A campanha para as eleições de 5 de Junho ficará marcada por dois temas: o debate económico e as causas que ditaram a queda do governo, a não ser que haja algum "escândalo" de campanha muito forte - eles surgem sempre, diferem é no impacto que têm. Assim, não haverá espaço para debater concretamente a educação, a justiça ou a saúde. Quem sairá favorecido desta bipolarização temática de campanha serão os dois maiores partidos e o CDS por uma razão simples: há muito que se instalou na opinião pública (e publicada) que a austeridade é inevitável e que é esse o caminho a seguir. PS, PSD e CDS são fiéis representantes dessa doutrina, variando apenas na forma - com ou sem FMI, por exemplo. Sobram os partidos da esquerda que têm nesta eleição um verdadeiro desafio.
E ele é muito simples: ou se esforçam para mostrar aos eleitores que são uma verdadeira alternativa e que têm propostas distintas, ou então continuam a tocar a mesma música dos últimos anos, que é uma política praticamente de protesto, que tem toda a razão de ser mas que não lhes confere a legitimidade necessária para se afirmarem como alternativas de governo.
Isto vem a propósito da noticiada reunião que dirigentes dos dois partidos terão a fim de promoverem um possível acordo pré ou pós-eleitoral. É, à partida, uma boa ideia e por várias razões. Em primeiro lugar, o discurso económico - que é o que interessa nesta campanha - é muito semelhante entre comunistas e bloquistas e totalmente diferente da tal inevitabilidade. Segundo, porque durante a legislatura raras foram as vezes em que votaram de forma diferente as propostas de lei mais importantes. Depois, porque esta é uma eleição em que os portugueses se deslocam às urnas cansados e pessimistas, e apresentar um projecto de união e esforço colectivo entre uma facção do panorama político português poderia ser um sinal importante para muitos eleitores descontentes com o rumo que o país está a tomar. Quarta razão, dariam um sinal claro ao PS que há, à sua esquerda, uma vontade expressa nas urnas de união à esquerda, evitando que aquele partido procure apenas na direita a muleta para continuar a governar. Por último, sinalizaria um esforço total para evitar que a direita parlamentar tivesse uma maioria absoluta.
Noutro contexto qualquer, seria impensável uma união entre estes dois partidos. No entanto, a crise actual não deixa espaço de manobra para estes dois partidos: ou se assumem como alternativas ou sofrerão as consequências. E o principal prejudicado seria sempre o BE porque tem um eleitorado mais volátil que o PCP e que, a crer nas sondagens, será a primeira eleição legislativa onde terá menos votos e deputados que a anterior, contrariando a lógica de crescimento que tem marcado a evolução do Bloco desde a sua criação. Louçã e companhia têm que perceber que o discurso usado até aqui não chega. Há que ir mais longe e o Bloco têm gente bem capaz disso, tal como o PCP. Neste tempo, o que importa é enfrentar os desafios de frente e com coragem, esquecendo possíveis desacordos antigos e sem importância para o dia-a-dia dos eleitores.
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