outubro 20, 2011

Cavaco - o próximo primeiro-ministro?


Cavaco não é sonso. É político há demasiado tempo e conhece bem os meandros da nossa praça. Para além disso, é um calculista e as suas declarações após o 5 de Outubro revelam bem isso.

Cavaco tem disparado para todo o lado. De uma forma totalmente incoerente, é ele que tem dominado a opinião pública e publicada, seja para o atacar, seja para o defender. E o que é curioso é que, em quinze dias, consegue que as mesmas pessoas o defendam e o ataquem veementemente.

Primeiro foi a culpa da Europa. Disse cobras e lagartos dos dirigentes europeus e responsabilizou-os pela crise das dívidas soberanas. Depois, e perante o Orçamento de Estado, vem pôr a maioria e o seu PSD em alvoroço. Para quem andou tanto tempo calado, desde a tomada de posse do novo governo até agora, parece plausível pensar que o homem aguentou até ao limite pela melhor altura para marcar a sua agenda.

E ela qual é: Cavaco quer ser ele a dominar o combate à crise. Já percebeu, e bem, que este Governo não está a conseguir enfrentar os problemas, que a maioria que o sustenta não é assim tão forte e que a oposição não existe.

Cavaco quer, à força toda, ser primeiro-ministro. E está a fazer tudo por tudo para que isso aconteça. Nem que para isso seja preciso derrubar o governo.

outubro 15, 2011

Marcelo Camelo



Depois de "Sou/Nós" - um excelente álbum de estreia a solo - Marcelo Camelo confirma toda a sua qualidade com o álbum "Toque dela". Letras simples, concisas e que encaixam de forma exemplar em melodias doces e suaves. Citando João Gilberto a propósito de Caetano Veloso, Marcelo Camelo "é o futuro".

outubro 13, 2011

Crescimento económico

Nos últimos dias, a opinião pública e publicada não tem falado de outra coisa senão crescimento económico. Vemos e ouvimos várias personalidades afirmarem que, além da austeridade, é preciso que a economia cresça e que o governo se esforce por fazer por isso. Mas, recuando uns meses e avaliando o que foi a campanha eleitoral, quem é que falou de crescimento económico? Quem é que disse até à exaustão que a austeridade e o acordo com a troika só nos conduziriam a uma recessão sem retorno? Pois.

outubro 10, 2011

As eleições na Madeira

O acto de eleitoral de ontem resume-se facilmente assim.

João Jardim e seus companheiros conseguiram renovar a maioria absoluta habitual mas com o pior resultado da sua história, o que apenas significa um aviso pequenino - a forma de governar será igual, agora com menos dinheiro mas com outras artimanhas. Daqui a 4 anos analisaremos mais uma maioria absoluta do PSD.

O CDS-PP conseguiu o resultado perfeito: ficar em segundo, humilhando o PS, aumentando muito o seu número de deputados e não tirando a maioria a Jardim. Caso isso acontecesse, seriam quatro anos extremamente difíceis de gerir. O seu presidente, apesar do bom trabalho, já anunciou que renuncia ao mandato regional para ficar em Lisboa. É tão bonito quando vemos o amor à causa regional morrer em menos de vinte e quatro horas.

O PS vai-se afundando. Um candidato regional muito fraquinho e um líder nacional que não soube capitalizar o seu estado de graça interno (se é que o teve ou terá alguma vez). Em resumo: um descalabro.

A esquerda, CDU e BE, quase que desaparecem, sobrando apenas um deputado comunista. O Bloco chegou ao ridículo de ser o único partido dos 9 na corrida eleitoral a não ter nenhum mandato. Um ano terrível para Louçã e para o seu partido que, diga-se, na Madeira nunca foi e dificilmente será oposição.

Depois, as sobras. As palhaçadas de José Manuel Coelho que, com um estilo jardinista de fazer campanha, conseguiu três deputados, um deles a filha. Enfim. Nova Democracia, Partido da Terra e Partido dos animais conseguiram, graças ao sistema eleitoral madeirense, um mandato cada e têm uma legislatura para provar aos madeirenses que podem ser representar alguma diferença. Principalmente o PAN, que nas legislativas teve uma votação surpreendente, e que roubou muitos votos ao Bloco. Agora voltou a fazer o mesmo e veremos como é que o seu deputado poderá trazer visibilidade para o partido a nível nacional.


outubro 02, 2011

A estratégia do Governo face à mobilização social

Soube-se hoje que a PSP e as secretas portuguesas estão à espera dos maiores tumultos desde o PREC. Um dia depois de uma boa mobilização nas ruas e completamente serena, não deixa de ser estranha esta notícia. Mas, no contexto, ela encaixa-se na estratégia de comunicação que o Governo tem vindo a construir desde que chegou ao poder. Vejamos:

- vários ministros, principalmente o Passos Coelho, já sublinharam múltiplas vezes que maiores dificuldades estão a caminho e que os portugueses têm que enfrentar ainda mais sacrifícios nos próximos anos;

- quase todos os responsáveis políticos ligados à maioria insistem em sublinhar que o objectivo português é não ser a Grécia e que é esse sinal que temos que mandar para o exterior;

- todos os ministros, quando têm que justificar medidas, remetem para o acordo com a troika da seguinte forma: "85% dos portugueses subscreveram o memorando";

- Quer governo, quer Cavaco, em cada intervenção, insistem na união nacional, no consenso, no "temos que remar todos para o mesmo lado".

Ou seja, a estratégia passa por repetir até à exaustão que o pior ainda está para vir, que temos que nos comportar muito bem porque na Grécia é tudo uma cambada de insurrectos e que a larga maioria dos portugueses concorda com tudo o que o Governo faz.

