenas interpretavam uma música, ouvira-se os grandes sucessos da carreira de Palma, como "Frágil", "Estrela do Mar", "Dá-me Lume" ou "Jeremias, o Fora da Lei". Quando esteve sozinho, mais a sua banda os demitidos e o seu filho Vicente, Jorge Palma misturou um ou outro sucesso com músicas do último álbum, "Voo Nocturno" que foi bastante desprezado no seu todo pela imprensa já que "Encosta-te a mim" foi um êxito demasiado grande. Faltou "Escuridão", a minha favorita de Palma, do álbum "Norte". Mas não se pode ter tudo e, naquela noite, eu não me podia queixar.
Destaque para dois grandes momentos. O primeiro com Rui Reininho a cantar "Frágil": uma interpretação fabulosa como só Reininho sabe dar. Outro momento foi o dueto com Fauto da música "Dá-me Lume". Eu estava intrigado que música do reportório de Jorge Palma cantaria este convidado. A eleita fez todo o sentido já que poderia ter sido escrita pelo próprio Fausto.
Não sei como se divulgou tão pouco um concerto destes. Mas isso também revela o caminho que a música popular portuguesa - não confundir com a denominada "pimba" - está a tomar. É olhar para os cartazes dos grandes festivais de Verão e ver quantas são as bandas que cantam em português que vão lá actuar.
Só sei que adorei e, tal como disse Jorge Palma, "agradecer à Câmara por proporcionar uma noite tão agradável". Acrescento eu: um mês bastante agradável.
está aqui uma boa galeria de fotos do concerto enquanto não há vídeos decentes no YouTube.