dezembro 31, 2010

Presidenciais - rescaldo dos debates

Antes dos debates poucos conheciam candidatos como Francisco Lopes, Defensor Moura ou Fernando Nobre. Se Alegre e Cavaco eram os mais conhecidos, os outros tiveram nestes debates uma boa oportunidade para se mostrarem ao eleitorado. E se os combates contra Cavaco foram os que geraram mais interesse - porque o actual presidente é, de facto, o grande adversário de todos eles e o super favorito à vitória - os encontros entre os menos conhecidos foram bastante monótonos mas reveladores das características de cada um.
Fernando Nobre apareceu como um homem anti-sistema, que aponta apenas defeitos a tudo o que mexe e para quem a classe política é composta por gente incompetente. Foi este o seu discurso, pelo meio ainda apontou o seu percurso de vida como fascinante e preponderante para o cargo de presidente. Porém, o que revelou foi uma total falta de preparação para liderar um país - não domina muitos temas e não tem, de todo, o dom da palavra. Apesar de ter tido um bom desempenho contra Alegre - sempre apoiado no discurso anti-sistema - Nobre não trouxe, ainda, nada de novo à luta política.
Francisco Lopes está a fazer uma boa campanha. Sólido, domina os temas essenciais e, embora muito preso à doutrina comunista do seu partido, tem conseguido expor com clareza as suas ideias. É o candidato da praxe do PCP, tudo o que diz é conhecido mas não fez figuras tristes nos debates como muitos vaticinaram.
Defensor Moura, o menos conhecido de todos, teve o seu momento com Cavaco e agarrou-o. Enquanto nos outros debates esteve frouxo e não soube dar dinâmica à sua campanha, com o actual presidente Defensor não teve medo de colocar as questões incómodas e de deixar Cavaco furibundo e nervoso. Não servirá de muito para a candidatura de Defensor Moura mas deu um contributo importante para o resto da campanha.
Manuel Alegre teve uma postura surpreendente em todos os debates. O homem da luta e da palavra esteve muito calmo, sereno, revelando uma quase postura de Estado que não é habitual nele. Foi uma estratégia e, no debate com Cavaco - o seu grande adversário - quase não o atacou. No dia 23 de Janeiro veremos se Alegre não vai lamentar esta opção de quase não agressão política.
Cavaco Silva teve um comportamento muito semelhante em todos os debates. Constantemente atacado, relembrou-nos a sua forma de estar na política. Um político que acha que está sempre certo porque se considera um técnico super competente e isento, que não faz nada errado e que quando é confrontado com alguma coisa remete o adversário para o Tribunal Constitucional ou para outro sítio qualquer, dizendo que é tudo insultos ou calúnias. Embaraçado várias vezes, contra Alegre soube ficar por cima no que toca ao Estado Social através do seu esquema de lançar umas bocas para o ar. Serviu porque Alegre não estava virado para o confronto político. E servirá porque, tal como ele pediu aos portugueses, estes não gostam de mudanças e "este não é um tempo para aventuras". Um candidato que considera que estaríamos muito pior se ele não tivesse intervido - como, quando e porquê é algo que nunca saberemos.

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