O que o Governo quer, por outras palavras, é isolar os descontentes, pondo-os, em último caso, contra o resto do país, fazendo com que a sua luta seja desprezada e ignorada.

setembro 29, 2011

A entrevista de Cavaco ou a desvalorização do cargo

Após primeira entrevista de Cavaco no seu segundo mandato fica-se com uma sensação: o presidente da República não sabe quais são os poderes presidenciais. Nem ele, nem a entrevistadora. Não se compreende como é que uma entrevista destas tenha focado, quase em exclusivo, a política económica do país na qual o PR não tem responsabilidade nenhuma. Não se percebe como é que, por exemplo, o tema das secretas, que põem em causa o regular funcionamento das instituições do Estado, não tenha sido abordado já que o PR é o principal garante desse funcionamento.

Durante a entrevista, e a propósito de economia, Cavaco teve a primeira oportunidade para se vingar de Sócrates: referiu várias vezes que o anterior governo tomou políticas erradas e que não acatou conselhos (privados) que ele próprio terá dado. O que se tem que perguntar ao PR é o seguinte: se desde 2006 que sabia que iríamos estar na situação actual, se sabia que o governo estava a tomar medidas erradas, porque não informou claramente o país destes factos e porque não demitiu antes o governo?

Para além deste ajuste de contas, Cavaco teve a oportunidade de "brilhar" com os números que tanto gosta. Elaborou teorias, revelou preocupações e mostrou-se determinado na evolução da economia portuguesa. Mais parecia o 1º ministro. E isto é revelador da forma como Cavaco quer encarar o seu segundo mandato: Passos Coelho vai ter rédea curta. E, como foi a primeira vez que tivemos oportunidade de ouvir o PR sobre a troika, percebemos que Cavaco desejava humidamente a entrada do FMI em Portugal. Porque tudo o que está no acordo não se pode contestar. Excepto a TSU porque dá jeito. Uma subserviência aos mercados que não surpreende vindo de quem vem.

Quanto à Madeira, mais uma prestação fraquinha. Da entrevistadora e do entrevistado. Judite de Sousa não lembrou uma única vez a filiação partidária nem as várias campanhas que Jardim e Cavaco fizeram juntos, já para não falar nas visitas presidenciais àquele arquipélago. Cavaco conseguiu passar pelos pingos da chuva sem nunca condenar veementemente as irregularidades e o funcionamento das instituições na Madeira.

Já quase no final da entrevista, parecia que estava a ter uma visão do passado: Cavaco a defender que Portugal tem que voltar a ser o bom aluno da Europa. Já vimos este filme e já sabemos como acaba.

Um presidente que considera que as mensagens de ano novo são a forma mais eficaz de fazer política que tem ao seu dispor é revelador do entendimento que Cavaco tem do cargo e profundamente preocupante para a credibilidade desta instituição.

setembro 28, 2011

A esquerda está parada

Após 100 dias de governo PSD-CDS, com a troika instalada em Portugal, com aumentos de impostos, com desemprego em alta e sem crescimento económico, não deixa de ser impressionante que o 1º ministro e restante executivo tenham, nas sondagens que saíram nos últimos dias, uma taxa de aprovação muito alta.

Não foram 100 dias fáceis. Como se calculava, foram tomadas medidas contra o discurso proferido na campanha eleitoral e que afectam na pele milhões de portugueses que já têm a corda ao pescoço. Mas apesar disto, o eleitorado parece disposto a aceitar estes sacrifícios e acredita que o rumo do governo é acertado. Não é por acaso que todos os ministros quando falam aos jornalistas referem sempre o pormenor dos "85% dos eleitores que votaram em partidos que subscreveram o programa da troika". O discurso da inevitabilidade da austeridade pegou firmemente.

E a oposição? O PS está preso ao acordo e a uma liderança patética que durará dois anos, para não falar numa bancada parlamentar muito fraca e claramente comprometida com o consulado Sócrates - Seguro terá muita dificuldade em marcar a agenda política. O PCP não muda o ADN e, por isso, não se espera muito mais do que temos visto e ouvido nos últimos 25 anos. Resta o Bloco. Que, apesar de ter tido uma humilhante votação em Junho, não fez nenhuma mudança significativa na sua intervenção política. As principais figuras mantêm-se e a forma de fazer política é idêntica: ou seja, nada parece ter mudado.

Não se pode ser derrotado como o Bloco (e a esquerda) foi e não haver alterações. Pode-se contra argumentar dizendo que mais vale isso do que alterações de "fachada". Provavelmente. Mas a ideia que o Bloco dá aos seus eleitores e ao eleitorado de centro-esquerda é que é um partido meramente de protesto, incapaz de encontrar consensos e que a oposição a um governo PS é exactamente igual a um governo PSD-CDS que, como se sabe, está bem mais à direita em muitos aspectos do que o anterior executivo.

A esquerda está, portanto, fechada sobre si própria à espera que o descontentamento dos portugueses aumente e que vá cair no colo dos protestos comunistas e bloquistas. Será a melhor estratégia? Duvido.

setembro 19, 2011

A falência de valores partidários

Ao fim de 30 anos é difícil uma pessoa ficar impressionada com notícias sobre o regabofe na Madeira. João Jardim é uma personagem sinistra, um ditador da pior espécie, populista e demagogo, que construiu naquele arquipélago um feudo para se sustentar e distribuir pelos mais próximos. Omite dívida? Esconde contas? E qual é a surpresa?

O que também não é surpreendente é a passividade dos agentes políticos portugueses. Que os madeirenses, na sua larga maioria, gostem de Jardim a mim não me espanta. Porém, o PSD nacional tem estado calado desde que Jardim chegou ao poder e ofereceu ao partido grandes resultados eleitorais, não só nas eleições regionais, como nas legislativas. Todos os líderes do PSD foram ao beija-mão de Jardim, distribuindo beijos e abraços no Chão da Lagoa. Ferreira Leite, Marques Mendes, Passos Coelho, Menezes, Marcelo, Durão, Santana Lopes, nenhum destes se esquivou à fraternidade de conveniência com o tirano madeirense.

