abril 19, 2011

O micróbio de Adriana


Adriana Calcanhoto regressou aos discos de originais e em grande forma. Depois do mediano Maré (2008) e de mais um aventura Partimpim, Adriana deixou-se contagiar pelo micróbio do samba que resultou num álbum de grande nível. A cantora brasileira pode ter estado muitos anos longe do seu melhor mas não perdeu a voz delicada e única na música brasileira, voz essa que ganhou uma nova alma com estes sambas. Foi uma escolha feliz porque cedo se percebe, ao escutar o início do disco, que estamos perante algo muito bom.

O micróbio de Adriana vem das profundezas do samba, das raízes dos grandes compositores brasileiros. Basta atentar nas temáticas das músicas para nos lembrarmos de muitas de Noel Rosa, por exemplo. Mas o que Adriana faz não é estar presa a essas raízes: é preservá-las e cuidá-las, dando-lhes nova vida, com aquele toque MPB inconfundível da cantora do Rio Grande do Sul. Temos referências ao Carnaval - em "tão chic" - temos também a estação da Mangueira a fechar o álbum. E temos muitas músicas onde as palavras importam, palavras de Adriana que são a coisa mais preciosa deste álbum.

Depois de ouvir o disco, mesmo que sem grande atenção, há frases que nos ficam na memória: "pode-se remoer, se penitenciar, eu encontrei alguém que só pensa em beijar"; "ele acredita que me engano, pensa que sabe mentir o homem que eu amo". O meu samba preferido do disco é o "vem ver", uma música com uma temática bem própria dos grandes nomes do samba de há muitos anos: "por você largava tudo, arranjava o que fazer, até voltaria cedo, eu deixava de beber". Delicioso. Apenas numa música - "deixa gueixa" - se notam algumas influências dos álbuns de Partimpim. De resto, é um álbum muito bem estruturado, com muita qualidade dos instrumentistas, um regresso de Adriana Calcanhoto aos grandes discos.

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