março 16, 2011

A personalização da política


A evolução da política tem privilegiado uma maior personalização. As campanhas eleitorais enfatizam o carácter dos líderes, a discussão ideológica esvazia-se profundamente e os eleitores têm mais tendência a votar em pessoas do que em partidos. É apenas uma tendência e, apesar da importância dos partidos, cada vez mais os seus líderes têm um maior peso na hora de votar.
Em Portugal esta personalização parece estar a acentuar-se. Basta auscultar as pessoas para se percebe que a maior causa de desgaste deste governo chama-se José Sócrates. O primeiro-ministro, desde que foi eleito, puxou para si voluntariamente todo o protagonismo nas políticas governativas. Empenhou-se em quase todas as lutas políticas, deixando para trás quase todos os seus ministros - a ausência de ministros politicamente fortes, à excepção de Silva Pereira e Santos Silva, diz muito sobre a personalização do governo. As consequências eleitorais que poderá sofrer na pele não se devem a uma questão ideológica - é necessário lembrar que Sócrates foi eleito prometendo todo o contrário da política económica que anda a praticar? - mas devem-se a uma questão pessoal.
Se olharmos para as sondagens vemos que a alternativa a este governo que tem praticado austeridade é ainda mais austeridade. O PSD, embora ainda não seja claro o que Passos Coelho quer, chegará ao governo e fará tudo aquilo que Sócrates está a fazer. Quanto a isto não há dúvidas. E a maioria dos portugueses votou recentemente em Cavaco Silva, um político que vê na subserviência aos mercados e na austeridade o caminho correcto para o país.
O problema em Portugal é uma questão de credibilidade. Sócrates já não é bem visto por grande parte do seu eleitorado e, mesmo que a solução passe por mais do mesmo a nível das políticas praticadas, os portugueses parecem preferir uma outra cara. A próxima campanha eleitoral, que se avizinha cada vez mais, vai ser muito interessante de se seguir. Até porque não é de descartar que o próprio Sócrates consiga ganhar algum capital político devido à instabilidade do seu maior adversário.

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