Mas mais grave ainda é a condescendência com que os presidentes da República - Soares, Sampaio e Cavaco - têm tratado João Jardim. Chegam ao ponto de serem tratados abaixo de cão em território madeirense sem darem qualquer réplica.

O comportamento de Cavaco nas últimas semanas tem sido confrangedor. Aquele que não perde uma oportunidade para falar das misericórdias, que põe em sobressalto o país por causa do estatuto dos Açores, que alucina com escutas em Belém, não tem uma palavra sobre as loucuras de Jardim.

Os episódios que envolvem Jardim, para além de nos dizerem que ainda há tiranos na Europa, ilustram outra coisa bem mais importante: a falência de valores a que chegou um dos principais partidos em Portugal. E isto é ainda mais grave quando vemos que o outro principal partido também não é nenhum santinho em questões idênticas.

setembro 14, 2011

Um líder vazio


O último congresso do PS foi absolutamente vazio. Tanto ao nível das ideias e propostas - zero - como na postura do novo líder. António José Seguro estava a precisar deste congresso para se começar a afirmar no debate político mediático. E o que fez ele? Como bem descreve o Filipe Moura no Esquerda Republicana, um espectáculo mediático de baixo nível nos bastidores das televisões, uma espécie de olhem-que-simpático-que-o-novo-líder-do-PS-é-ao-contrário-do-anterior. E foi este episódio o mais relevante do congresso porque, se olharmos para as suas palavras, o cenário é desolador.

Para quem esteve tanto tempo a preparar-se para ser líder, para quem já tinha ganho as eleições há mais de um mês, para quem prometia uma mudança na forma de fazer política, então este congresso foi a prova que Seguro é um grande flop do Partido Socialista. Não se pode sair de um congresso sem nada de concreto para apresentar ao país. Não se pode eleger o combate à corrupção como grande desígnio e não dar uma pista sobre como o fazer. Não se pode dizer que se vai fazer política nova adoptando todos os tiques e abraçando as mesmas pessoas do passado.

O que fica deste congresso é que o líder do PS é o seguro de vida do governo e da troika.

agosto 27, 2011

Cinemas

Passando uns dias no Porto antes de voltar à capital, e coincidindo com a estreia do documentário sobre Ceausescu, resolvi ir ao cinema. Tal não é a minha surpresa quando verifico que nenhuma sala do Porto ou Grande Porto tem em exibição este documentário.

Mas surpresa ainda maior foi ver que a cidade do Porto tem apenas um local para se ver cinema: um centro comercial com cinema Lusomundo que passa exactamente os mesmo filmes existentes nos grandes centros comerciais da periferia, Gaia ou Matosinhos, que estão a poucos quilómetros e minutos de distância. Não sei a que se deve o encerramento do cinema no shopping Cidade do Porto que sempre passava filmes distintos dos restantes - viabilidade financeira, com grande probabilidade. Certo é que uma cidade como o Porto, mais o aglomerado que vive em seu redor, não tem possibilidade de assistir a filmes distintos daqueles que o império Lusomundo distribui.

Bem sei que em Lisboa a oferta cultural (teatro, dança, cinema, música, etc) é bem superior ao resto do país e que isso tem razões que não importa agora referir. Mas não deixa de ser preocupante tal discrepância no que respeita ao cinema. E eu referi o caso do Porto como poderia também falar de Évora, Bragança, Braga, Coimbra, Faro e por aí fora.

agosto 24, 2011

Barcelona

Como adepto portista, uma das primeiras recordações de jogos do clube, a seguir aos 0-5 em Bremen, é uma meia-final da Taça dos Campeões Europeus contra o FCBarcelona em 1994. Na altura, jogava-se apenas numa partida e o FCPorto foi cilindrado por 3-0. Dois golos de Stoichkov e um golão de Koeman foram suficientes para acabar com as esperanças dos adeptos noutra vitória europeia. Mas desse jogo o facto mais importante é a colocação de Aloísio, defesa-central de raiz e ex-jogador do FCBarcelona, a lateral-esquerdo. Imaginam a festa que foi para o búlgaro Stoichkov que marcou dois golos devido a erros directos do brasileiro. Robson devia estar sob efeito de alguma substância perigosa para se ter lembrado de tal coisa.

O jogo de sexta-feira do Mónaco traz também outras recordações de embates contra o FCBarcelona. Na época 99/00, na segunda fase de grupos, o FCPorto fez um muito boa exibição em Camp Nou, onde perdeu 4-2, com dois golos de Jardel, melhor marcador dessa edição da Champions. O jogo frente ao colosso despertou nos adeptos portistas, e até no presidente, uma euforia tal que durante as duas semanas que separaram os encontros do Camp Nou e das Antas, o universo portista só falava na "vingança". Encheu-se o estádio - eu também fui - na esperança de tombar, ainda que na fase de grupos, um grande europeu. Pois bem, a classe daquela equipa "holandesa" de Van Gaal foi demasiado para a equipa que Fernando Santos inventou. O desalento portista nessa noite era enorme, como calculam - ainda por cima sofremos um golo do Abelardo(!!).

Mas o confronto com o FCBarcelona para a Supertaça Europeia não remete para lembranças exclusivas de confrontos com a equipa da Catalunha. A minha geração nunca viu o FCPorto ganhar esta Supertaça. É, aliás, o único título que me falta ver conquistado pelo meu clube. As derrotas com o ACMilan e Valência foram muito dolorosas. Contra os italianos, porque jogámos melhor. Contra os espanhóis, porque éramos melhores mas uma pré-época super atribulada não deu espaço para uma preparação adequada.

