junho 16, 2011

O 10 de Junho

As comemorações do último 10 de Junho ficam inevitavelmente ligadas aos discursos de Cavaco Silva e António Barreto.

Começando por este último, tornou-se insuportável a arrogância intelectual com que Barreto nos brinda constantemente. Não sei se será influência de Filomena Mónica, se a vaidade por ter feito uns documentários interessantes, se o cargo que ocupa no Pingo Doce. O que é facto é que de há uns tempos para cá este sociólogo tem oferecido ao país várias missas, todas elas com o mesmo tom: eu sou óptimo, o país está de rastos, eu tenho a solução, ouvi e calai que não há remédio. O problema é que os media adoptaram Barreto como o grande senador da coisa pública e, quase todos os meses, levamos com uma entrevista-diagnóstico de Barreto. Desta vez, trouxe-nos o tema da revisão constitucional e a necessidade de modernização do texto.

Quanto a Cavaco, passa-se uma coisa semelhante: já não há pachorra para ouvir a criatura falar da agricultura, do mar e da necessidade dos jovens investirem no campo e para olharem para os sacrifícios do interior como um exemplo de superação. Desta vez transformou as suas preocupações em discurso oficial mas é preciso não ter nenhuma vergonha na cara para Cavaco afirmar o que diz. É preciso relembrar que ele foi 1º ministro, com maioria absoluta durante 10 anos, no tempo em que se reformou por completo a agricultura e as pescas portuguesas? Que os resultados de hoje se devem às suas políticas? Esta amnésia colectiva sobre as responsabilidades dos políticos que mais responsabilidades têm no estado a que isto chegou - Cavaco e Soares, à cabeça - chega a ser deprimente. Ou será que Cavaco enquanto presidente da República não tem nenhuma responsabilidade na crise económica e financeira do país? Pois, só lá está desde 2006.

Um país que tem em Cavaco e Barreto as suas duas maiores figuras para discursar num 10 de Junho mergulhado numa crise social, económica e financeira só pode temer.

2 comentários:

  1. Medeiros Ferreira uma vez disse que Fernando Nobre tem uma visão messiânica de si própro. Temo que Barreto sofra da mesma doença. O virus anda por aí... :)

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