agosto 18, 2009

4 anos de governo - Negócios Estrangeiros

[começa aqui uma série de pequenos textos em que analisarei brevemente quer os ministros do governo PS quer, posteriormente, o desempenho dos partidos da oposição durante a última legislatura.]
A primeira surpresa de Sócrates na constituição do governo após a vitória nas legislativas de 2005 chamou-se Freitas do Amaral. O histórico do CDS, a propósito da Guerra no Iraque em 2003, já se tinha mostrado mais à esquerda, juntando-se em comícios e debates com Soares ou Louçã. Mas nunca se pensou que pudesse voltar ao governo. Esta escolha abriu logo uma guerra com o PP, na altura bastante fracturado com a saída de Portas.

Freitas esteve apenas um ano e poucos meses no cargo. Enquanto lá esteve foi dos ministros mais visíveis do governo, dando a cara em muitos temas sem deixar também de se envolver em polémicas. Por vezes pareceu perdido - o facto de ser ministro de Estado também o condicionou - e quis dar demasiado nas vistas nesta última participação na vida política. Saiu do cargo em Junho de 2006 por razões de saúde, explicou. Mas a ideia que ficou foi que Sócrates e o Governo não aguentariam por muito mais tempo uma figura daquelas naquele cargo. E com a aproximação da presidência da UE, o primeiro-ministro viu-se forçado a abdicar do seu ministro-surpresa. E pode-se dizer que foi na altura certa.


O substituto de Freitas foi o discretíssimo Luis Amado, anteriormente na pasta da Defesa. Uma óptima escolha de Sócrates, no meu entender, já que o seu comportamento - sempre muito discreto - assenta-lhe como uma luva para dirigir o cargo. A sua grande tarefa foi a presidência da UE entre Julho e Dezembro de 2007 e o resultado foi muito positivo. Ao contrário de Freitas, Luis Amado pautou-se quase sempre pela discrição e nem a presidência da UE motivou grande holofotes. Caso fosse Freitas, este de certeza que quereria tirar algum protagonismo a Sócrates. Amado, pelo contrário, ficou na sombra para benefício do primeiro-ministro.

A grande energia depositada nos assuntos dos países lusófonos - os atentados contra Ramos Horta e Nino Vieira - foram outros temas quentes da agenda deste ministério que sempre se mostrou empenhado em consolidar a importância da CPLP - o único espaço em Portugal pode ser líder. O mesmo não se passando com a IberoAmérica que apenas parece ser uma porta para conversações económicas. O caso das Honduras revelou a falta de empenho (público) em resolver questões políticas naquela região do globo, deixando para a Espanha - e para Chávez - o comando das operações.
Por fim Guantanamo. Este dossier tem duas vertentes, a dos voos da CIA e a do acolhimento dos prisioneiros da base prisional norte-americana. No primeiro caso, demasiado real politik para a compreensão geral do público, Luis Amado defendeu-se como soube. Alegou que não havia provas, que não tinha conhecimento, e por aí fora. Este caso é exemplar para explicar o que é o bloco central de interesses: quer PS quer PSD "juntaram-se" na defesa da honra do ministério português. Não foi o primeiro nem será o último caso em que PS e PSD, ambos comprometidos mutuamente, se defendem para que não se tornem públicas decisões no mínimo polémicas.
Luis Amado, e agora falando da aceitação de prisioneiros, tentou com esta medida uma limpeza da imagem deixada por Portugal sobre os voos da CIA - não esquecer que foi uma ONG britânica quem mais denunciou a passagem de voos com prisioneiros sobre espaço aéreo português. Amado foi o primeiro ministro europeu a propôr a esta medida, posteriormente seguida por outros países da UE.
[texto alterado às 22.52]

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