Na sexta-feira duvido que vá assistir, finalmente, à conquista da Supertaça pelo meu FCPorto. O actual FCBarcelona é uma das melhores equipas de sempre e tem dos melhores do mundo, jogando um futebol dificílimo de contrariar. Por outro lado, o FCPorto perdeu Falcao, Villas-Boas e ainda anda à procura de estabilidade neste início de época. Hulk, Moutinho, Guarín, Hélton, Rolando e companhia precisam de estar numa super noite. O meu entusiasmo é bem menor do que naquela noite nas Antas, em 2000. O que até pode ser bom.

Um último recado: Vítor Pereira, não inventes.

julho 26, 2011

valter hugo mãe


Como não sou nem tenho pretensão em ser crítico literário, deixo aqui apenas uma frase sobre “A máquina de fazer espanhóis”: o livro de valter hugo mãe é deliciosamente comovente e eficazmente perturbador, resultando numa obra magnífica.

julho 23, 2011

Tour 2011 - as figuras


A edição deste ano da Volta à França teve três momentos muito distintos. O primeiro corresponde às duas primeiras etapas onde Contador e outros importantes corredores perderam muito tempo em quedas e etapas como o contra-relógio por equipas. O segundo momento dá-se durante quase toda a edição, contemplando várias desistências importantes por lesão - Wiggins, Kloden, Vinokourov, Van den Broeck - e a subida aos Pirinéus onde ninguém fez diferenças. O terceiro momento são as três últimas etapas, duas de alta montanha nos Alpes e o contra-relógio final. Este último momento compensou o resto que estava a fazer deste Tour uma edição bastante aborrecida.

Cadel Evans: aos 34 anos, finalmente a grande vitória da sua carreira, depois de ter sido campeão do mundo em 2009. Após de quatro presenças no top-10 e dois segundos lugares, o lugar mais alto do pódio na prova francesa pertence ao azarado australiano que vence pela primeira vez uma corrida de três semanas. É uma vitória merecida para um ciclista completíssimo. Andou excepcionalmente bem na montanha, aguentando e gerindo os ataques dos adversários de forma heróica, apesar de não ter uma grande equipa ao seu lado. E no contra-relógio final, onde tinha de ganhar quase um minuto a Andy Schleck, comportou-se de forma fantástica, percebendo-se que aqueles eram os 42km mais importantes da sua vida. O eterno candidato merecia uma prova assim.

Andy Schleck: depois de três segundos lugares consecutivos, mais um para somar ao currículo. E desta vez já nem havia camisola branca para conquistar. Estaremos perante um dos grandes fenómenos do ciclismo? Quando conseguirá ganhar Andy Schleck? Uma coisa parece óbvia: tem que melhorar no contra-relógio. Mas não deixa de ser frustrante para ele ter criado uma equipa de raiz, ter levado com ele grandes ciclistas, ter-se preparado exclusivamente para o Tour e, mesmo com as dificuldades de Contador, não conseguir vencer a prova. Está a tornar-se um caso sério este enguiço de Schleck que, este ano, até teve o seu irmão sempre ao lado para o ajudar.

Contador: olha-se para a classificação final e pode-se facilmente pensar que Contador é o grande derrotado do Tour. Sem dúvida. Porém, se se tiver em conta a bela Volta a Itália que fez - e que foi indiscutivelmente mais dura e mais espectacular que o Tour 2011 - seria quase de loucos pensar numa vitória de Contador. A juntar a isto tudo, o espanhol perdeu muito tempo na primeira etapa devido a uma queda alheia, caiu pelo menos três vezes no Tour - sem consequências de maior, é certo, mas são coisas que criam mazelas - e não teve uma equipa à altura, já que apenas por alguns momentos se viu a Saxo Bank a ajudar o espanhol. Posto isto, a prestação de Contador foi honrosa apesar de ter sido derrotado. A etapa que fez do Alpe d'Huez serviu para limpar a sua imagem. Porque uma coisa é certa: Contador é o melhor ciclista da actualidade e um dos melhores de sempre. O Giro de Itália comprovou-o bem. Pena que alguns só olhem para o Tour.

Voeckler: a grande surpresa deste ano. Numa fuga deixaram-no ir à vontade e ganhar tempo suficiente para se manter na amarela quase até Paris. A forma como segurou a liderança foi heróica e, com a ajuda de uma grande promessa chamada Pierre Roland, superou-se e surpreendeu o mundo do ciclismo. E não fosse uma péssima estratégia na etapa do Alpe d'Huez e talvez Voeckler pudesse ter terminado no pódio, um sonho para os franceses. Que ficam de olho bem aberto em Rolland para futuras provas.

Samuel Sanchéz: o simpático e talentoso ciclista ganhou a camisola da montanha fruto do espectáculo que deu em ataques vários. Ele que também perdeu muito tempo no início da prova, foi recompensado pelo seu esforço.

Rui Costa: o ano passado foi Sérgio Paulinho. Este ano Rui Costa. O ciclismo português voltou a deixar a sua marca no Tour. E, para além destes dois, há outros valores portugueses a despontar por aí.


julho 21, 2011

As eleições no PS


A corrida à sucessão de Sócrates não poderia ser mais enfadonha. A dois candidatos medianos junta-se a circunstância de ser uma péssima altura para se debater o que quer que seja dentro do PS: Sócrates, para além de ter secado tudo à sua volta, comprometeu-se com o acordo da troika e deixou pouquíssimo espaço de manobra a Assis e Seguro. Para além de clichés básicos de campanhas eleitorais internas, estes dois militantes têm acrescentado muito pouco ao debate e é difícil distinguir o que os separa.

