julho 05, 2009

Duplas

Depois do PSD, agora é o PS a impedir duplas candidaturas nas legislativas e autárquicas. Todo o mundo parece apreciar a decisão, que já devia ser assim há muito tempo, que os deputados são uns malandros que não fazem nada, que a Manela é que se lembrou disto e é a maior, que assim é que se constrói um Parlamento digno...Em suma, pouca gente, ou quase nenhuma, está contra esta decisão, todos a acham democrática e benéfica para o nosso sistema político - as únicas vozes que ouvi contra isto foram membros do PS apenas dizendo que já se devia ter sabido disto há mais tempo.
Pois eu sou completamente contra esta decisão. Não apenas por feitio mas por convicção. É apenas uma proposta populista, travestida de rigorosa e democrática porque, para o povo, um deputado ou político é um ser corrupto ou malandro. Como tal, nada melhor do que parecer muito correcto e democrático dando sinais de se querer alterar, um pouco, o sistema político. Completamente errado. Esta medida não vai alterar nada de nada. Aliás, vai piorar.
A maior parte dos deputados faz trabalho invisível. Ser deputado implica conhecer as regiões e os problemas a nível nacional. Por alguma razão são eleitos por círculos distritais. Assim, se agora tínhamos deputados que acumulavam cargos mas que na Assembleia, no tal trabalho invisível, poderiam contribuir com um maior conhecimento do país, agora o que vamos ter na Assembleia, nas duas maiores bancadas, é apenas um conjunto de deputados que não conhece o país.
Estou curiosíssimo para conhecer as listas. Será que os deputados são mesmo das regiões a que concorrem? Vivem lá? Conhecem os problemas das pessoas? Duvido muito. E, para além disso, grande parte destes deputados que não acumulará cargos políticos, acumulará outros cargos, bem mais interessantes para eles, como escritórios de advogados, empresas bem sucedidas, um sem-número de actividades muito nobres, como todos sabemos.
Eu sei que o actual sistema não é o melhor. Já aqui uma vez expliquei o que se passa em França. Lá, a maior parte dos deputados são presidentes de câmara. Lá, o Parlamento funciona dois ou três dias por semana, o suficiente para se cumprir as tarefas essenciais. Lá, trabalha-se. Aqui, discute-se. É urgente uma reforma do Parlamento, aliada ao sistema eleitoral. Mas andar a erguer bandeiras como a não acumulação de cargos é simplesmente populismo.

2 comentários:

  1. Os deputados portugueses são grandes adeptos do método indutivo - sem em Lisboa está tudo bem, o país está muito bem. Se em Lisboa está tudo mal, o país está muito mal. Os transportes públicos funcionam mal na esmagadora maioria do país, mas em Lisboa até que funcionam bem, por isso não reclamem sff. O mesmo para as actividades culturais, a qualidade dos restantes serviços públicos, bibliotecas, etc. O resto do país só pode mesmo contar com auto-estradas que o liguem a Lisboa.
    Posto isto é normal esta nova atitude d etransparência democrática XPTO, no Parlamento pode acontecer tudo (inclusive ameaças fisicas, corninhos e ralhetes) mas livrem-nos de lá entrarem os problemas reais do país.

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  2. Tiago,

    é isso mesmo que se passa, sem tirar nem pôr. ;)

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