António José Seguro é o eterno candidato à liderança do PS. Passou os últimos anos a abordar cautelosamente todos os assuntos e, enquanto deputado, teve intervenções cirúrgicas sobre alguns temas delicados para o PS. Mas todas as suas declarações foram pensadas e repensadas, ditas sem alarme, de forma calculista e hipócrita. Nunca quis romper demasiado com Sócrates mas conseguiu sempre deixar no ar, de forma cínica e oportunista, as suas (pequenas) divergências. Não se conhecem dele grandes ideias para o país, nem capacidade para mobilizar um pequeno carreiro de formigas, quanto mais o partido e os eleitores de esquerda. E, por falar em esquerda, dificilmente Seguro tem o perfil e as condições para entendimentos com outros partidos.

Por outro lado, Francisco Assis também não representa uma ruptura muito acentuada com os últimos anos do Partido Socialista. O facto de ter apoiado de forma veemente José Sócrates não é um bom cartão de visita e o seu estilo de fazer política - mais vivo, mais verdadeiro, mais empolgado - parece não ser uma qualidade quer no partido, quer no país. As pessoas gostam mais de gente certinha, que falem de forma ponderada mas sem conteúdo. E Assis, por vezes, é explosivo. E explosiva foi a sua proposta de abrir as eleições no partido a todos os simpatizantes do PS. Foi uma proposta interessante e louvável que nos garante que, apesar de trazer consigo alguns vícios socratianos (Lello, Santos Silva, etc), Francisco Assis poderia desempenhar o cargo de líder da oposição de uma forma mais dura e corajosa. E, também, é o candidato que mais condições tem para estabelecer pontes à esquerda.

Em suma, o que distingue os dois candidatos no vazio de ideias que ambos representam é o estilo de fazer política e como encaram o sistema político e as suas interacções.

julho 12, 2011

Durão - vergonha nacional



No meio do entusiasmo patriótico do Euro 2004, Durão Barroso negociou a sua ida para Bruxelas. O povo, quase de férias de Verão e completamente focado na bola, deixou que Sampaio não fizesse nada, que Santana chegasse ao governo e que entrássemos num dos períodos políticos mais cómicos – para não dizer trágicos – dos últimos anos.


Voltando a Barroso, a sua ida para a presidência da Comissão Europeia chegou a ser argumentada positiva para o interesse nacional – “ ter um português no topo de Bruxelas é bom porque pode cuidar dos nossos interesses”. O pensamento pequenino e subserviente em relação à Europa instalou-se e os partidos do arco da governação, PS, PSD e CDS, sempre acarinharam, de diferentes formas, Durão Barroso.


Passados sete anos, o cherne engordou. Está balofo, anafado, quase rebenta pelas costuras. O stress de ser um cão de fila de Sarkozy, Merkel ou Trichet deve ser enorme. Passados sete anos, e com a Europa a afundar-se, Barroso fica indubitavelmente ligado à crise da União. Um político fraco, sem ideias nem ideais, Durão é uma vergonha nacional. Até porque, enquanto o país se afundou devido à ganância dos mercados e passividade europeia, Durão e sus muchachos da Comissão não mexerem uma palha para inverter a situação ou, sequer, para chamar a atenção para tal.


Ontem, deu uma entrevista na RTP1. Não vi. Mas também não precisava para saber que apenas debitou banalidades. O homem forte de uma União em plena crise deveria ter o bom senso e a lucidez de se demitir e reconhecer os gravíssimos erros que cometeu. Deveria ter a coragem de, perante o povo português, admitir que fracassou e nunca mais voltar ao combate político. Mas não. Como estamos perante um político medíocre, ele lá se vai gabando do seu trabalho como boneco de plástico de quem, de facto, manda na União. Aliás, foi essa a condição para a sua nomeação. Falhadas algumas tentativas, teve que se arranjar um badameco qualquer que cumprisse o papel de porta-voz franco-alemão e que não incomodasse ninguém. Enquanto os cidadãos não tiverem um palavra democrática no papel da União, o resultado é este: Durão Barroso.


Depois de, milagre dos milagres, quase todos reconhecerem que se vive um problema europeu, pode ser que daqui a uns meses haja algum consenso: Durão Barroso ajudou a destruir a Europa.

julho 07, 2011

RTP - Volta a França

A RTP, como é tradição, compra todos os anos os direitos de transmissão da Volta à França. Não sei quanto custa à estação mas eu considero este evento digno de serviço público - o ciclismo é um desporto com muitos simpatizantes em Portugal, o Tour é a prova rainha e é em Julho, altura em que muitos portugueses estão de férias e podem passar tarde agradáveis a ver a competição.


Mas o que é que a RTP faz de há uns cinco anos para cá? Passa todas as etapas na RTPN, ou seja, em sinal fechado. Tendo em conta que o Eurosport também faz o mesmo - e com grande qualidade - eu pergunto qual é a necessidade de adquirir os direitos desta competição se depois é para passar as mesmas imagens de um canal concorrente. Porque quem tem acesso à RTPN também tem ao Eurosport. Se a RTP se dignasse a passar a competição em sinal aberto, eu compreendia a decisão da tranmissão da Volta a França. Mas pô-la em sinal fechado e em concorrência com outro canal é absurdo e espelha bem a pouca lógica que reina por aquelas bandas.

Mercados

Durante meses e meses, com Portugal mergulhado numa grave crise económica e social, a direita política sempre foi tentando convencer os portugueses que a culpa era de Sócrates e dos seus tiques autoritários que lhe retiravam a credibilidade necessária para governar. E sempre defendendo os mercados e as suas virtudes - não tinham culpa nenhuma no que estava a acontecer.
Ferreira Leite disse uma vez no Parlamento que as mesmas medidas do governo Sócrates tomadas por outro governo com credibilidade seriam bem vistas pelos mercados, e que quem paga é quem manda.
Passos Coelho prometia mais austeridade porque era isso o que os mercados queriam. E Cavaco Silva disse em campanha eleitoral que não se devia criticar os mercados e raramente referiu que a crise portuguesa tinha origem numa crise mundial.

Pois bem, bastou um corte de rating da Moody's para a direita, actualmente no poder, se lançar contra os mercados e descobrir que afinal a crise é global. Um murro no estômago, para Passos Coelho. Incompreensível, disse Cavaco, pedindo uma resposta europeia.

Portanto, a inocência dos mercados anteriormente louvada foi rapidamente esquecida. Agora querem atirar areia para os olhos de todos nós, fingindo uma incredulidade total. Não tarda estão a defender a reestruturação da dívida. Esquecendo que houve quem, durante a campanha eleitoral, dissesse a verdade sobre a crise económica.

julho 01, 2011

Um começo

O início do mandato de Passos Coelho começou torto. Primeiro, prometeu um governo com os melhores dos melhores e, olhando para o elenco ministerial, é difícil encontrar gente com capacidade técnica e política para exercer o cargo. Depois, prometeu reduzir o número de secretários de Estado e, em vez de 25, foram nomeados 35. Pelo meio ainda viajou em económica apesar de o Governo não pagar qualquer viagem na TAP.


Ontem, na apresentação do programa do governo na Assembleia, Passos Coelho revelou que, contrariando o que disse na campanha e o que estava no programa eleitoral, ia haver um corte de 50% no subsídio de Natal. Ou seja, quem andou a reclamar do Estado gordo e despesista toma, como primeira medida, um assalto aos contribuintes. Quem andou a prometer cortar na despesa, começa logo por aumentar a receita, recorrendo aos trabalhadores.


E só temos 15 dias de Governo.

junho 28, 2011

Secretários de Estado

Para quem prometeu apenas 25 secretários de Estado, o número que hoje foi empossado - 35 - está bem acima do avançado na campanha eleitoral. O que só pode querer dizer duas coisas: ou Passos Coelho fez uma promessa sem pensar ou então, durante a última semana, chegou à conclusão que seria impossível ter um governo tão reduzido de ministros e de secretários de estado já que muitas competências poderiam ficar sem tutela directa.

Uma explicação é urgente até porque a lei orgânica do governo não é um aspecto lateral da actuação do governo.

junho 24, 2011

A privatização da RTP


Com a chegada do poder do governo de Passos Coelho, um dos temas fortes que se vai colocar em cima da mesa é a privatização da RTP. O PSD propõe a extinção de um dos canais abertos e do canal de notícias. Dito desta forma, sem conhecer a proposta e outras consequências desta via privatizante do serviço público de televisão, não fico nada escandalizado com a extinção referida anteriormente.

E as razões são simples. A RTP1 já é, praticamente, um canal privatizado. Ou seja, segue a lógica das audiências e, em três quartos da sua programação, é uma cópia da SIC e da TVI, com programas de baixo nível, implicando custos tremendos. A própria informação do canal não anda muito longe da que é feita nos canais da concorrência.

E a RTP2, apesar da sua diversidade no período da noite, durante o dia é um canal infantil sem utilidade nenhuma - e sem audiências das crianças portuguesas.

Quanto à RTPN, não justifica a sua presença no cabo já que a concorrência assegura perfeitamente a função de canal noticioso. Apesar dos bons conteúdos que poderiam figurar perfeitamente na grelha do canal aberto.

Então, qual seria a solução?

Em primeiro lugar, é preciso repensar todo o serviço público de televisão. Independentemente da sua privatização ou não, da extinção de um ou dois canais, o que interessa é perceber o que é serviço público e de que forma é que se poderá inverter esta tendência de tele-lixo que se tornou a nossa televisão - ainda ontem vi a anunciar na RTP1 um novo concurso musical para Setembro, porque a dúzia de concursos idênticos que a estação produziu na última década, a juntar à outra dúzia que habitualmente a concorrência emite não chegam. Enfim...

Para que tal aconteça é necessário ter alguém que pense o serviço público de televisão em Portugal de forma responsável. O facto de não termos críticos de televisão que tenham influência na opinião pública é determinante para que o nosso serviço público de televisão se tenha degradado tanto. Eduardo Cintra Torres e Jorge Mourinha são óptimas pessoas mas chegam a quem?

Se em teoria penso que há espaço e condições económicas para que o serviço público de televisão tenha duas estações em canal aberto - ter um canal de notícias na realidade portuguesa não é, de todo, indispensável - na prática, se for para continuar com o actual situação que temos acesso, a privatização de um canal é uma via necessária. Porque a RTP1, tirando honrosas excepções, não garante os mínimos dos mínimos de um serviço público de televisão com qualidade.

Termino apenas com um exemplo prático. Por motivos profissionais, tive a possibilidade de acompanhar a campanha para as legislativas no distrito de Setúbal e, portanto, conviver de perto com a cobertura noticiosa que se fez de arruadas, comícios, jantares, etc. E enquanto SIC e TVI andavam sempre com dois repórteres por partido, mais os técnicos de som e imagem necessários para emissões em directo, a RTP, vá lá saber-se porquê, chegava a ter quatro jornalistas - eu volto a repetir: q-u-a-t-r-o! - para cobrir um simples almoço ou um pequeno comício. Caso prático: comício do PSD em Almada com Pedro Benavides, João Adelino Faria, Hélder Silva e Sandra Sá Couto. A estes nomes juntem os vários repórteres de imagem, os técnicos de som no exterior e as cerca de 5 viaturas à porta do evento. E isto durante duas semanas, para não produzir notícias mas sim soundbites do que os candidatos iam dizendo.

Eu pergunto: porquê e para quê? O serviço público de televisão em Portugal tem de levar uma grande volta. Até porque são estes casos que citei e outros exemplos de péssima gestão, aliado à inutilidade do canal em si, que fazem com que ultra-liberais como Passos Coelho e sus muchachos, vejam na RTP algo para extinguir e não para repensar.

O episódio (pouco) Nobre

O dia da votação do nome de Fernando Nobre para presidente da Assembleia da República vai ficar marcado na história como um dos mais patéticos de sempre da política portuguesa porque foi o culminar de todo um processo mal conduzido por parte de Nobre e, sobretudo, Passos Coelho.

Tudo começou num convite que Passos Coelho fez mas que sabia que não poderia cumprir caso não tivesse maioria absoluta e na aceitação do mesmo por Fernando Nobre quando dois meses antes jurava a pés juntos que não ia aceitar nenhum cargo político-partidário. O imbróglio foi sério e Nobre teve que abdicar do seu pensamento – alguém ouviu alguma declaração de Nobre durante a pré-campanha e a campanha eleitoral?

Passos Coelho arriscou demasiado ao propor alguém que não é ele que elege – mas sim os deputados por voto secreto – mas mais grave foi propor um nome que, meses antes numa campanha presidencial, declarou todo o seu ódio à classe política, com os deputados em particular destaque. Lembram-se num debate com Francisco Lopes em que Nobre acusou o seu adversário de ser também ele culpado da crise porque era deputado?!

O Parlamento chumbou, e bem, o nome de Nobre. Aquela instituição jamais poderá ser presidida por um cidadão que é um populista bacoco e demagogo, que usa o discurso anti-políticos como bomba de oxigénio mas que se aproveita da classe política para passear na praça pública o seu nome e o seu trabalho. E não se trata aqui de eleger ou não independentes, como argumentou Passos Coelho. A independência de Fernando Nobre acaba onde começa: no seu umbigo. Para tal basta ter visto a forma como ainda quis ir a uma segunda volta, não pensando no vexame que estavam a sofrer o líder do partido que o acolheu e a bancada parlamentar onde se senta.

junho 21, 2011

Villas-Boas


Há pouco mais de um ano, a 2 de Junho de 2010, festejei como um miúdo a tua contratação. As tuas raízes portistas e amor ao clube, juntando às tuas competências, faziam-me crer que eras a melhor opção para substituir o casmurro do Jesualdo e devolver a glória ao clube.
Agora que partes, de forma abrupta e inesperada, numa traição que será difícil esquecer, tenho que te agradecer o ano perfeito que ajudaste a criar. Foi, sem dúvida, a melhor época enquanto adepto portista - talvez a melhor de sempre do clube - e nem fazes ideia o quanto eu fiquei feliz por ti ao ver-te festejar cada vitória frente ao Benfica, aquele salto em Dublin, enfim, todas as vitórias e títulos fantásticos. Fiquei feliz por ti porque pensava que estavas tão feliz como eu. E talvez estivesses, apesar de teres cedido tão facilmente aos milhões russos.
Vou torcer sempre por ti, acredita. Porque sei que vais torcer sempre pelo Porto.

junho 19, 2011

O novo governo

Passos Coelho criou imensas expectativas quanto à formação do seu governo, até antes da queda de Sócrates. Sempre o ouvimos falar "nos melhores dos melhores", num governo capaz de abarcar grandes figuras e correntes da sociedade, não se ficando preso à tribo partidária. Mesmo durante as eleições, esta ideia foi reforçada e esperava-se um executivo com grande peso. O governo apresentado por Passos Coelho é um governo mediano, com gente competente mas sem fazer o tal corte com o partido.

Custa muito ver Miguel Relvas nos Assuntos Parlamentares. Seria quase como ver José Lello ministro. Dá medo e temo que a coordenação parlamentar entre governo e restantes partidos venha a ser muito prejudicada por causa de Relvas. Para este cargo, há no novo governo um homem muito mais capaz, quer por experiência quer pelo próprio perfil: Miguel Macedo, ex-líder parlamentar contra Sócrates, vai tutelar a Administração Interna, um ministério pesado e que terá já o primeiro teste no Verão - quente ou não, eis a questão.

Ainda no quadro do PSD, as escolhas de Aguiar-Branco e Paula Teixeira da Cruz deixam completamente a desejar. O primeiro porque não tem nenhuma relação com a Defesa e deixa a entender que teria forçosamente que estar no executivo. Já a nova ministra da Justiça, apesar de ser da área, tem uma tarefa muito complicada e a inexperiência que detém em cargos políticos é gritante.

Antes de falar dos independentes, vejamos os ministros do CDS-PP. A presença de Portas nos Negócios Estrangeiros é assustadora mas é um cargo que o líder do PP desejava: sem grande desgaste político nem grandes medidas para executar. O problema é que todos nós sabemos o resultado da acção governativa de Paulo Portas enquanto ministro da Defesa. Os restantes ministérios que couberam em sorte ao CDS foram a Agricultura - e ambiente, e mar, e ordenamento do território - e Assuntos Sociais. Respectivamente para Assunção Cristas e Pedro Mota Soares. E é aqui que está o problema. Se as pastas em si não estranham terem sido atribuídas a Paulo Portas, as pessoas que a ocupam surpreendem muito. Nunca ouvimos uma ideia de Cristas sobre Agricultura e se o facto de Mota Soares ser ministro é já de si muito surpreendente, tocar-lhe os Assuntos Sociais é mesmo para se ficar perplexo.

Quanto aos independentes, a pasta mais importante foi entregue a um perfeito desconhecido que, parece, se move muito bem em Bruxelas. Apesar de ter sido este o critério, é público que Vitor Gaspar é um terceira ou quarta escolha e a incógnita é saber qual o perfil político que tem para enfrentar os próximos meses. Já na Economia, temos um liberal lunático, Álvaro Santos Pereira. Mas a maior apreensão está na pasta da Saúde: a escolha de Miguel Macedo, um gestor, que já chefiou a Medis e que vai olhar para a Saúde sempre a pensar na folha de Excel que terá ao lado, esta escolha é, portanto, um perigo para a defesa de um dos pilares mais fundamentais da nossa democracia. Teme-se o pior. No entanto, foi das escolhas que mais agradou ao eleitorado que votou Passos Coelho e Paulo Portas.

Falta falar de Nuno Crato, para mim a escolha mais acertada de Passos Coelho. É alguém que sabe ao que vai, que te o diagnóstico feito e medidas a propor. E por muito que as suas soluções não sejam, do meu ponto de vista, as melhores há que dar o benefício da dúvida e esperar que Crato faça um bom trabalho na Educação. Uma nota final para Francisco José Viegas: nem sempre concordo com ele politicamente mas reconheço-lhe muitas virtudes e uma competência extrema. Por isso, penso ser a escolha certa para o cargo de secretário de estado da Cultura.

Em jeito de conclusão: este é um governo jovem, curto - 11 ministros - em que muitos ministros estão responsáveis por várias áreas. Este facto faz com que a escolha dos secretários de estado seja fundamental para se perceber que rumo terão certas áreas como a Ciência e a Tecnologia, a Modernização Administrativa, do Ordenamento do Território ou das Obras Públicas.

junho 16, 2011

O 10 de Junho

As comemorações do último 10 de Junho ficam inevitavelmente ligadas aos discursos de Cavaco Silva e António Barreto.

Começando por este último, tornou-se insuportável a arrogância intelectual com que Barreto nos brinda constantemente. Não sei se será influência de Filomena Mónica, se a vaidade por ter feito uns documentários interessantes, se o cargo que ocupa no Pingo Doce. O que é facto é que de há uns tempos para cá este sociólogo tem oferecido ao país várias missas, todas elas com o mesmo tom: eu sou óptimo, o país está de rastos, eu tenho a solução, ouvi e calai que não há remédio. O problema é que os media adoptaram Barreto como o grande senador da coisa pública e, quase todos os meses, levamos com uma entrevista-diagnóstico de Barreto. Desta vez, trouxe-nos o tema da revisão constitucional e a necessidade de modernização do texto.

Quanto a Cavaco, passa-se uma coisa semelhante: já não há pachorra para ouvir a criatura falar da agricultura, do mar e da necessidade dos jovens investirem no campo e para olharem para os sacrifícios do interior como um exemplo de superação. Desta vez transformou as suas preocupações em discurso oficial mas é preciso não ter nenhuma vergonha na cara para Cavaco afirmar o que diz. É preciso relembrar que ele foi 1º ministro, com maioria absoluta durante 10 anos, no tempo em que se reformou por completo a agricultura e as pescas portuguesas? Que os resultados de hoje se devem às suas políticas? Esta amnésia colectiva sobre as responsabilidades dos políticos que mais responsabilidades têm no estado a que isto chegou - Cavaco e Soares, à cabeça - chega a ser deprimente. Ou será que Cavaco enquanto presidente da República não tem nenhuma responsabilidade na crise económica e financeira do país? Pois, só lá está desde 2006.

Um país que tem em Cavaco e Barreto as suas duas maiores figuras para discursar num 10 de Junho mergulhado numa crise social, económica e financeira só pode temer.

junho 12, 2011

O erro do Bloco

Depois dos resultados eleitorais, tem havido um debate muito acalorado sobre o péssimo resultado do Bloco. Dirigentes, apoiantes e simpatizantes tentam encontrar explicações para a derrocada e vários aspectos têm sido apontados, desde o apoio a Manuel Alegre até à moção de censura, passando pelo voto útil e pela não reunião com a troika.

Olhando para a actuação do Bloco nos últimos meses, não é difícil dizer que raramente os seus dirigentes tenham acertado uma iniciativa política. Falta é perceber por que razão Louçã e companhia seguiram este rumo. Pela minha parte, que votei neste partido nas duas últimas eleições, a explicação é simples: o Bloco não conhece o seu eleitorado.

Se o Bloco é um conjunto heterogéneo de correntes de esquerda, o eleitorado do Bloco é tudo menos homogéneo. Engane-se quem pensa que em 2009 o Bloco teve 10% de votos de esquerda ou, quanto muito, de centro-esquerda. Os eleitores do Bloco correspondem bem ao eleitorado português: pouco enraizado e volátil, quer inter-blocos quer intra-blocos. Ou seja, o crescimento do Bloco, com vitórias do PS, deram-se também à custa de muitos votos de um eleitorado urbano algo liberal - para não dizer de direita - que se revia nalgumas bandeiras do Bloco e, porque não, no poder de confronto de Francisco Louçã.

O erro do Bloco, portanto, foi não perceber quem é que andava a votar em si - iludindo-se na existência de tantos esquerdistas - e, por isso, não corresponder a sua acção política com o que pretendiam muitos dos seus eleitores: um partido de confronto político mas capaz de assumir as suas responsabilidades com a finalidade de implementar grandes bandeiras do seu programa.

Mesmo assim, eu votei Bloco. Porque acredito que o discurso deste partido é realista e é o que apresenta as melhores soluções para o país. Noutro contexto, poderia ter castigado o partido em que votei e que me defraudou bastante as expectativas. Foi o que fizeram muitos dos seus eleitores. O voto útil, que também o houve, está um pouco sobrevalorizado.

Duas semanas após as legislativas de 2009 houve eleições autárquicas. Os resultados do Bloco foram mais que desastrosos, demonstrando bem a volatilidade do seu eleitorado e de que forma é que não o tinha seguro, castigando-o por péssimas estratégias autárquicas. Foi nessa altura que afirmei aqui que a saída de Louçã poderia ser um bom sinal para muito do eleitorado que votou no Bloco, demonstrando uma rotatividade e um saudável debate interno dentro do partido. Ficando preso a Louçã e ao seu núcleo duro na estratégia do simples protesto, o eleitorado depressa percebeu que talvez o Bloco não fosse capaz de representar uma esquerda responsável, longe do PCP e uma solução ao PS.

Um partido que apenas conhece os seus militantes, ainda por cima poucos, e que não percebe quem é que anda a votar em si não pode ter bons resultados.